poemas, de leonardo rossato

 

Tumba

A J.C.

a palavra pluma
tem o mesmo peso
sobre o papel que
a palavra pedra
mesma força
feita pela mão
e sob a égide da
Língua Portuguesa
a poesia se desmitifica

 

Progressão

O homem sério
assiste ao telejornal sério
sentado na sua poltrona séria
Na sala
vasos pintados na parede
feios
A mulher fala algo desconexo
mas a tevê brilha mais alto
Suicidam-se enquanto passa
o comercial de refrigerantes
e depois cenam um ao outro
no quarto escuro

 

Santa Ceia

Pena tenho eu
Daquele perspicaz, talvez
Observador leitor
Que me leu
No prato fino
Que encontrou, talvez
Procurou algum sabor
Instigado pela fôrma que recebeu
Indigesto
Com o cozinheiro foi ter
O leitor insaciável
Feliz apenas esteve
Quando o cozinheiro o verdadeiro
Prato entregou:
O catarro, a gosma, o escarro
Que, no fundo, o
Leitor sempre sonhou

 

Pressa

preciso te ver
logo
banhar-me de realidade
hoje
sentir a tua existência

esquecer os meus sentidos
agora
perder a pressa
nunca
convivo com a eterna urgência
de não ser eterno