CARLOS GOMES
O Maestro Antônio CARLOS GOMES, é uma das maiores figuras da Música Latino-Americana, e o primeiro compositor brasileiro que obteve grande sucesso, primeiro na Itália e, depois, em toda a Europa. Nasceu em 11 de julho de 1836, neste ano portanto comemora-se o centissexagésimo aniversário do seu nascimento, na Cidade de Campinas, no Estado de São Paulo, filho de Manuel José Gomes, mestre de música na então Vila Real de Campinas, com quem Carlos Gomes, ainda menino, iniciou-se na arte musical. Até pouco mais de 20 anos, junto com seu irmão Manuel de Sant'Ana Gomes, realizou festivais e concertos em sua cidade natal. Por esta época, já compunha músicas religiosas, fantasias e romances, desta época de sua juventude, destacamos a canção romântica "Quem Sabe?".
QUEM SABE?
MODINHA
Poesia: Dr. F. L. BITTENCOURT SAMPAIO
Música: A. CARLOS GOMES
Tão longe, de mim distante,
Onde irá, onde irá teu pensamento!
Tão longe, de mim distante,
Onde irá, onde irá teu pensamento!
Quisera saber agora, quisera saber agora,
Se esqueceste, se esqueceste
Se esqueceste o juramento.
Quem sabe, se és constante
Se ainda é meu, teu pensamento!
Minha alma toda devora
Da saudade, da saudade agro tormento!
Tão longe de mim distante,
Onde irá, onde irá teu pensamento?
Quisera saber agora
Se esqueceste, se esqueceste o juramento!
Quem sabe, se és constante
Se ainda é meu, teu pensamento!
Minha alma toda devora
Da saudade agro tormento!
Vivendo de ti ausente
Ai! meu Deus, ai! meu Deus, quão amargo pranto!
Vivendo de ti ausente
Ai! meu Deus, ai! meu Deus, quão amargo pranto!
Suspiros angústia e dores,
Suspiros angústia e dores,
São as vozes, são as vozes do meu canto.
Quem sabe, pomba inocente,
Se também te corre o pranto!
Minha alma cheia de amores
Te entreguei, te entreguei já neste canto.
Vivendo de ti ausente
Ai! meu Deus, ai! meu Deus, quão amargo pranto!
Suspiros angústia e dores,
São as vozes, são as vozes do meu canto.
Quem sabe, pomba inocente,
Se também te corre o pranto!
Minha alma cheia de amores
Te entreguei já neste canto.
Em 1860, deixou São Paulo e veio ao Rio de Janeiro, com o objetivo de solicitar ao Imperador, D. Pedro II, os meios para ingressar no Imperial Conservatório de Música, hoje Escola Nacional de Música da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, dirigido na época pelo Maestro Francisco Manuel da Silva. Depois de um ano no Conservatório, montou sua primeira ópera "A Noite do Castelo", libreto (argumento ou letra da ação de uma ópera) de Fernando dos Reis, no Teatro da Ópera Nacional do Rio de Janeiro. Ainda no Brasil, em 1863, montou sua segunda ópera "Joana de Flandres", libreto de Salvador de Mendonça.
Devido ao seu grande talento, o Imperador enviou-o à Itália para estudar no Conservatório de Milano, onde se formou "maestro compositore" em 1866. Sua consagração aconteceu quatro anos depois, em 1870, com a ópera "O Guarani", libreto do poeta Antônio Scalvini, baseado no romance de José de Alencar. A ópera montada no Theatro La Scala de Milano, foi aplaudida pela crítica e pelo público e em várias versões tem sido montada nas principais salas de espetáculos do mundo. Autor de magistrais obras musicais, suas óperas principais são além de "O Guarani", "Fosca", "Maria de Tudor", "Salvador Rosa" e "O Escravo". O Maestro Antônio CARLOS GOMES morreu pobre, em 16 de setembro de 1896, sendo este ano, portanto, o centenário de sua morte. Apesar de sofrer duras campanhas por haver vivido na Itália, no fim de sua vida foi nomeado diretor do Conservatório do Pará, mas, já doente, não conseguiu elevar aquela escola musical ao padrão que desejava.
O Maçom Antônio CARLOS GOMES, foi iniciado, em 24 de julho de 1859, na Gr\
Ben\
e Gr\
Benf\
Loja "AMIZADE", fundada em 13 de maio de 1832, ao Oriente de São Paulo.
Eduardo Gomes de Souza
Grande Secretário de Orientação Ritualística

CARLOS GOMES
Solicitado o nosso concurso nesta Sessão, realizada para constituir-se parte das homenagens prestadas á memória de nosso Irmão Carlos Gomes, cujo aniversário de nascimento, ocorrido há cento e sessenta anos, aconteceu à onze de julho do corrente ano, não nos era possível esquivar-se, tendo em vista termos sido um dos idealizadores desta sucessão de eventos à memória de nosso Irmão. Não significa, entretanto, nosso assentimento ao honroso convite, o compromisso de apresentar-vos sua biografia, já sobejamente conhecida de todo brasileiro amante do seu pais e dos ilustres maçons aqui reunidos. Não são de certo muitas as fontes onde escolher informações biográficas do genial musico maçom. As que existem, porém, bastam o suficiente para instruir os que se interessam em conhecer, ainda mesmo nos seus mais pequenos detalhes, a vida intima do homem, sua índole, bem como o gênio do maior compositor de musica dramática, não somente do Brasil, mas ainda das Américas; o artista brasileiro que mais relevo adquiriu no quadro dos nossos músicos eruditos e um dos que mais souberam dignificar a sua profissão.
Dessas fontes informativas devemos citar, como as mais preciosas, em nossa opinião, a Storia della Musica nel Brasile, por Vicenzo Cernicchiaro; Vida de Carlos Gomes, por Ítala Gomes Vaz de Carvalho, filha do ilustre Irmão; e Carlos Gomes, Brasileiro e Patriota, pelo Prof. Roberto Seidl. Não precisamos de as buscar profundamente nesse nosso trabalho. Já que a biografia do valoroso compositor brasileiro não é, além de tudo, tarefa para se acomodar ajustadamente aos limites de uma Sessão Maçônica, embora de grande proporções, como esta. Será, pois, reduzida a nossa incumbência. Nesta nossa fala, procuraremos apontar alguns fatos pitorescos, colhidos aqui e ali, a esmo e talvez imperfeitos, mais do homem e do gênio, do que verdadeiramente do musico.
Carlos Gomes, Nho Tônico, como era conhecido em Campinas, não tinha outras ambições que não as do reconhecimento público, e este só lhe adviria das suas operas, sempre ricas do mais variado colorido que lhe podia oferecer a sua inspiração. A ambição do dinheiro nunca o preocupou. Desejava possui-lo para superar as vicissitudes da vida, ou para satisfazer-lhe um desejo qualquer. Conta Arthur Imbassahy, que certa feita, na Bahia, ao visitar o Maestro pela manhã, encontrou na sala de jantar da casa duas grandes araras de cores flamejante. Carlos Gomes as tinha comprado por 50$000 (cinqüenta contos de reis) cada uma, o que, naquela época, era uma quantia bastante ponderável, para ser empregada numa ligeira diversão. Revela Imbassahy, que o Maestro estava visivelmente satisfeito com a aquisição das aves, apesar do preço, que aliás o grande musico julgava até barato, e do alarido provocado pelas araras, que ora berravam em solo, ora em dueto, atroando os ares. Mas o Maestro, que se mostrava jubiloso e encantado com o variegado das cores das penas das aves, não se perturbava com a algazarra. Tendo inclusive, em um momento em que as duas gritavam impiedosamente, dito prazenteiro: - "gosto disso! Pareço até me achar no meio selvagem das nossas matas virgens". Porem conta Imbassahy, que no dia seguinte, quando retornou à casa do Maestro, já não mais as encontrou, e antes que ele desse sinal de ter notado a ausência das aves, o próprio Carlos Gomes lhe perguntou: - "que é das araras?" - e ele mesmo deu a resposta: - "não pude mais com aquela berraria. Lá estão no seu lugar, no quintal. Vou dar liberdade aos bichos". E conta que de fato nunca mais as viu nem ouviu e os 100$000 (cem contos de reis) fantasiados de araras desapareceram junto com as aves.
Nosso Irmão possuía um espirito alegre, brincalhão, gostava de fazer blagues com seus amigos, de Arthur Imbassahy temos ainda outro relato. Estava Carlos Gomes sempre retardando o momento de iniciar um Hino a Camões que lhe haviam encomendado. Conta Imbassahy, que como gozava de sua intimidade, estava sempre a lembrar-lhe o compromisso, sendo que em determinado dia declarou, o Maestro, de modo resoluto que, no dia seguinte quando lá fosse, encontraria principiada a partitura. No dia seguinte lá chegou, encontrou o compositor em pé à porta, roupa caseira e de chinelos, uns chinelos sempre maiores do que os seus pés, segundo seu costume. Apenas trocaram os cumprimentos amigáveis costumeiros, e o Maestro declarou já ter dado começo ao trabalho, como havia prometido e que ele entrasse e fosse lá ver. Imbassahy, na mesa só encontrou um grande caderno de papel de partitura, tendo escritos na primeira folha, na ordem comum, os nomes dos instrumentos de uma orquestra. Mais nada. Nota de musica, nenhuma. Voltou e já o encontrou com cara de riso. - "Não vi nada", disse-lhe e indagou: - "Onde está o Hino?". - "Que Hino?" - perguntou-lhe Carlos Gomes a rir. - "O que você prometeu ontem estar hoje começado". - "E não comecei a partitura? Prometi e cumpri". - "Qual partitura! O que lá vi foi apenas uma folha de musica com os nomes dos instrumentos de orquestra". - "Pois isso é o Hino já principiado. Faltam somente as notas. Não se começa nenhuma partitura, sem se escrever primeiro aquilo que você viu". Fez essa pilhéria, mas nesse mesmo dia começou ele a escrever a musica.
Ainda sobre seu espirito alegre, conta o Maestro Francisco Braga, que estava na Europa e resolveu fazer uma visita a Carlos Gomes, em Milano. Lá chegando, encontrou ao piano, um piano de armário de descomunal altura, o nosso Irmão, que ali se achava às voltas com uma composição de sua lavra. Era uma Marcha Nupcial que ele havia escrito para piano a quatro mãos, e que naquele momento retocava, corrigia, aperfeiçoava para remete-la para o Brasil, se não há erro de memória de Braga. Na sala estavam alguns amigos musicistas que conversavam sem que com isso se incomodasse o compositor. Francisco Braga foi recebido com um efusivo abraço pelo Maestro, e logo convidado por ele para executarem juntos a referida Marcha. O visitante, medindo seus recursos pianisticos naquele inesperado apuro, quis a principio resistir, tanto mais que não estavam os dois a sós; havia ali uma platéia desconhecida para ele e cujas indulgencias não sabia se poderia contar. Mas, em vista de amável insistência do compositor, anuiu, e foi se dirigindo para o lado esquerdo do teclado. - "Nada disso, meu caro, sente-se aqui à minha direita e tome conta da primeira mão, que quero verificar ainda umas harmonias do acompanhamento", disse Carlos Gomes com seu natural bom humor. Os outros visitantes continuaram nas suas palestras, sem se preocuparem com os dois. Francisco Braga, tomando conta da primeira mão, desobrigou-se da tarefa como pode. Terminada a execução, Carlos Gomes levanta-se rápido, com ares de satisfação, e dirigindo-se aos outros amigos, declara: - "Foi hoje um dos dias mais felizes de minha vida. Encontrei finalmente um pianista pior do que eu". E apontou, em meio a estrepitosa gargalhada, para Francisco Braga, que ainda se achava ao piano sob o peso da responsabilidade vencida.
Outra qualidade de nosso Irmão era a humildade, conta Imbassahy, que numa tarde em que o Maestro ensaiava o Guarany, recém composto, o regisseur veio a ele num intervalo e disse-lhe: - "Maestro, in questa vostra opera manca una cosa, un duetto d'amore". - De fato deu conta que não havia o dueto. O do Tenor e Soprano, no 3º ato, Perchè di meste lagrime não é verdadeiramente um dueto de amor. Vendo que a ponderação era razoável, então escreveu o dueto Sento una forza indomita, e o encaixou no final do 1º ato.
Conta também Cernicchiaro, em sua excelente obra Storia della Musica nel Brasile, que não figurava na mesma Opera a Invocazione, no 3º ato. Teria sido o barítono Maurel, um magnifico artista francês e interprete do papel de Cacico, que pedira ao Maestro que lhe escrevesse um trecho onde ele tivesse mais evidencia e pudesse mostrar os recursos de sua voz. Carlos Gomes, gentilmente, atendeu ao pedido do barítono; e assim o Maestro enriqueceu seu trabalho com mais esta bela jóia, a Invocazione; o barítono teve oportunidade de colher aplausos com a demonstração dos seus predicados artísticos; e o publico pode gozar nessas inspiradas páginas, inolvidáveis momentos de prazer espiritual.
Outra demonstração das qualidades de coração, que tanto faziam querido nosso Irmão, era o seu espirito generoso e sem vaidades, coisa que pouca gente hoje reconhece, e que estão registrados nos dois seguintes casos, não raros em seu talento superior. Em conversa com um grupo de amigos, certa feita, eram tecidos comentários desairosos referentes a uma opera medíocre de um compositor fraco, o Maestro, em um tom de voz que não podia deixar a menor dúvida sobre sua sinceridade, afirmou: - "olhem! quem quer que escreva uma opera, por menos que ela valha, revela sempre merecimento. Este pelo menos é um bom musico, conhece seu oficio e é um trabalhador". A segunda, na Bahia, uma companhia lírica italiana, preparava-se para levar à cena o Salvador Rosa. Arthur Imbassahy e nosso Maestro foram ao Theatro São João, afim de assistirem ao ensaio da Opera; ao lá chegarem estudava-se o dueto de tenor e soprano, do 2º ato, Di stupore ho l'alma ripiena, e era dado inicio ao Andante, sendo interrompido o trecho, pelo Maestro Pomé, diretor da orquestra da companhia, que se achava ensaiando ao piano, a soprano dramático Emma Dotti e o tenor Dante del Pappa, no preparo da partitura; com a interrupção Carlos Gomes, pediu ao tenor que o ouvisse primeiro, antes de tentar outra vez. Foi um grande prazer para todos aquela espontânea lição, já que era uma delicia ouvi-lo cantar. Terminada a agradável demonstração pratica, e depois dos aplausos, o Maestro para grande surpresa e estupefação de todos, pediu que o tenor cantasse o dueto como ele sentira e o compreendera. Começou então Del Pappa a cantar e todos a ficar, até certo ponto receosos do insucesso, apesar da confiança de todos nas qualidades do talento do artista. No fim de alguns compassos já era visível estar agradando o Maestro; no momento da entrada no terceiro verso, o tenor fez uma rápida parada, e num arroubo de lirismo apaixonado, como que absorvido por um amor abrasante, exclama sonoramente: - "Quando radiante di celeste riso". Carlos Gomes, não se contendo, dá um bravo! de incoercível entusiasmo ao cantor; nosso despretensioso Irmão tinha achado mais feliz do que a sua a interpretação dada pelo talentoso tenor. Perguntado sobre as qualidades do tenor, teria respondido: - "Se fosse ele quem estreasse no papel, quando pela primeira vez se cantou o Salvador Rosa no Carlo-Felice, muito mais garantido seria o futuro da opera, apesar do extraordinário sucesso que ela ali alcançou".
Outra demonstração de humildade, foi dada em 1870, quando o Maestro trouxe o Guarany ao Brasil. Os estudantes de várias escolas civis e militares promoveram uma grandiosa festividade, a que com entusiasmo se associou toda a população. Nos braços do povo e dos estudantes foi levado, através da cidade, até ao Engenho Velho, onde foi se hospedar em casa do seu grande amigo e admirador Francisco Castellões. Entre as muitas manifestações que lhe eram feitas nesse trajeto, o esperava no Largo de São Francisco de Paula, um coreto, em que uma orquestra tocava à sua passagem, um trecho do Guarany. Carlos Gomes reconheceu o regente, um antigo condiscípulo do Conservatório de Musica, o inspirado compositor Henrique de Mesquita, que com ele, na época da opera nacional, interessante movimento para criação do Theatro de Opera Nacional, alcançara grande sucesso, subiu ao coreto, e num dos momentos mais tocante, abraçou demoradamente seu antigo companheiro.
Conta-se também, que teria sido questionado o que preferia, ser o autor da Fosca ou do Rigoletto; ao que teria respondido: - "quer saber de uma coisa? para se fazer um Rigoletto é preciso muito suor"; o nosso Maestro apreciava muito a imortal opera do divino Verdi, ele elogiava e exaltava a energia e propriedade da frase melódica dessa bela musica, assim como o inspirado talento que criou à sua harmonização, e era capaz de citar cenas, recitando trechos e passagens, numa surpreendente humildade, que só os grandes gênios são capazes.
Carlos Gomes era também um grande distraído. Como exemplo temos o seguinte fato: ensaiava-se na Bahia o Salvador Rosa. Nosso Irmão é quem dirigia a orquestra. O ensaio ia mais ou menos regular, dado o reduzido número dos músicos, quando, num dado momento, um trompista ataca uma nota completamente fora do acorde. O Maestro pára súbito a orquestra e pergunta ao professor que nota havia dado. O instrumentista responde e o Maestro pergunta-lhe ainda: - "com que volta está tocando?"
- "Com volta de Ré," - diz o trompista.
Não fosse Carlos Gomes tão distraído, e resolveria rapidamente a questão. Bastava ter ele a certeza da volta que o professor empregara, para logo saber qual a nota que devia estar escrita, principalmente tratando-se de musica sua e estando ele com a respectiva partitura. Mas ele, ouvida a resposta do trompista, pensa um pouco e repete o trecho para acerta-lo.
Chegando ao mesmo ponto, o professor faz soar a nota intolerável. O nosso Irmão faz parar novamente a orquestra e torna a fazer a mesma pergunta ao músico, que repete a resposta.
- "Mas ai está escrito volta de Ré?" - insiste o regente.
- "Está, sim senhor," - responde o trompista, levantando-se com a musica na mão, e com o dedo apontando, ainda de longe, o Ré indicativo da volta questionada.
- "Não precisa," - diz Carlos Gomes. - "Pode ficar ai."
Fez-se silencio geral, ouvindo-se apenas a voz do autor da partitura a falar sussurrando e perguntando a si mesmo: - "Volta de Ré?"
- "Volta de Ré? - mas eu não me lembro de a ter empregado senão uma única vez, na Fosca. Até não gosto dessa volta." E, depois de uma pequena pausa: - "Bem! ... vamos mais uma vez," - adverte o Maestro, e repete-se toda aquela página.
No mesmo ponto o trompista ataca a mesma nota, que já se tornava um escândalo. Carlos Gomes faz silenciar mais uma vez a orquestra e pede, para verificar, a parte ao instrumentista, que a traz, apontando sempre com o dedo o tal Ré fatídico, ali escrito. O Maestro pega a partitura, examina a indicação, e, soltando uma das suas boas risadas, diz ao musico: - "Este Ré não está indicando volta nenhuma. É a deixa do barítono: - Di Napoli son Ré." De Nápoles sou Rei.
Riu-se também a orquestra. Só não riu o trompista, que tornou ao seu lugar um pouco atordoado.
Finalizando, gostaríamos de destacar a lealdade e a gratidão, outras duas qualidades de caráter de nosso Irmão. Convidado para escrever a musica do Hino da República, mediante o pagamento de 20$000 (vinte contos de réis), que lhe foram enviados, juntamente com o convite e a letra do novo hino, por intermédio de nosso consulado em Milano. Rejeitou o convite e os vinte contos de réis, que naquela oportunidade lhe seriam bastante úteis, pela lealdade e gratidão que ele achava que devia ao ex-Imperador e seu protetor, desde o início de sua carreira, D. Pedro II, que teria o enviado a Europa para estudar.
Nosso Irmão Carlos Gomes, morreu pobre, amparado por nosso Irmão Lauro Sodré, espírito lúcido e coração generoso, que então governava o Estado do Pará, e o acolheu ardorosamente, do modo mais cordial, e coube-lhe nomear o autor do Guarany, Diretor do Conservatório de Musica que ele deveria organizar em Belém. O Maestro, já muito enfermo, atacado por uma enfermidade que lhe consumia a vida, não perdeu tempo, apesar do estado debilitado em que se achava, partiu para a execução da missão que lhe havia sido confiada, e partiu para o Oriente Eterno, em meio a sua última tarefa, em 16 de setembro de 1896, portanto a cem anos.
Eduardo Gomes de Souza
CARLOS GOMES
O Maestro Antônio CARLOS GOMES, é uma das maiores figuras da Música Latino-Americana, e o primeiro compositor brasileiro que obteve grande sucesso, primeiro na Itália e, depois, em toda a Europa. Nasceu em 11 de julho de 1836, neste ano portanto comemora-se o centissexagésimo aniversário do seu nascimento, na Cidade de Campinas, no Estado de São Paulo, filho de Manuel José Gomes, mestre de música na então Vila Real de Campinas, com quem Carlos Gomes, ainda menino, iniciou-se na arte musical. Até pouco mais de 20 anos, junto com seu irmão Manuel de Sant'Ana Gomes, realizou festivais e concertos em sua cidade natal. Por esta época, já compunha músicas religiosas, fantasias e romances, desta época de sua juventude, destacamos a canção romântica "Quem Sabe?". Em 1860, deixou São Paulo e veio ao Rio de Janeiro, com o objetivo de solicitar ao Imperador, D. Pedro II, os meios para ingressar no Imperial Conservatório de Música, hoje Escola Nacional de Música da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, dirigido na época pelo Maestro Francisco Manuel da Silva. Depois de um ano no Conservatório, montou sua primeira ópera "A Noite do Castelo", libreto (argumento ou letra da ação de uma ópera) de Fernando dos Reis, no Teatro da Ópera Nacional do Rio de Janeiro. Ainda no Brasil, em 1863, montou sua segunda ópera "Joana de Flandres", libreto de Salvador de Mendonça. Devido ao seu grande talento, o Imperador enviou-o à Itália para estudar no Conservatório de Milano, onde se formou "maestro compositore" em 1866. Sua consagração aconteceu quatro anos depois, em 1870, com a ópera "O Guarani", libreto do poeta Antônio Scalvini, baseado no romance de José de Alencar. A ópera montada no Theatro La Scala de Milano, foi aplaudida pela crítica e pelo público e em várias versões tem sido montada nas principais salas de espetáculos do mundo. Autor de magistrais obras musicais, suas óperas principais são além de "O Guarani", "Fosca", "Maria de Tudor", "Salvador Rosa" e "O Escravo". O Maestro Antônio CARLOS GOMES morreu pobre, em 16 de setembro de 1896, sendo este ano, portanto, o centenário de sua morte. Apesar de sofrer duras campanhas por haver vivido na Itália, no fim de sua vida foi nomeado diretor do Conservatório do Pará, mas, já doente, não conseguiu elevar aquela escola musical ao padrão que desejava.
O Maçom Antônio CARLOS GOMES, viu a verdadeira luz, em 24 de julho de 1859, iniciado na Gr\
Ben\
e Gr\
Benf\
Loja "AMIZADE", fundada em 13 de maio de 1832, ao Oriente de São Paulo. Do balaustre da Sessão, destacamos o trecho transcrito da cópia do balaustre que se encontra na Biblioteca do G\
O\
B\
, no Palácio Maçônico do Lavradio: "É aberta a Loja em Grau de Aprendiz e com as formalidades de estilo por haver número suficiente de Irmãos. ... Achando-se na Câmara de Reflexões os profanos Antônio Carlos Gomes e José Pedro de Sant'Anna Gomes, aos quais haviam sido favoráveis os escrutínios, disposta a Loja em peso na iniciação dos mesmos, depois das provas e formalidades estabelecidas pelas Leis e usos Maçônicos foram iniciados, viram a luz, prestaram juramento, foram proclamados e tomaram assento no tomo da Coluna do Meio Dia. Estas brilhantes aquisições são aplaudidas, correspondidos os aplausos e não cobertos. ... .
O Grande Oriente do Estado do Rio de Janeiro se associa as homenagens prestadas, ao Ilustre Maçom e Grande Brasileiro, Maestro Antônio CARLOS GOMES.
Eduardo Gomes de Souza
Grande Secretário de Cultura e Educação
