dons4 III. O PROPÓSITO E O USO DOS DONS ESPIRITUAIS NAS CARTAS PAULINAS
Depois desta exaustiva análise de cada um dos dons espirituais nas cartas de Paulo, cabe-nos analisar brevemente a visão geral do apóstolo concernente ao propósito no uso dos dons na igreja local. Precisamos inicialmente afirmar que os dons são distribuídos segundo a vontade soberana do Espírito Santo de Deus, e não conforme a busca , o querer, ou a oração de cada cristão : “Mas, um só e mesmo Espírito realiza todas estas coisas, distribuindo-as, como lhe apraz, a cada um, individualmente.”(I Coríntios 12.11). Depois precisamos entender que nenhum crente tem todos os dons, e que nenhum Dom está presente em todos os crentes: “Porventura são todos apóstolos? São todos mestres ? ou operadores de milagres ? Têm todos dons de curar ? falam todos em outras línguas ? interpretam-nas todos ? “(I Coríntios 12.29,30). Além disso, nem todos os dons possuem aspectos miraculosos ou sobrenaturais, parecendo muito mais com aptidões naturais do que necessariamente com carismas do Espírito : Ensino, exortação, liderança, contribuição, hospitalidade, serviço, misericórdia. Com isso, não estou negando que sejam carismas, antes procuro contradizer a idéia generalizada de que Dom espiritual é necessariamente línguas, profecia, milagres e curas. Também é importante não esquecermos a enorme polêmica que gira em torno da permanência destes quatro dons mencionados. Neste trabalho procurei mostrar imparcialidade, a fim de poder examinar sem preconceitos a exposição paulina. Entretanto, precisamos deixar duas coisas como estabelecidas: Primeiramente, Deus é soberano em seu modo de agir. Não cabendo a nós determinar-lhe limites para sua atuação. Neste aspecto, Ele pode manter em exercício todos os dons espirituais se isto estiver de acordo com o seu propósito.
Em segundo lugar, é preciso que entendamos também, que Deus não está obrigado a preservar a manifestação de qualquer Dom espiritual, pois da mesma forma, Ele é soberano, e portanto não cabe a nós dizer o que Ele deve ou não fazer. A questão então é : O Novo Testamento fala a respeito da permanência dos dons ? A passagem frequentemente citada de I Coríntios 13, não pode nos ajudar a pôr fim à esta polêmica. Lá, Paulo fala que as profecias desaparecerão, as línguas cessarão e a ciência passará (13.8). Estes três dons são maneiras de conhecimento parcial dos mistérios de Deus (13.9). O apóstolo aguardava o perfeito, pois nesse dia todo o conhecimento parcial seria aniquilado (13.10). Parece bastante claro que isso se daria, no pensamento do apóstolo, quando viesse a perfeição (13.10), ora essa perfeição só acontecerá quando estivermos “face a face”. Esta pode ser uma referência à PAROUSÍA de Cristo ou à aniquilação da imperfeição com a morte (II Coríntios 5.6-8).
Fica difícil pensarmos neste perfeito como sendo o CÂNON das escrituras do Novo Testamento, visto que nosso conhecimento não deixou de ser parcial, nem tampouco somos mais adultos do que o apóstolo Paulo o foi. Contudo, como afirma CHAMPLIN : “Os dons podem existir, então, até lá (até a parousia), mas isto não quer dizer que realmente existem.”. Precisamos analisar os dons à luz das Escrituras, e não o contrário. Existem instruções bíblicas para o exercício dos dons, e não podemos fazer da experiência nossa regra de fé e prática. Por exemplo, os dons de apóstolo e profeta são apresentados por Paulo como um fundamento (alicerce) do edifício da igreja em Efésios 2.20. O fundamento é a primeira parte numa obra de edificação, e ela não se repete mais na construção. Em I Coríntios 12.28, Paulo enfatiza isso dizendo que Deus colocou na igreja primeiramente apóstolos e profetas. Esta afirmação também reforça esta suposição de que pelo menos estes dois dons já não foram mais concedidos, pelo menos da mesma maneira que antes. Embora ,em certo sentido o cristão ainda hoje possa ser enviado com a missão de plantar igrejas ou profetize (anuncie a mensagem do Senhor). Mas, estes dons não possuem a mesma significação e intensidade da era apostólica. Precisamos, portanto, nem limitar o Senhor, nem tampouco obrigá-lo a repetir os carismas presentes na igreja primitiva. Ainda, devemos destacar que os dons foram dados “visando um fim proveitoso”(I Coríntios 12.7), ou em outras traduções “para o que for útil”. Este proveito ou utilidade não deve ser entendida como algo útil para o indivíduo, mas como útil para o funcionamento e a edificação do Corpo de Cristo(Romanos 12.3-5; I Coríntios 12.12,14,18,27,28; Efésios 4.12).
Finalmente, Paulo afirma que todos os dons espirituais só se entendem como carismas a partir da perspectiva do amor cristão, que é o maior entre todos os dons, sendo também o único que permenecerá mesmo na eternidade (I Coríntios 13). Cada um dos dons são formas variadas de expressar este amor de Deus. “Não devemos Ter necessidade de escolher entre o amor e os dons, porque Deus quis que eles andassem juntos.”(60).
Nesta monografia, pudemos estudar uma questão que muitas vezes tem sido fruto de intensa discussão, e não raramente tem causado polêmica. Esta discussão tem se aprofundado, especialmente no que diz respeito aos dons que estão revestidos de um caráter mais miraculoso. Se bem que, cada Dom traz em si a marca do sobrenatural, mesmo aqueles que não o aparentam como: Ensino, Hospitalidade, Contribuição, etc. Em cada Dom há a marca da ação sobrenatural e soberana do Espírito de Deus, o qual distribui os dons como lhe apraz(I Coríntios 12.11)
NOTAS DE REFERÊNCIA GINGRICH, F.W. & DANKER, F.W. Léxico do Novo Testamento Grego/Português, p.387. CRANE, James D. O Espírito Santo na experiência cristã, p.54. ELWELL, W.A. (Ed). Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã, Vol 1, p.494 DOUGLAS, J.D. (Ed). O Novo Dicionário da Bíblia, Vol 1, p.444. ELWELL, W.A. (Ed), p.494. LIMA, Delcyr de S. O Pentecoste e o Dom de Línguas, p.100. STOTT, John R.W., Batismo e Plenitude do Espírito Santo, p.65. CRANE, James D., p.69. HARBIN, Byron. O Espírito Santo: Na Bíblia, na história e na igreja, p.155. KORNFIELD, David. Desenvolvendo dons espirituais e equipes de ministério, p.29. STOTT, John R.W., p.64. CRANE, James D., p.68. Vide lista de livros da bibliografia deste trabalho. HARBIN, Byron, p.157. WAGNER, C.Peter., Descubra seus dons espirituais, p.59. KORNFIELD, David., p.23-25. OLIVETTI, Odayr., Dente de ouro ou a cidade de ouro ?, p.96. Ibid., 97. KORNFIELD, David., p.24. CHAMPLIN, R.N., O Novo Testamento interpretado: versículo por versículo, p.809. DOUGLAS, J.D.(Ed), p.445 ELWELL, W.A. (Ed), p.496. RYRIE, C.C., A Bíblia Anotada, p.1426. Bíblia de Jerusalém, p.324. CHAMPLIN, R.N., P.814 CRANE, James D., p.77. TAYLOR, W.C., Dicionário do Novo Testamento Grego, p.55. RIENECKER, F. & ROGERS, C., Chave linguística do Novo Testamento Grego, p.277. CHAMPLIN, R.N., p. 814. DOUGLAS, J.D.(Ed), p.445. ELWELL, W.A. (Ed), p.497. CHAMPLIN, R.N., p.814. TAYLOR, W.C., p.161. CHAMPLIN, R.N., p.815 ELWELL, W.A.(Ed), p.497 RIENECKER, F. & ROGERS, C., p.277. Ibid., p.278. TAYLOR, W.C., p.185. GINGRICH, F.W. & DANKER, F.W., p.70. TAYLOR, W.C., p.71. ELWELL, W.A.(Ed)., p.498. CRANE, James D., p.80. Ibid., p.82. RIENECKER, F. & ROGERS, C., p.317. BROWN, Colin (Ed)., Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento, p.581. TAYLOR, W.C., P.106. Bíblia de Jerusalém, p.108. ; CHAMPLIN, R.N., p.804; GABEL , J.B. & WHEELER, C.B., A Bíblia como literatura, p.176.; GUNDRY, R.H., Panorama do Novo Testamento, p.88; HALE, B.D., Introdução ao estudo do Novo Testamento, p.79. MCDOWELL, J. & STEWART, D., Razões para os céticos considerarem o cristianismo, p.40 ss. RYRIE, C.C., p.1265. TAYLOR, W.C., p.49; GRINGRICH, F.W. & DANKER, F.W., p.47. RYRIE, C.C., p. 878, 1450. STOTT, J.R.W., p.73. CRANE, James D., p.97. GINGRICH, F.W. & DANKER, F.W., p.41. Ibid., p.87. CRANE, James D., p.101. GINGRICH, F.W. & DANKER, F.W., 83. RYRIE, C.C., p.1518. CHAMPLIN, R.N., p.211. STOTT, J.R.W., p.85.
BIBLIOGRAFIA
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BÍBLIAS
1. A BÍBLIA ANOTADA, São Paulo : Ed.Mundo Cristão, 1994. A BÍBLIA SAGRADA, Rio de Janeiro: Alfalit Brasil, 1996. A BÍBLIA DE JERUSALÉM, São Paulo : Paulinas, 1992. A BÍBLIA NA LINGUAGEM DE HOJE, São Paulo: Paulinas, 1990. THE GREEK NEW TESTAMENT, United Bible Societies, 1985. Voltar ao índice
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