Reformando o Mundo com Comenius

Este texto é um aprofundamento (meio cru) de leitura realizado para a disciplina Didática A do curso de Licenciatura em Matemática da UFPR, ministrado pela profª Joana em 1997. Os educadores o amarão!

Introdução

1. Objetivo deste Trabalho

O objetivo deste é trazer a proposta de didática desenvolvida por Comenius, bem como sua gênese e interação com a realidade, ou seja, seus desafios ao colocá-la na prática. Poderemos voltar então ao nosso tempo e fazer o mesmo com nossa atual filosofia e prática de ensino e, observando a contextualização, aplicar as lições aprendidas com Comenius.

Este trabalho foi baseado no livro Comenius - ou da Arte de Ensinar Tudo a Todos, tese defendida por João Luiz Gasparin e publicada em 1994 em Campinas-SP pela editora Papirus (coleção Magistério, formação e trabalho pedagógico).

Levaremos em conta que para entendermos a obra didática dos homens - em particular, a produção deste revolucionário educador do início do século XVII -, não podemos desvinculá-la do contexto histórico-cultural por ele vivenciado. Não podemos analisar somente suas obras, pondo suas idéias de lado. Não podemos desvincular o que uma pessoa faz, da sua filosofia de vida, seus ideais, sonhos, frustrações e experiências.

2. Sobre Didática A Didática sempre existiu na história dos homens, porque sempre se ensinou e sempre se aprendeu.

Os princípios didático-pedagógicos são definidos pela realidade, e devem ser dinâmicos. É impossível usar mecanicamente em nossa realidade princípios desenvolvidos para outra realidade. O que podemos, sim, é criticar a gênese destes naquela realidade, para então, firmados em nossa realidade, desenvolvermos princípios mais maduros.

3. Importância de Comenius Comenius coloca a Didática em dimensões muito maiores que as de sua época, desenvolvidas por Ratke e pelos jesuítas, na Ratio Studiorum.

Ele foi ousado propondo:

- ensinar tudo a todos, quando o ensino era privilégio de poucos, e discriminatório.

- uma didática que fosse verdadeiramente expressão das necessidades educacionais de sua sociedade.

As suas obras tinham uma peculiar e corente apreensão das contradições e das novas necessidades humanas, surgidas devido às profundas transformações sociais ocorridas.

Comenius mantinha um constante espírito de reforma (educacional, social e, por fim, humana). Ele via a educação como instrumento para as transformações radicais que gerariam libertação para todos, sem distinção.

Elementos para a compreensão do pensamento pedagógico comeniano

1. Vida de Comenius

João Amós Comenius nasceu na Morávia (República Tcheca e Eslovaca) em 28/04/1592, filho de pais evangélicos. Deve ter aprendido muito a resoeito de ser aberto ao diálogo e às novas idéias devido ao ambiente profissional de seu pai.

Em 1611, aos 19 anos, seguindo formação eclesiástica como era comum entre os do seu povo, seguiu para a Alemanha, ingressando na Universidade Calvinista de Herborn, onde foi influenciado pelo teólogo calvinista João Henrique Alsted, e por João Fischer (Piscator), que estimulou-o ao estudo da Bíblia.

Em 1613 foi para a Universidade de Heidelberg, onde foi influenciado por Johan Valentin Andrae, que - como ele - era religioso e clérigo reformado, mas este de linha luterana.

2. Os Irmãos Morávios e a Reforma É muito importante entender a organização eclesiástica a qual Comenios era filiado, na qual veio a tornar-se arcebispo, cargo mais alto da ordem. Dessa compreensão extraímos os fundamentos de sua didática.

A igreja Unidade dos Irmãos Boêmios surgiu antes dos século XV. Seu principal líder foi João Huss (1369-1415), influente Irmão que foi o reitor da Universidade de Praga. Esta foi a primeira universidade da Europa, fundada em 1348, sendo o maior centro científico-cultural da época (podemos destacar o matemático João Kepler, e Giordano Bruno).

Devido a Inquisição, Huss foi queimado vivo em praça pública. Foi ele um dos precursores da reforma protestante (a história registra que inclusive profetizou-a, enquanto ardia vivo). Para entendermos sua importância, podemos dizer que ele está para a língua tcheca assim como Martinho Lutero está para a alemã e Calvino para a francesa. Todos estes foram religiosos que mudaram o seu tempo.

Algumas datas ajudar-nos-ão a compreender de que tempo Comenius era: de 1500 a 1510, 50 das 60 novas publicações européias eram dos Irmãos. Em 1501 foi publicado o "Cancional" (cânticos hussitas), e em 1502, foi publicado o primeiro catecismo. Já em 1560, os Irmãos abrem muitas escolas, especialmente na Morávia, onde o senhor feudal era simpatizante deles. Naquele tempo deixaram de haver perseguições por ali, sendo então legalizadas muitas escolas. Só em Praga, no início do séc. XVII, haviam 16 universidades dos Irmãos. A Holanda era o pólo cultural mais avançado da Europa, em 1611.

Após a Reforma Protestante encabeçada por Martinho Lutero, os Irmãos Boêmios sofreram fortes perseguições, pois que usavam a Bíblia como única regra de fé e prática, e queriam que ela fosse - ao máximo - divulgada a todos, aliás, espírito este claro na Reforma (de 1579 a 1593, a Bíblia foi distribuída para todo o povo tcheco, na sua língua).

A educação dos Irmãos não limitava-se à escola, mas era assunto de toda a comunidade. Assim, todos educavam a todos, sem uma hierarquia verdadeira. Haviam valores educativos distintos para cada fase da vida humana: regras de conduta para pais, noivos, filhos, mães, viúvas, etc.

As mulheres não eram discriminadas: recebiam educação e tinham o mesmo valor que os homens. As crianças aprendiam a respeitar o trabalho, principalmente o manual e de subsistência.

O objetivo da educação era a formação do caráter cristão. Era levar o jovem a decidir por si mesmo se queria ou não ser um seguidor de Cristo.

3. Desenvolvimento Social e Individual Ficando claro o berço de Comenios, temos como conseqüencia (mas sem tirar o mérito de sua genialidade) seus pensamentos radicais (ou seja, que atacam a raiz dos problemas e não suas conseqüências) de reforma, que obtiveram seus frutos:

É necessário a constante busca do desenvolvimento do indivíduo e do grupo, pois um melhor conhecimento de si mesmo e uma melhor capacidade de autocrítica leva a uma melhor vida social.

Deve haver igualdade social e solidez moral, e podemos tê-la mediante a educação, ao reforçar uma mesma linguagem (igual à do povo), uma educação familiar forte (pois a família é a célula básica da sociedade) e um processo democrático.

A reforma social que anelo surge da reforma de cada um em si mesmo.

4. A ambivalência dos elementos constitutivos da arte de ensinar Para Comenius, didática é ao mesmo tempo processo e tratado. É tanto o ato de ensinar como a arte de ensinar (com a codificação de normas para se transmitir conhecimentos).

A arte de ensinar é a mais sublime pois destina-se a formar o homem

Ensinar vem de fazer sinais, marcar, caracterizar, indicar, distinguir. É uma ação do professor no aluno.

Significar vem de fazer sinal, mostrar por sinais. É uma forma de ensinar, de se fazer compreender.

O professor grava um sinal (o conteúdo) na inteligência, emoções, vontade e memória do aluno, tornando-o diferente de outrora.

Deve-se marcar:
- com certeza de bons resultados
- com rapidez, sem enfado, com prazer para alunos e professores
- com solidez: não só palavras, mas verdadeira instrução, bons costumes e piedade sincera

Didática é a arte de ensinar e aprender. Não só o professor, mas o aluno também faz didática. Não só o aluno aprende, mas o professor também.

Processo de ensinar:

 

 

(figura...)

 

 

A aprendizagem é a ação do aluno de apreender (apanhar, atar, ligar) o conteúdo transmitido.

Para que ocorra aprendizagem o aluno deve estar atento e disposto para agarrar o conhecimento, antes que se perca. Também deve dispor-se a ligá-lo a si mesmo, interligando-o aos demais conhecimentos que possui.

Ensinar e aprender são duas ações distintas mas complementares e inseparáveis; são a mesma coisa. São atos de fé tanto do professor quanto do aluno.

5. Os modelos da Didática

A. A Natureza

Ensinar pressupõe conteúdo a ser transmitido, e eles são postos pela própria natureza: são a instrução, amoral e a religião

Para Comenius a natureza ora tem a conotação do estado inicial do homem sem pecado - que devemos buscar - ora assume o papel da providência universal de Deus que leva cada um a ser o que Deus planejou para ele.

Para alcançar o fim para o qual foi criado, cada um foi dotado de órgãos, de auxiliares necessários e de uma tendência própria. Fomos feitos por natureza aptos para a inteligência das coisas, para a harmonia dos costumes e para o amor a Deus sobre todas as coisas.

Não precisamos introduzir nada no homem. O aluno não pode ser comparado a uma folha de papel em branco, na qual o professor coloca seu conteúdo. O que basta é fazer germinar no homem o que lá há.

Deus colocou no homem em germe três coisas: sabedoria, virtude (honestidade) e religião (piedade).

O conhecimento que temos da natureza serve de modelo para a exploração e conhecimento de nós mesmos. Mas não é a natureza "natural" o exemplo a ser imitado, mas a natureza "social", produto histórico gerado pelo homem.

Quando há grande número de alunos, há economia de tempo e fadiga pela cooperação e emulação. Podemos gerar mais e com mais qualidade da mesma forma como juntamos peixes em tanques apropriados para reproduzí-los em larga escala.

B. O Relógio A natureza e sua imitação (a arte, que é a natureza dominada e conhecida, isto é, a natureza feita, histórica) são os fundamentos da didática comeniana, funcionando sempre como modelos.
natureza ð artes ð didática

"As coisas produzidas (a didática está entre elas), procederão tão fácil e espontaneamente como na natureza se ela for nosso modelo, nossa escola."

O relógio, criado segundo as leis da natureza, funciona pelo número, dimensões e ordem de cada peça. Assim também a arte de ensinar exige deliberada repartição do tempo, das matérias e do método.

Os elementos do relógio são como a estrutura de um novo modo de produção, onde as peças são os homens que, pela divisão do trabalho, cooperam, mantêm a corrente de produção de forma harmônica, podendo, todavia, parar o processo pela falha de um dos elementos.

O relógio é o símbolo do valor do tempo. Não pode ser desperdiçado. Precisa ser controlado, dividido, medido e obedecido para haver produção escolar independentemente do horário solar. Determina o ritmo da produção pré-industrial.

Ele é um modelo para a necessária organização escolar, onde a divisão do tempo deve ser regulada de forma exata de forma que se ensine o conteúdo proposto ao mesmo tempo que se atende às necessidades dos alunos.

C. A Tipografia A tipografia trouxe precisão, eficiência e elegância aos livros. Fez com que mesmo os que não sabem escrever possam imprimir elegantemente, executando o trabalho com um instrumento preparado para isso.

A didática da mesma forma é o instrumento que dota o professor de habilidades para ensinar de forma precisa, eficiente e elegante, com economia de tempo e de fadiga

O livro passa a ser - nessa época - objeto utilitário, de difusão da cultura.

ð Devemos tomar consciência que temos a responsabilidade de estar lidando com o tempo e a vida de crianças, e por isso precisamos remir o tempo e aproveitar ocasiões para que eles aprendam de verdade.

Com a ajuda das indicações fornecidas pela natureza descobriremos os fundamentos para:
- prolongar a vida para aprender todo o necessário
- abreviar os estudos para aprender mais rapidamente
- aproveitar as ocasiões para se aprender realmente
- despertar os engenhos para aprender facilmente
- aguçar o juízo para aprender solidamente

O "abreviar os estudos para aprender mais rapidamente" estrapola a imitação da natureza (é o domínio e superação dela), pois dela não é próprio a pressa.

 

Antes só os gênios conseguiam lugar de destaque, e isto com muito esforço. Agora, as máquinas cada vez mais vão dispensando as características individuas, uma vez que "com régua e compasso todo podem traçar linhas retas e círculos perfeitos."

a missão do professor não é tanto tirar da mente o que deve ensinar, mas sobretudo comunicar uma erudição já pronta com instrumentos também prontos.

com poucos professores é possível instruir com rapidez e pouco esforço muitos alunos, mesmo os que tem inteligência lenta.

antes eram poucos os perfeitos. Agora, pela invenção humana, todos podem ser perfeitos. Igualdade entre os homens

transformação da estrutura-guia da natureza para a mecânica, captando a mudança dos tempos

contradição: de repente as técnicas falaram mais alto que a natureza.

ð "didacografia": o papel são os alunos, onde se imprimirão os caracteres da ciência;os tipos são os livros didáticos que ajudam a aprender com pouca fadiga; a tinta é a voz do professor que transpõe o significado das coisas para a mente do aluno; o prelo é a disciplina escolar que dispõe a todos para assimilarem os ensinamentos.

o método didática exige que todos os alunos de uma escola sejam confiaos ao mesmo professor, do início ao fim do período letivo, para que os eduque e os instrua com os mesmos preceitos, sem interrupções ou lacunas, tal que todos, após executarem o programa de cada classe, sejam promovidos à seguinte (como primeiro é impresso todas as primeiras páginas de um livro, depois as segundas, etc.)

[mostrar como Comenius sabia usar parábolas e analogias para ensinar sobre didática!]

o método didática deve prever períodos de repouso, para não sobrecarregar os alunos (duas horas antes do meio-dia e duas horas depois)

o ritmo dos trabalhos escolares produz produtividade alta, pois cada um sabe o que fazer e empenha-se em sua tarefa

preparar o aluno: mantê-lo atento e fazê-lo compreender o que será feito e ensinado

o professor mostra o sentido do que está ensinando e pede que os alunos reproduzam o conteúdo.

ventilam-se as inteligências por meio de repetições, exames e sabatinas, até ficar bem gravado na mente do aluno.

no fim do ano, inspetores verificarão o aproveitamento dos alunos por meio de exames públicos. Verificam a solidez e a coesão dos conhecimentos adquiridos, se tudo o que devia ser aprendido realmente o foi.

natureza ð arte ð máquina

a tipografia possibilita cultura e instrução universais. A didacografia possibilita multiplicação de jovens instruídos

ponto de partida não mais é a natureza mas a criação humana – a máquina. O homem no centro, como criador, independentemente de Deus.

apenas universalidade do conteúdo e da forma de ensinar. Os indivíduos continuam com suas singularidades. A natureza não uniformiza, mas diversifica;

objetivo de que as produções individuais sejam iguais, independentes das características pessoais, através do uso dos mesmos instrumentos de trabalho

uniformiza professores: apenas requer habilidade em operar instrumentos aptos a comunicar e infundir o conhecimento também preparado.

uniformiza alunos pela média: refreia os mais inteligentes e auxilia os mais fracos de forma a todos terem o mesmo ensinamento

na verdade não há contradição em adotar como modelo as invenções humanas em relação à natureza: "o produto da arte, a máquina, serve de modelo para conceber e compreender a natureza. Não que a própria arte seja natureza, mas a natureza é semelhante a um produto da arte" (Rossi).

Deus tornou-se um mecânico, um artífice, porque o mundo – a grande máquina – foi constuído por Ele. Daí porque todas as coisas são artificiais, pois a natureza passou a ser a arte de Deus.

"Conhecer a realidade significa perceber o modo como funciona a máquina do mundo. Para entendê-lo podemos desmontá-la (ao menos teoricamente) para reconstruí-lo peça por peça. Todas as leis que o regem e suas peças têm igual valor e são essenciais" (Rossi)

[fazer o pessoal enxergar o que se passava pela cabeça de Comenius quando ele via uma tipografia em ação. Tornou-se grande – em parte – porque era um homem de visão. Todos podemos ser assim!]

A Pampaedia como universalidade pedagógico-educacional absoluta

1. Gênese e estrutura da Pampaedia

Pampaedia (educação universal) é parte de uma obra maior intitulada "Deliberação universal acerca da reforma das coisas humanas", escrita por volta de 1645.

A Deliberação é dividida em:
1. Panegersia - Despertar universal
2. Panaugia - Iluminação universal
3. Pansophia - Sabedoria universal
4. Pampaedia - Educação universal
5. Panglottia - Língua universal
6. Panorthosia - Reforma universal
7. Pannutesia - Exortação universal

Mostra seu espírito universalista e ecumênico a todo momento, principalmente pelo uso do prefixo pan e de omnes, omnia e omnino.

por fim Comenius diz que a educação do indivíduo é paralela e análoga ao progresso da humanidade

em Didáctica temos homem e natureza. Em Deliberação, homem (indivíduo) e humanidade.

idéia de que cada idade do mundo representa a idade de cada homem individualmente.

a Deliberação é uma constante exortação à reforma universal de todos os afazeres humanos (instrução, religião e política).

obra dirigida aos que podiam realizar o que estava escrito: os cientistas, políticos e sacerdotes da Europa

[Comenius era um educador apaixonado!]

busca de paz e reforma universais, para se opor à divisão da instrução, da política e da religião

ð não trata de um modelo ideal de sociedade, mas de identificar seus males objetivos e providenciar instrumentos adequados para saná-los.

Salienta a importância política e social que sua obra desempenharia na paz e união da Europa.

Comenius tende a individualizar a compreensão das causas das desordens humanas, ocultando motivações econômias, sociais e políticas e colocando-a em Deus.

ele coloca na esfera intelectual-emocional – e não na econômico-material – os últimos determinantes das questões humanas. Logo, as soluções que ele aponta seguem esta mesma direção.

deste ponto de vista, a Educação universal seria o instrumento básico para a reforma universal.

ð A Educação deve ser o momento de mediação da teoria para a prática, da sabedoria para a língua, do saber sistematizado para a aplicação na vida dos povos.

a Pampaedia sistematiza a construção de uma instrução universal não mais ligada à escola (como em Didáctica), mas ligada a toda a vida, em todos os kugares, até na vida eterna

histórico da Pampaedia:
1650 - escrita em Amsterdã
1948 - publicada em tcheco
1960 - publicada em latim e alemão
1971 - publicada em português por Joaquim Ferreira Gomes

cap.1: explica o que é Pampaedia e o que significa "todos, todas as coisas, totalmente"

cap.2,3,4: é necessário, possível e fácil educar a todos para a sua plenitude

os meios necessários para tanto são escolas, livros e professores universais

cap.5: para educar a todos são necessárias escolas universais, oficinas de cultura que devem estar em todos os lugares e serem para todas as idades.

cap.6: para educar sobre todas as coisas são necessários instrumentos universais de cultura: livros que contenham todas as coisas

cap.7: para serem educados em todas as coisas, totalmente, são necessários professores pampédicos.

este cap. mostra os requisitos deste professor sob a forma de 25 problemas (um compêndio de metodologia didática)

cap.8-15: explicam as oito escolas universais em que todos os indivíduos devem ser formados ao longo da vida, do nascimento à morte.

cap.16: conclusão e invocação à sabedoria eterna.

[o próprio Comenius usou métodos didáticos ao sacrificar os exemplos sagrados, bíblicos, e usar os pagãos, mais populares. Fazemos o mesmo com nossos alunos?]

2. A universalidade máxima da educação Comenius (após viagens transculturais em função da guerra) achava necessário infundir em todos uma fé espiritual mais profunda e uma maior justiça social, para reformar a vida e reeducar o homem a uma sociedade cristã harmônica

Pansofia=concepção universal de vida que abrange todo o saber humano (filosófico, metafísico, pedagógico, religioso e social)

Pansofia para Comenius está associada a problemas da vida moral e social do homem e da sociedade.

é preciso infundir a pansofia no espírito do homem

todo mundo é uma escola

a educação como processo de libertação e desenvolvimento da humanidade é um problema para a vida toda.

Magna: grandeza em grau relativo. Pan: todo, universal, inteiro. É mais amplo

Didáctica Tcheca - nacionalismo; Didáctica Magna - ensino universal; Pampaedia - educação universal

espírito do Renascimento ao usar termos greco-latinos. Em Pampaedia o centro é expressamente o homem, traduzido por paideia, que vem de paidós, significando criança (de qualquer faixa etária).

Comenius não pertencia à classe dominante nem estava na contramão da história. Tinha ampla visão do mundo em função das viagens com o fim de implantar reformas escolares, exílios e contatos com esferas mais desenvolvidas da cultura, ciência e outros setores de seu tempo.

aspiração de educar para a plenitude humana todos (e cada um!) os homens, sem qualquer exceção

A. Todos Em Didáctica Magna "todos" eram só os jovens cristãos dos reinos protestantes. Em Pampaedia a abrangência é completa

antes todos deviam ser ensinados; agora, educados

não toda a juventude instríuda, mas ninguém exlcuído do processo educativo que torna cada um homem

"deve-se desejar que até as nações bárbaras possam ser iluminadas e arrancadas das trevas da sua barbárie e, desse modo, porque são parte do gênero humano, assemelhadas ao seu todo, pois, na verdade, o todo não é todo se lhe falta alguma de suas partes."

"preferir a parte ao todo é indício claro de falta de reto juízo e de boa vontade." "Se não quer ser acusado de espírito estulto e malévolo deve querer-se que todos estejam bem e não apenas nós próprios, ou alguns dos nossos próximos, ou somente o nosso povo"

quem exclui alguém da educação faz injúria a toda a humanidade

B. Tudo tudo: o conhecimento da totalidade das coisas

"o homem deve ser retamente formado e integralmente educado, não apenas em uma coisa, ou em poucas, ou em muitas, mas em TODAS as coisas que aperfeiçoam a natureza humana:
- a conhecer a verdade e a não se deixar seduzir pelo mal;
- a fazer o que deve fazer e a preservar-se do que deve evitar;
- a falar sabiamente acerca de todas as coisas, com todos;
- quando é necessário, em todas as circunstâncias, com as coisas, com os homens e com Deus, não levianamente, mas prudentemente, e, assim, a nunca se afastar do objetivo de sua felicidade."

ð coisas que aperfeiçoam a natureza humana, ou seja, as que eficazmente fazem crescer e desabrochar as sementes de tudo o que o homem já traz em si tornando-o homem.

ð o homem deve ser retamente formado e integralmente educado em todas as coisas que podem torná-lo sábio e feliz. Não só as coisas que completam a natureza humana, mas as que conduzem o homem à felicidade e à sabedoria, ou seja, ao conhecimento das coisas futuras, à prudência das coisas presentes, a tendência para a concórdia e a busca da harmonia em tudo.

nada deve ser aprendido inutilmente, mas para um fim que prevaleça o equilíbrio, a harmonia e a concórdia entre os homens

O homem deseja:
- existir (viver)
- existir firmemente (ter saúde)
- existir sensivelmente (conhecer as coisas que há à sua volta)
- existir livremente (querer e escolher as coisas apreendidas como boas, não querer e repudiar as coisas más, e dispor todas as coisas, quando possível, segundo o seu próprio arbítrio)
- existir ativamente (realizar as coisas que compreende e que escolhe, para que não compreenda nem escolha em vão)
- ter ou possuir muitas coisas
- utilizar e fruir de todas as coisas que possui e fazê-lo com tranqüilidade
- ser importante e ser tido em consideração
- ser, tanto quanto possível, eloqüente para poder comunicar aos outros, prontamente e corretamente, a sua ciência e a sua vontade
- gozar também da aceitação e de simpatia entre os homens, de modo que estes não o invejem, mas se congratulem com sua vida tranqüila, alegre e segura
- finalmente, gozar do amor de Deus, para sua alegria íntima e para segurança de sua felicidade em Deus

Estas coisas não são usurpadas, mas destinadas a todos os homens segundo a própria vontade divina

Elas estão tão profundamente radicadas na natureza humana que não há quem possa renunciar a qualquer delas em perfeito estado de saúde

[pôxa, só no séc. XVII é que estas coisas radicadas na natureza humana foram compiladas para que houvessem condições concretas de desenvolvimento?]

justificativa: "E ele próprio, o Deus da paz, vos santifique até a perfeição, e que todo o vosso ser - o espírito, a alma e o corpo - se conserve irrepreensível para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo" (I Ts.5.23)

ð é necessário educar o corpo inteiro: coisas que sustentam o corpo, que alimentam a alma (as artes e as ciências) e que conservam para a vida eterna o espírito (a parte suprema de nós pela qual fomos feitos à imagem de Deus)

ð fuga do erro da Idade Média de desprezar e catigar o corpo em favor do espírito, para mais facilmente servir a Deus, como se Deus se agradasse destas coisas

C. Totalmente é necessária educação universal não para a pompa e brilho exterior, mas para a verdade, para serem o mais possível semelhantes à imagem de Deus (segundo o qual fomos criados), isto é, verdadeiramente racionais e sábios, ativos e ágeis, íntegros e honestos, piedosos e santos, e, desse modo, verdadeiramente felizes e bem-aventurados, neste mundo e por toda a eternidade

ð todos devem ser educados em tudo, totalmente, isto é, educados para a verdade, pela qual cada um, retamente falando, escape aos princípios do erro e do acaso, segundo os caminhos da retidão

não segir hábitos cegos ou preconceitos

ser educado não para a aparência, mas para a verdade, com utilidade certa e segura para esta vida e para a vida futura

ð o totalmente é a verdade. O grau de aproximação dessa Verdade Superior determina quanto cada um é verdadeiramente racional, sábio, honesto e santo

Deus e a natureza são os modelos.

Se o homem consegue adequar seu modo de pensar, conhecer, agir e ser à natureza, será sábio, pois ela está perfeitamente orenada.

ð a educação para a verdade traz utilidade certa e segura para esta vida e para a futira, fazendo com que todos sejam verdadeiramente felizes, neste mundo e por toda a eternidade

aproxima-se de Deus não só pela via religiosa, mas pela verdade e o conhecimento, como a verdade da natureza se faz pela ciência. A educação universal condu\ à verdade

ser educado totalmente não é tornar-se sabichão, mas sabedor; não falador, mas eloqüente; não fanfarrão, sempre a gabarolar-se de que irá fazer este ou aquele trabalho, mas um homem que é capaz de terminar um trabalho que empreendeu; não uma máscara de honestidade, mas a própria honestidade; não, finalmente, um simulador hipócritaq da piedade, mas um piedoso e santo adorador de Deus em espírito e verdade

ð o remédio universal para a solução dos males dos homens consiste em suprimir o fracionamento e regressar todos à nossa herança inteiramente simples e harmoniosa (como nos fora prometido no paraíso), cessando de repartir entre nós a ciência, os bens e os cargos, de os atribuirmos e de os voltarmos a tirar uns dos outros, e, assim, andarmos em lutas constantes . Que cada um prefira, saber, querer e poder o que Deus permitiu que se soubesse, quisesse e pudesse, e não apenas uma parte

3. Os instrumentos universais da educação universal para educar todos os homens são necessárias escolas universais, oficinas de cultura;
para educar em todas as coisas precisaremos de instrumentos universais de cultura, livros que contenham todas as coisas;
para educar totalmente são necessários professores universais, que saibam inculcar em todos, todas as coisas, totalmente.
A. Escolas Os pais, assim como foram responsáveis pela vida da criança, devem ser os responsáveis pelo seu desenvolvimento, levando a ter uma vida racional, santa e honesta.

Mas como os pais, pelas exigências socias, não podem e nem sabem fazer tudo, são auxiliados pelos professores.

ð há economia de tempo e fadiga quando uma pessoa faz uma só coisa, sem ser distraída pelas outras coisas. Assim, uma só pessoa pode servir utilmente a muitas, e muitas podem servir a uma só

ð a escola deixa de ser lugar da elite, para ser preparadora da juventude para a vida do trabalho

ð "onde iremos para se os operários, os agricultores, os moços de fretes e finalmente até as mulheres se entregarem aos estudos?" Comenius responde que então a ninguém faltará bons pensamentos, bons desejos, boas aspirações e boas obras, por que caminhos andar, e de que maneira cada um há de ocupar o seu lugar.

ð a escola não é profissionalizante no sentido de que o aluno aprenderá uma tarefa que depois executará. Ela considera o indivíduo como um todo e sobre este é que educará

a escola deve esforçar-se em produzir homens sábios na mente, prudentes nas ações e piedosos no coração

crítica contra a cultura, aos métodos, aos professores, aos conteúdos, à escola, aos valores, ao mostrar a frieza do método de ensino, o pouco número de escolas e a elitização do ensino.

oficinas de homens em vez de câmaras de tortura das inteligências

oficina: local onde se preparam, se constroem os homens para a vida.

ð organização das escolas na qual:
- toda juventude (exceto a quem Deus negou inteligência) seja formada
- em todas aquelas coisas que podem tornar o homem sábio, probo e santo
- que esta formação, como preparação para a vida, esteja terminada antes da idade adulta
- que esta formação se faça sem violência ou constrangimento, com a máxima doçura, dellicadeza e espontaneidade
- que todos se formem com uma instrução não aparente, mas verdadeira; não superficial, mas sólida
- que seja uma formação não penosa, mas facílima, com quatro horas, com dez vezes menos esforço e ao mesmo tempo com centenas de alunos

o homem traz por natureza as sementes da ciência, da moral e da piedade

há a natureza histórica que vem das relações sociais e é pensada como natural

o fundamento da reforma das escolas é a ordem em tudo

ð escola não é uma instituição formal de ensino, mas o mundo inteiro, a todo tempo

em Didáctica Magna há: escola do regaço materno, escola pública de língua vernácula, escola de latim e academia

em Pampaedia há escola de formação pré-natal, da infância, da puerícia, da adolescência, da juventude, da idade adulta, da velhice e da morte

livro "Normas para uma boa organização das escolas" é uma nova versão da Ratio Studiorum dos jesuítas, que apresenta o regulamento da ordem e disciplina escolares.

B. Livros escola materna: livro de conselho aos pais e amas, para que não ignorem seus deveres

as crianças deveriam ter livros. Compôs o livro de imagens "O mundo ilustrado das coisas sensíveis" onde traz as primeiras noções de história natural, ética, ciências, etc. com os nomes por cima de cada coisa

"Manual Bíblico" continha as principais histórias bíblicas

dos 6 aos 12 anos (Escola de Língua Nacional), livros iguais na essência mas diferentes pela forma e grau de profundidade.

Adaptados em cada ano aos espíritos infantis, que são por natureza inclinados para coisas agradáveis, jocosas e lúdicas, e aborrecem coisas sérias e severas

na adolescência, as razões das coisas devem ser patentes: estudos relacionados à filosofia. As mesmas coisas serão aprendidas de diferentes maneiras

os exercícios coloquiais (modelados pela obra "Noctes Aticae" de A. Gellius) transpõe a realidade do comércio para as salas de aula

ð o comércio da sabedoria em sala de aula: cada aluno individualmente debate o grande pensador que leu individualmente, e todos intercambiam o conhecimento adquirido

ð cada aluno devia descobrir por seu trabalho, no autor que fora-lhe deignado, qualquer coisa de útil, belo ou raro e, como todo comerciante, trazer sua descoberta, isto é, sua mercadoria, para o empório comum da sala de aula, a fim de trocá-la com os demais para o enriquecimento comum

a escola da juventude (a academia ou universidade) é para os alunos diligentes, honestos e solícitos, onde aplica-se ao estudo da disciplina para a qual a natureza o destinou, atendendo às necessidades da Igreja e do Estado ao mesmo tempo. São aqui estudados todo o gênero de autores, sem restrições

a formação aqui inclui além dos professores e livros, as viagens inclusive ao estrangeiro, que tinham por fim direcionar o jovem a uma profissão e espairecer o espírito

quem procura os lucros da sabedoria, da prudência e da piedade, vai aonde ouve dizer que estão pessoas ou coisas com as quais acha que pode enriquecer-se

Escola da vida adulta: a parte central da vida. As outras eram preparatórias a esta.

escola cujo centro é a profissão

é mais livre, não é presa a livros ou professores. Deve-se fornecer a si mesmo exemplos, preceitos e exercícios contínuos

cada um deve ler por si mesmo os livros de Deus: o livro da mente, o livro do mundo e o livro da revelação

ler também historiadores, filósofos, teólogos, oradores, poetas, escritores de moral, etc., mas sempre escolhendo os melhores: adaptados à profissão, célebres e mais claros

cada um lê também a si mesmo, sem lançar fora os outros livros

os livros não são só os escritos, mas os que auxiliam a realização humana em cada fase. São desnecessários na escola da velhice e da morte

não devemos expor a juventude, que não tem discernimento cristão, ao perigo dos livros pagãos, com seus deuses e superstições

ð como ensinar a todos com os mesmos livros (economizando tempo e fadiga)?
- mantendo todos atentos oferecendo somente os livros de texto de sua classe
- tendo sempre prontos os materiais a serem usados
- livros fáceis, sólidos e breves, primando o diálogo, expondo de modo familiar e popular
- da mesma edição, para facilitar o trabalho
- resumo dos livros pintados nas paredes da sala de aula, estimulando todos os dias os sentidos, a memória e a inteligência dos alunos

A verdadeira e completa biblioteca aos que chegaram à "perfeição": o mundo, a mente e a revelação

é preciso livros preparatórios (de informação e introdução) a esta biblioteca, que devem ser imediatos, completos e claros

Todo livro deve ser:
- pansófico: que oferece a medula de toda a sabedoria plena, mais ou menos conciso conforme o grau escolar
- pampédico: servindo a todos os espíritos em tudo, e a cada um segundo o seu grau
- panglótico: traduzível em todas as línguas dos povos, dada a facilidade de seu estilo simples
- panortótico: que serve eficazmente para prevenir ou para corrigir as corruptelas da coisas, também cada um segundo o seu lugar e o seu modo

os livros são instrumentos da reforma do mundo

C. Professores a educação das crianças compete primeiro aos pais, mas pelas muitas ocupações, não há tempo ou conhecimento suficiente para dedicar-se à educação dos filhos

por salutar conselho, então, confia-se a educação deles a pessoas escolhidas, notáveis pela sua inteligência e pela pureza de seus costumes.

a docência torna-se profissão. Necessita de tempo de dedicação, e de salário

ð críticas de Comenius aos educadores que, na maior parte, desconheciam a arte de ensinar. Para que tanto enfado e dificuldade?

ð "mas há os que não querem estudar, e obrigá-los é enfadonho e inútil!" - "e se se demonstrar que a causa do desgosto pelo estudo são os próprios professores?"

o desejo de saber, de conhecer o desconhecido, é inato no homem. Basta pequeno estímulo e direção inteligente para que as sementes da ciência, moral e piedade brotem dentro do homem. Deve-se reconduzir estes ao vigor próprio de suas naturezas

ð o professor - antes de instruir à força de regras - deve tornar o aluno ávido e apto para a cultura, conseqüentemente, pronto a entregar-se a ela com entusiasmo.

comparação com o ferreiro, que antes de bater no ferro, aquece-o. Comparação com sapateiro, torneiro e fabricante de tecidos.

o professor quer que saia de suas mãos imediatamente uma jóia e enche-se de ira quando não consegue logo. Mas como conseguirá sem antes preparar o aluno?

os artesãos são modelos para os professores. O trabalho material torna-se determinante do trabalho intelectual

é preciso clareza no método assim como o artífice tem clareza no uso de seus instrumentos para produzir o que deseja

o professor trabalha, molda a mente do aluno

as artes materiais tornam-se o modelo das artes espirituais

o professor é um artista que exerce a mais nobre função: preparar o homem para a vida

o homem se faz por sua ação, pois no momento que molda as mentes dos educandos e produz novos homens, constrói a si mesmo, ao tornar-se criador do novo homem ("se eu produzo sapatos, então sou sapateiro")

o mestre artesão tinha as seguites funções:
- fabricante de produtos
- negociante (ao procurar e negociar a matéria-prima que utilizava)
- empregador (ao ter jornaleiros e aprendizes sob seu mando)
- capataz (ao supervisionar o trabalho deles)
- comerciante lojista (ao cender ao consumidor, no balcão, o produto acabado)

o professor deve ser piedoso, honesto, ativo, diligente, exemplo vivo daquelas virtudes que devem ser inclucadas nos jovens

devem ter o ânimo e afeto dos pais, verdadeiramente desejosos de seu progresso (na verdade são pais no espírito!)

toda realidade imaterial que se deseja ensinar deverá estar exposta no próprio professor, como exemplo vivo para a mediação e imitação dos jovens

o professor é alguém que auxilia, que orienta o aluno em seu processo natural de crescimento

a diversidade de professores distrai o espírito: um só professor para uma classe

o professor é como um caule de árvore que, embora único, é capaz de embeber de seiva toda a árvore, por mais ramos, folhas e frutos que ela possua.

como um professor para tantos alunos? Dividindo a classe em turmas, tornando todos atentos, ministrando lições a todos, nunca a um em separado

a cooperação, tanto simples como complexa, fundamenta-se na divisão do trabalho e é classicamente vista na manufatura (Marx)

cooperação simples: todos os alunos faziam o mesmo exercício do qual dependia uma aula

cooperação complexa: cada aluno fazia sua parte de um trabalho, que - juntas - formavam o trabalho final (diversas partes independentes)

apenas um professor com um só método para não haver mais de uma ordem (facilitar a direção), haver só uma interpretação

o professor precisa saber formar o homem em todas as coisas que aperfeiçoam a natureza humana, para tornar os homens totalmente perfeitos

requisitos: seja, saiba e queira formar pansofos:
- ser como deve tornar os outros
- conhecer os métodos de tornar os outros como eles devem ser
- seja cheio de zelo no seu trabalho

iluminado, pacífico, religioso e santo

deve conhecer:
- todos os fins de sua profissão
- todos os meios que lá conduzem
- toda a variedade do método

os professores devem ser modelos perfeitos de sabedoria e santidade

ð deve levar todos a conhecerem as coisas verdadeiras, querer as boas e fazer as necessárias

os professores devem ser dotados de não menor sabedoria e destreza no agir que os pastores das igrejas e os chefes do governo

objetivos de sua didática:
- universalidade (todos serem ensinados em todas as coisas)
- simplicidade (meios seguros para chegar à certeza)
- espontaneidade (fazer agradavelmente tudo, como se fosse um jogo)

que todo o processo de educação do homem chame-se de escola-jogo!

ð ð o professor, de carrasco em sala de aula porque não dominava a arte de ensinar e por isso agia com violência, é elevado à melhor e mais nobre categoria de artesão, devendo ser perfeito em sabedoria, honestidade e santidade para produzir um homem completo, sem falhas

Os fundamentos universais do método comeniano a educação é a forma como o homem se desenvolve e realiza suas capacidades inatas

a educação forma e salva o homem

o homem e a educação são conforme sua educação é

Comenius acusa os métodos de didáticos de violentos, obscuros, confusos. Tornam a escola ineficiente e um campo de tortura

propõe a Didática Magna, que ensina tudo a todos com certeza, solidez e rapidez

1. O método único e seus fundamentos naturais [dilema do acompanhamento dos alunos com inteligência mais ou menos lenta, devido a escola já ensinar coletivamente]

"não se consegue de uma só semente produzir a mesma árvore? De um só método farei alunos capazes!"

Razões porque dá certo um só método:

1. o fim é o mesmo: sabedoria, moral e perfeição

2. todos são dotados da mesma natureza humana, apesar de terem inteligências diversas

3. a diversidade das inteligências nada mais é que um excesso ou deficiência a harmonia natural

4. o melhor momento para remediar excessos e deficiências é quando as inteligências são novas

Outro modelo é o exército, onde apesar das diferenças, todos são guiados pelas mesmas regras e exemplos

A mistura de inteligências deve existir principalmente por causa do auxílio que umas podem prestar às outras, seguindo "as normas da razão"

os remédios contra os defeitos da natureza são encontrados nela mesma, e a arte nada mais pode fazer senão imitá-la. Este é o método único a ser usado em todos os domínios (ciências, artem línguas, moral e piedade)

a variação na prática é tão pequena que não chega a constituir um novo método

para cada coisa ensinada há um método específico conforme a natureza da coisa.

aforismo de Hipócrates: "A vida é breve e a arte é longa; os momentos oportunos passam depressa, as experiências não são muito seguras e o juízo acerca dos fatos é difícil"

mas para Comenius as dificuldades podem ser convertidas em bem, em formas de realização humana. Como? Prolongando a vida, abreviando os estudos, aproveitando as ocasiões, despertando os engenhos, colocando em tudo um fundamento estáve e seguro.

os obstáculos ao saber podem ser vencidos por soluções apontadas pela própria natureza deles

cap15 a 19 de Didáctica Magna: os 5 fundamentos gerais para ensinar e aprender com segurança, facilidade, solidez e rapidez.

Primeiro fundamento: ensinar e aprender com segurança, de modo que seja impossível não obter bons resultados

as coisas naturais crescem espontaneamente. Devemos semear habilmente e regar cuidadosamente nas almas dos jovens. O crescimento virá naturalmente

exige competência do semeador: o que fazer e o que não fazer, onde e como

[os professores não tem certeza e ousadia de garantir que ao fim de um ano o aluno terá tal e tal progresso intelectual]

os fundamentos para se ensinar e aprender com segurança são encontrados na natureza, que aguarda o momento favorável para iniciar qualquer atividade, preparando a matéria antes de introduzir-lhe uma forma; começa pelas partes mais internas; caminha gradualmente do geral para o particular; não abandona nenhum trabalho após tê-lo concluído; evita coisas contrárias e prejudiciais

não basta apenas conhecer os meios de se obter os objetivos; precisamos procurar a facilidade e o prazer de aplicar nossos objetivos às inteligências

Comenius constata que nada era ensinado solidamente, pois na escola havia descaso pelas coisas importantes e grande superficialidade ao edtudar muitas matérias

o remédio é a reintrodução da natureza na escola, analisando como ela produz criaturas de longa duração: lança raízes profundas; liga todas as coisas com nexos contínuos

ð esninar com vantajosa rapidez economiza tempo e fadiga, abrevia trabalhos extensos e tira vantagem das coisas difíceis

se os artesãos conseguem rapidez, por que não conseguiremos nós?

2. Fase de transição Podemos perceber que não há diferença fundamental entre a ação do professor e a do aluno, pois ensinar e aprender são um único e mesmo ato magno.

O modelo para o processo de ensino-aprendizagem é a arte, que reproduz a natureza. Mas como a arte não mais obedece à natureza, e sim à ação social, ela torna-se mais perfeita que a natureza, pois o homem não mais apenas imita: também cria.

A escola transforma-se em oficina de homens. Nela, passamos do método natural (onde o homem domina por completo o processo e seu resultado), para o método fabril (onde há divisão de trabalho, cooperação), para garantir produtividade e qualidade.

a nova ordem soial exige do homem que ele aprenda tudo

método científico dá nova concepção à natureza: não é mais apenas vista como criação divina, mas como leis, regularidades, nexos que o homem vai descobrindo à medida que avança a ciência e as relações sociais e de trabalho

ð os fundamentos da didática comeniana são o estudo da natureza, o método da ciência, a força das idéias dos interlocutores e o método de trabalho.

ð Comenius formalizou em termos didáticos-pedagógicos um grande tema de seu século: o método, que era necessário ser aprendido devido aos novos modos de trabalho, de fazer ciência e de raciocinar.

Os pensadores Comenius, Ratke, Descartes e Bacon apreenderam o espírito de seu tempo (conseguiram ler o momento histórico) ao discursarem sobre o método

Transição Idade Média-Idade Moderna; feudalismo-capitalismo; feudalismo-burguesia

ð Aos novos conteúdos sociais são necessárias novas formas de comunicá-los na escola

Conclusão Estudar Comenius ensina-nos que precisamos estar com os olhos voltados para a realidade. Devemos apreender nosso momento histórico e conseguir estruturá-lo e analisá-lo para que formemos um cidadão consciente e transformador, reformador do mundo em que vive.

O alvo da escola é a formação de homens críticos e ativos na sociedade, homens que saibam conciliar sabedoria e conhecimento em suas ações. Compreendemos que só podemos atingir este ideal a partir de Deus, pois dEle provém toda boa dádiva, toda a perfeita sabedoria? Compreendemos que somente em Seu Filho encontramos todos os mistérios e toda a ciência, pois foi Ele quem tudo sabiamente criou?

Por isso, e pelo fato de que "de Deus, por Deus e para Deus são todas as coisas" (Romanos 11:36), é que Comenius afirma com toda convicção que a compreensão verdadeira da educação só pode vir de uma análise centrada no Criador de todas as coisas.

Sabemos que, ao adotar o modelo fabril de divisão do trabalho, a prática escolar tem ganho muito em produtividade, alcance e uniformidade na qualidade. Contudo, corremos o risco de perder de vista todo o processo de ensino, pelo fato de só sermos os autores de parte do processo de produção. Seríamos nós como peças problemáticas de um relógio? Temos entendido corretamente o papel da fábrica (escola)? Temos atuado corretamente na sua matéria-prima (jovens imaturos), gerando o tão desejado produto final (adultos capazes) sem defeitos?
 


By Edemar A. Santos [mail], atu.04-mar-98. [home]