MEMÓRIA DE UM PERFUME

VEM DAQUELA RUA GASTA E TÃO TRANQUILA

APENAS UMA NUVEM DE VAPOR BRANDO

A DISSIMULAR NO CHÃO GASTO QUE CINTILA

PÉTALA CARMIM NÁUFRAGA DESPONTANDO

DOBRO A VELHA ESQUINA TONTO E TÃO DISTANTE

POR TODA A PARTE AMEAÇA UM CÉU DE LUME

A DISSIPAR NOS GESTOS VAGOS DO VIAJANTE

PRAÇAS CANTIGAS MEMÓRIA DE UM PERFUME

SAI DAS TREVAS A LUA

CHEIA POISANDO NOS TELHADOS

QUEIMA FARRAPOS DE RUA

LAVA BECOS PRÉDIOS CANSADOS

A DIZER COM UM TOQUE DE QUEIXUME

MEMÓRIA DE UM PERFUME

FRÁGIL DORME NAS COLINAS DE VERDURA

APENAS UM RETRATO DE ERVAS TRESPASSADO

A DESAFIAR ESTREITAS MARGENS DE MOLDURA

PRADOS CAMPONESAS DE ANDAR MAGOADO

ÀGIL DANÇA O VENDAVAL NO MEIO DA SEARA

POR TODO O LADO AMEAÇA UM CÉU DE PORCELANA

A DESEMBAINHAR FINA ESPADA QUE ESCANCARA

PÁLIDA A COR QUE TINGE A TERRA SOBERANA

SAI DA ESTEVA A PERDIZ

SUSTO REVOADA NO OUTEIRO

QUEBRA RAMOS RAÍZ

LEVA NO PEITO FLOR DE LOUREIRO

A DIZER COM UM TOQUE DE QUEIXUME

MEMÓRIA DE UM PERFUME