A BANDEIRA DO BRASIL

 

Ananias S. Leitão

 

Quando vires essa bandeira,

No topo daquele mastro,

Bailando ao vento da nossa terra,

Ouvi o que ela canta

Do fundo de suas dobras:

 

- Eu te abençôo, Terra de Santa Cruz,

Pelos montes verde-escuros,

Que brotam do chão florido...

Pelos campos verdejantes

Onde o gado sonolento

Busca vida sem ter pressa...

Pelos rios caudalosos

Com peixes gordos saltando;

Pelas donas lavadeiras, morenas

Do sol ardente, que lavam roupa,

Cantando, à beira dos igarapés;

 

Eu te abençôo, ainda, Terra dos meus amores,

Pelo chão sagrado e rico,

Que se abre ao lavrador

Produzindo pão e riqueza

A quem fundo vai ao chão;

Ah! os mares dos jangadeiros,

Que se joga manso às praias

Repletas moças nuas

Amando sem preconceitos;

 

Eu te abençôo, terra dos filhos meus,

Dos filhos da minha gente,

Cantando ciranda, descalços,

Pulando amarelinha no quintal

De chão batido, do modesto, mas querido,

De paredes azul e branca, do saudoso grupo escolar.

Ah! dourados laranjais, eu te canto nesta hora,

 

Cana, café, soja e coco são riquezas,

Que da terra saltam logo, reluzentes

P'ro bolso de quem plantou ...

 

Quando vires esta bandeira,

No topo daquele mastro,

Bailando ao vento da nossa terra,

Ouvi o que ela canta

Do fundo de suas dobras:

 

- Eu te venero, Terra de Santa Cruz,

Pelo sangue derramado,

Em busca da liberdade

Dos filhos que aqui sonharam;

O sangue de Pernambuco,

Tingindo de rubro o chão,

Buscou bem cedo o sonho

Da nossa independência

Tão perto de suas mãos.

Paraíba, Ceará, Rio Grande do Norte;

Eles se fazem presente

No Grande chamado da Pátria;

Bahia, Rio e Minas não deixaram

De doar boa parte do seu sangue,

Na busca da liberdade,

De uma terra muito forte

Pronta para despertar.

De Norte a Sul soluçaram...

De Norte a Sul responderam

Vozes de "Viva a Pátria"

E mais vozes de: "- Abaixo a tirania!"

E os corpos forraram a relva

E as caatingas, também,

E nas esquinas traiçoeiras

Da rua dos Latoeiros

Caíram de pé os gigantes,

A Traição venceu outra vez...

 

Eu te venero, ó Pátria,

Pelo sangue derramado de Joana Angélica,

Frei Caneca, Tiradentes, Canudos,

Maria Quitéria, Garibaldi e muitos outros,

Que nas terras brasileiras

Misturaram uns aos outros,

Formando um sangue só!

Oh! terra adorada, oficina de Heróis,

De joelhos te saúdo, por tudo que hoje és.

 

Quando vires esta bandeira,

No topo daquele mastro,

Bailando ao vento gostoso,

Da terra, que te v1u nascer,

Ouvi o que ela canta

Do fundo de suas dobras:

 

- Eu te bendigo, ó Pátria,

Do sonho dos que trabalham,

Na enxada, no arado

Desbravando o fértil chão,

Buscando no ventre da terra

O que semeou bem cedinho,

Com o sol, ainda, dormindo;

E logo à mesa, servindo

De gostosa refeição.

Nos rios o garimpeiro, sonhando,

Traz na batéia um punhado

De gemas de esperanças,

Que ali se escondem.

Canta o malho na bigorna,

Canta o barqueiro, pescando,

Cantam o Hino do Progresso;

No Salão da nova fábrica

Na mão do operário livre,

A máquina, que faz riqueza.

 

Eu te bem digo, ó Pátria,

seio de amor e carinho,

Que abraça o estrangeiro suado,

Ao sol do hemisfério sul,

Que não discrimina, não odeia,

Só amor e riso tem,

Tem samba, tem luz, tem mulata,

Tem fé no templo cristão...

Tem fé ao som de atabaques,

Que vieram da velha África,

P'ra plantar suor e sangue,

E colher melado, café e filhos

Do branco, seu senhor...

 

Beijo teu solo, ó Pátria,

Por mãe-preta criadeira

De filhos de sinhazinha,

Com gesto de quem se doa.

 

Eu te bem digo, terra do meu Brasil,

Hospedeiro da Paz!

Hospedeiro do Amor!

 

Quando vires esta bandeira

No topo daquele mastro,

Bailando ao vento gostoso,

Da terra, que viu nascer,

Ouvi o que ela canta

Do fundo de suas dobra;

E ouvindo, ama esta Pátria,

Porque outra igual na existe,

Mesmo catando, cuidadoso,

Por toda parte do mundo.

 

 Poema em homenagem à Bandeira Brasileira, criado e apresentado pelo Ilustre Irmão Ananias S. Leitão, na Sessão Magna Branca Comemorativa da Proclamação da República e em Homenagem ao Dia da Bandeira, realizada em 13 de novembro de 1996, no Templo Nobre, do Palácio do Lavradio.