DUQUE DE CAXIAS - O PACIFICADOR

Conhecer a história de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, é como se percorrêssemos passo a passo o desenrolar do Império.

Procuraremos como o objetivo principal mostrar o lado humano do magnânimo soldado que garantiu-lhe o mais importante de seus títulos, "O PACIFICADOR". Fora sempre intransigente com a desordem, enérgico com a rebeldia, conciliador nas negociações e humano no perdão.

Nascido fluminense, no Arraial de Porto da Estrela no dia 25 de agosto de 1803, o futuro Barão, Visconde, Conde, Marquês e Duque de Caxias, era descendente de família com vários integrantes dedicados à carreira militar, razão pela qual deu continuidade a essa tradição ingressando no Exército Brasileiro, em março de 1823 e galgando todos os postos de sua brilhante carreira militar, por merecimento.

Cumpre-nos exaltar esse grande líder, não por ter se dedicado tão intensamente as agruras da vida da caserna mas, principalmente, por ter em todos os momentos revelado as virtudes da lealdade, generosidade e espírito conciliador, mormente quando a força das causas lhe dava o direito de vencedor.

Para comprovarmos essa afirmativa basta citarmos algumas passagens, onde se evidenciam as qualidades de seu caráter, emergindo em toda a sua plenitude a exuberância de sua generosidade.

Durante a regência, desencadeia-se um dos episódios que marcariam a anarquia reinante em nosso País. O major Miguel de Frias, mediante um golpe de audácia, revolta parte da guarnição do Rio de Janeiro, chegando a proclamar a República do Brasil. O então major Luís Alves de Lima e Silva, comandante do corpo de municipais permanentes, consegue dominar a situação, tendo Miguel de Frias se ocultado em uma casa da rua do Areal. Informado por populares, Caxias entrou na casa, abriu um quarto fechado, percebendo que nele se encontrava o chefe da revolta, retirando-se sem pronunciar qualquer ordem, sem dizer uma palavra, diante do assombro de todos. Futuramente esse mesmo oficial viria a lutar ao lado de Caxias na epopéia dos Farrapos.

Rompe a Balaiada, Caxias age com presteza, energia e prudência, aplicando ainda suas qualidades como administrador, revelando-se um verdadeiro homem de Estado. Utilizou o indulto e a anistia para dividir e enfraquecer o adversário, ao mesmo tempo que empregou energia e força militar contra os que ainda se rebelavam. Seus méritos foram reconhecidos pelo governo que lhes conferiu o título de Barão de Caxias.

Por ocasião do movimento de rebeldia contra a Lei de reformas que dissolvia as câmaras, ocorrido em São Paulo, Caxias foi chamado pelo Ministro da Guerra, José Clemente Pereira, e recebeu a incumbência de debelar a rebelião. O Barão agiu com rapidez e surpreendeu as forças oposicionistas, ocupando sucessivamente várias cidades paulistas. Nove dias depois de ter saído do Rio, chegou a Sorocaba, onde foi recebido sob aclamação pelo povo. Tratou com respeito e dignidade seu principal adversário o padre Diogo Antônio Feijó, determinando que o oficial mais graduado sob seu comando acompanhasse o ex-regente, a salvo de qualquer insulto, até o local que lhe foi designado pelo presidente da província.

Estranho foram os desígnios do destino que envolveram numa intrincada teia os homens que tratavam da política. O Ministro da Justiça, do governo que combatera a Balaiada e ordenara a perseguição implacável aos rebeldes do Maranhão, fora preso pelo mesmo soldado que cumprira ordens semelhantes as que Feijó emanara.

Sucedeu-se a rebelião em Barbacena, quase que simultaneamente com a de São Paulo. Mais uma vez coube a Caxias sua pacificação. Chega a Ouro Preto e com rapidez sufoca a revolução. Alguns rebeldes ainda resistiram, mas somente após a batalha de Santa Luzia, a paz voltou a reinar em território mineiro; cabe ressaltar as qualidades de bravura, astúcia, percepção e conhecimento psicológico do glorioso soldado que, durante os combates, pressionado pelo inimigo, recuou, abandonando estrategicamente as elevações que lhe davam vantagem marcante.

Desta maneira o general ganhou o tempo necessário para que a coluna comandada por seu irmão, Coronel José Joaquim chegasse ao campo de batalha e desequilibrasse a balança em favor dos forças imperiais. Evidencia-se então sua magnitude para com os vencidos através do trecho do ofício enviado ao Brigadeiro Bento José Leite de Faria no qual faz a seguinte referencia: "Neste ofício ordeno ao tenente-coronel Marinho que tire as algemas dos prisioneiros e os entregue a sua guarda. Se por acaso fizer alguma objeção, prenda-o incontinente à minha ordem e conduza os presos a seu destino, procurando por todos meios trata-los bem."

Designado presidente da província do Rio Grande do Sul e comandante das forças lá estacionadas, confirmou suas qualidades de administrador invulgar e gênio militar, pacificando com extrema sensibilidade política, a brava província do Sul, que sofria há quase 10 anos os horrores de uma guerra civil fratricida.

Vale lembrar a profética advertência de Caxias, dirigida aos revolucionários: "Lembrai-vos que a poucos passos de vós está o inimigo de todos, um inimigo de raça e tradição. Não deve tardar o momento em que teremos que nos defrontar com os soldados de Rosas e Oribe; guardemos para então nossas espadas e nosso sangue. Veja que o estrangeiro exulta com essa triste guerra, com que nós mesmos nos enfraquecemos e destruímos. Abracemo-nos e unamo-nos para marchar, não peito a peito mas, ombro a ombro, em defesa da Pátria que é nossa mãe comum."

Caracterizou-se dessa maneira ter sido ele um instrumento da paz a serviço da unidade nacional.

Por ocasião da regência, nas lutas contra as rebeliões é que se ensaia o General e se consagra o Pacificador. O General soube ser forte para vencer e humano para perdoar. Atendendo a um comovente apelo do Imperador, assume pela terceira vez a presidência do Conselho e a chefia o ministério São João. Mais uma vez cumpriu seu destino como Pacificador, não pela espada mas, pela anistia que concede aos Bispos, encerrando a questão religiosa. O assunto era delicado, tendo o velho Duque enfrentado o próprio Imperador. O problema foi resolvido e a paz voltou a reinar no Império, graças a sua determinação de servir ao País e não aos caprichos de um monarca.

Em 7 de maio de 1880 falece aquele que se destacou pela coerência de atitudes, retidão de caráter, extrema lealdade ao País, desprendimento pessoal pelos bens materiais, generosidade com o vencido e o saber retirar-se do palco dos acontecimentos.

Caxias foi o império, tendo sua morte sentenciado o ocaso dessa fase da nossa história. A monarquia sucumbiu com ele.

Ao comemorarmos a data de seu nascimento meditemos sobre o exemplo deixado por esse ilustre brasileiro.

Citamos ainda para enfeixar este trabalho, o seguinte trecho de Affonso de Carvalho: "O conjunto das virtudes militares, morais e cívicas do Duque de Caxias - O PACIFICADOR - lhe dá o justo direito de ser considerado um dos mais perfeitos cidadãos da humanidade."

Ir. LUIZ CARLOS FERREIRA TINTA

Mestre Instalado - CIM 145.481

membro da Aug. e Resp. Loja Simb.

"O PACIFICADOR", N.º 2.199

 

C A X I A S

Anualmente no dia 25 de agosto a Maçonaria Brasileira reverencia a memória do Grão-Mestre Honorário do Grande Oriente do Brasil, 5o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e Aceito e Patrono do Exército Brasileiro, Marechal-de-Campo LUIZ ALVES DE LIMA E SILVA, Barão, Conde, Visconde, Marquês e Duque de Caxias.

Nascido à 25 de agosto de 1803, na Fazenda de São Paulo, Vila do Porto da Estrela, na Província de São Sebastião do Rio de Janeiro, filho do Marechal-de-Campo Francisco de Lima e Silva e de Dona Mariana Cândida de Oliveira Belo, Luiz Alves de Lima e Silva cedo demonstrou sua inclinação para as atividades militares, certamente herdada de sua família, de grandes e notáveis oficiais superiores.

Aos cinco anos iniciou sua carreira militar ao receber a estrela de Cadete, aos quatorze matriculou-se na Academia Real Militar, onde se formou aos dezoito, indo servir no Primeiro Batalhão de Fuzileiros, uma unidade de elite do Exército Real, como Alferes.

Dedicado, competente e patriota, em sua vida militar, vai de Alferes a Marechal-de-Campo, Comandante-em-Chefe das Forças de Operações na Guerra contra o Paraguai, galgando ainda o cargo de Ministro da Guerra.

Além de sua excepcional carreira militar, Luiz Alves de Lima e Silva destacou-se na vida política, tendo ocupado vários cargos legislativos (Senador e Deputado) e executivos (Presidente e Vice-Presidente de Províncias, Conselheiro e Presidente do Conselho de Ministros) no cenário político nacional.

Quanto a vida maçônica desse grande brasileiro, supõe-se que tenha sido iniciado, entre 30 de junho de 1841 e 17 de maio de 1842, na Loja Maçônica São Pedro de Alcântara, uma das Lojas do Grande Oriente Brasileiro do Passeio, do qual seu ex-comandante e amigo, o Conde de Lages, era o Grão-Mestre. Existe também a hipótese de sua iniciação ter ocorrido entre 01 de setembro de 1845 e 15 de junho de 1851, quando seu tio José Joaquim de Lima e Silva, Visconde de Magé, era o Grande Chanceler do Grande Oriente Brasileiro, no grão-mestrado do Senador Vergueiro.

Em 20 de março de 1847, o Conde de Lages, já no fim de sua vida dedicada a Maçonaria, teria nomeado o então Conde de Caxias, Grau 33, para o cargo de Lugar Tenente Comendador do Supremo Conselho do Brasil de Montezuma, em substituição ao Ir.'. Araújo Viana, Marquês de Sapucaí, com a finalidade de que Luiz Alves de Lima e Silva reorganizasse e restabelecesse a ordem naquele Alto Corpo, desorganizado pela prolongada doença do Conde de Lages, então 4o Soberano Grande Comendador daquele Supremo Conselho.

Em 22 de março de 1847, a fim de reestruturar e reorganizar o Grande Oriente que dava sustentação ao Supremo Conselho, teria o Conde de Caxias fundado um novo Grande Oriente, denominado Grande Oriente de Caxias, que foi composto inicialmente pelas Lojas Vinte e Três de Julho e Dous de Dezembro, às quais se juntaram, posteriormente, as Lojas União Escocesa e Triunfo do Brasil.

Em 09 de abril de 1847, teria o Conde de Caxias tomado posse na qualidade de 5o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e Aceito, legitimamente denominado de Supremo Conselho de Montezuma, e Grão-Mestre do Grande Oriente de Caxias, com o passamento ao Oriente Eterno, em 01 de abril, do Marquês de Lages, 4o Soberano Grande Comendador.

Em 17 de julho de 1849, através do documento que se encontra no Museu do Grande Oriente do Brasil, assinado pelo Conde de Caxias e pelo Grande Secretário do Sacro Império, Ir.'. Dr. Antônio José de Araújo, o Conde de Caxias autoriza o Conselheiro João Fernandes Tavares, Visconde de Ponte Ferreira, a tratar com o Senador Araújo Viana, Marquês de Sapucaí, da fusão do Supremo Conselho de Montezuma e do Grande Oriente de Caxias com o Grande Oriente do Brasil.

Em 1852, graças ao grandioso espírito pacificador de Luiz Alves de Lima e Silva, acontecia a unificação do Supremo Conselho de Montezuma, fundado em 12 de novembro de 1832, e do Grande Oriente de Caxias com o Grande Oriente do Brasil, fundidos os Corpos Simbólicos e Filosóficos, continuou no primeiro malhete do Grande Oriente do Brasil o Marquês de Abrantes, sendo o Conde de Caxias proclamado Grão-Mestre Honorário do Grande Oriente do Brasil, já que até 1854 continuou exercendo o cargo de Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e Aceito (Supremo Conselho de Montezuma).

Em 1869, o então Duque de Caxias, que continuava ativo no Grande Oriente do Brasil, fiel ao seu juramento maçônico, recebeu a missão de representar o Supremo Conselho da Inglaterra junto ao Grande Oriente do Brasil, missão que desempenhou até sua passagem ao Oriente Eterno.

Em 07 de maio de 1880, passou para o Oriente Eterno o Grão-Mestre Honorário do Grande Oriente do Brasil, 5o Soberano Grande Comendador do Supremo Conselho do Brasil para o Rito Escocês Antigo e Aceito (Montezuma), Marechal-de-Campo Luiz Alves de Lima e Silva, Duque de Caxias, Patrono do Exército Brasileiro.

Podem os IIr.'. assim observar que o grande Pacificador, que fundava Triângulos Maçônicos, para acabar com revoltas, transformando inimigos em amigos pelo Amor Fraternal, em paralelo a sua vida posta a serviço da Pátria, onde se destacou como o maior vulto do Exército Brasileiro, também desempenhou na Maçonaria o papel de Pacificador, daí a justa homenagem do seu título na Maçonaria de O PACIFICADOR.

Eduardo Gomes de Souza

Gr.'. Secr.'. de Orientação Ritualística