manga com leite
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n. 1 - agulhas no palheiro Porcaria na cultura tanto bate até que fura. Como este é o primeiro número desta coluna, talvez eu devesse agradecer o carinhoso convite de nosso desesperado editor ou explicar a escolha do nome "manga com leite". Não vou fazer nada disto, pois não vejo necessidade e seria perda de tempo para ambos, leitor e escritor. Vou então direto ao assunto, ou seja, aquilo que chamo de "literatura virtual", coisa que ainda não existe. Sempre que procuro novos autores na internet, sinto-me procurando agulhas no palheiro. Temos uma grande quantidade de e-zines, ou páginas dedicadas a publicar autores inéditos, com contos e poesias de diversos tipos e procedências, e que vêm se proliferando a cada dia que passa, tornando a internet o principal espaço para novos escritores mostrarem seus trabalhos. Mas, o que encontramos neste novo espaço? Basicamente palha, muita palha, em sua maioria palha de péssima qualidade. Vejo as publicações divididas em dois tipos principais. O primeiro abrange uma série de textos publicados em portais e sites mais consolidados, que possuem uma estrutura profissional, ou semi-profissional, e contam com a colaboração de escritores mais experientes, que já vêm flertando com o mercado editorial há algum tempo. Neles encontramos textos de qualidade, no que diz respeito ao cuidado e acabamento dado pelos escritores, mas que se limitam as regras do "bem escrever" e nada acrescentam ao que podemos encontrar nas livrarias. O segundo tipo é mais precário, tem vida curta e periodicidade esquizofrênica. Feitos por jovens, na maioria dos casos, estes pequenos sites abrigam o que há de mais terrível na tal "literatura virtual" e também escondem o que há de mais interessante. É este paradoxo que torna a procura de bons textos na internet uma tarefa difícil e ingrata. Poderíamos nos ater aos sites mais famosos e que contam com colaboradores mais maduros, ficaríamos com textos de boa qualidade, mas que ainda fazem parte das palhas, claro que com algumas exceções - o que só complica mais a coisa. Porém, se quisermos o novo, mesmo que seja estranho e quase sempre desagradável, precisamos explorar os sites "marginais", aqueles que dão pau e que são de difícil navegação, aqueles onde um grupo de jovens, ou mesmo um solitário, publicam seus textos repletos de erros de ortografia e gramática, com histórias batidas ou mesmo sem o menor sentido e visivelmente sem a menor preocupação em ter um leitor sequer. É no meio disto que iremos encontrar a possibilidade de uma literatura diferente, nova, ousada e duradoura, como as agulhas que raramente encontramos no palheiro. Daniel Gomes |
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