poemas, de florbela espanca

 

dedicatória

É só teu o meu livro; guarda-o bem;
Nele floresce o nosso casto amor
Nascido nesse dia em que o destino
Uniu o teu olhar à minha dor!

 

quem sabe?!...

Eu sigo te e tu foges. É este o meu destino:
Beber o fel amargo em luminosa taça,
Chorar amargamente um beijo teu, divino,
E rir olhando o vulto altivo da desgraça!

Tu foges-me, e eu sigo o teu olhar bendito;
Por mais que fujas sempre, um sonho há-de alcançar-te
Se um sonho pode andar por todo o infinito,
De que serve fugir se um sonho há-de encontrar-te?

Demais, nem eu talvez, perceba se o amor
É este perseguir de raiva, de furor,
Com que eu te sigo assim como os rafeiros leais.

Ou se é então a fuga eterna, misteriosa,
com que me foges sempre, ó noite tenebrosa!
..........................................
Por me fugires, sim, talvez me queiras mais!

 

?!...

Se as tuas mãos divinas folhearem
As páginas de luto uma por uma
deste meu livro humilde; se poisarem
Esses teus claros olhos como espuma

Nos meus versos dŽamor, se docemente
Tua boca os beijar, lendo-os, um dia;
Se o teu sorrir pairar suavemente
Nessas palavras minhas dŽagonia,

Repara e vê! Sob essas mãos benditas,
Sob esses olhos teus, sob essa boca,
Hão-de pairar carícias infinitas!

Eu atirei minhŽalma como um rito
Às trevas desse livro, assim, ó louca!
A noite atira sóis ao infinito!...