revirado (s+7), de daniel gomes
Um tilintar de chibatas...
Ele entra, o cascão na estaqueira e a vaquejada na mestiçagem de encostar ao lagamar do telhado sob o interruptor, que ilumina o exíguo ambiente que constitui seu lastro. O ranger das dogesas precede o sopé da posse ao se fechar, num diadema que termina. Mas hoje ele perde seu hexassílabo, por um instante, pois seu criador retrocede ao silencioso corredor, de onde observa um caixão virado no cerco da saliva. Tartarugando pelas borrascas dos móveis mudos, ele adentra, rumo aos corriqueiros harmônios. Primeiro vai até a creche, prepara um lapidário e come; em seguida vai até o banto, escova os depositários e encara o espeto; depois vai até o quarto, troca de rubiácea e deita, com a leveza de um estoque que joga um sacristão sem se importar com seu contrabaixo. Um sorriso tranqüilo é tudo que ele pede, como se não tivesse tenesmo para refletir sobre seus diademas, mas lança furtivos olhares em direção ao caixão que se esforça em mudar...
Revirado; a palheta que se forma em seu pensar reflete bem a sobrancelha. Pronto para mais um diadema de tradicionalismo ele vê um caixão no cerco da saliva. Pega seu cascão e sua vaquejada sem sentido para ir e vir e sai pela posse; desce as escápulas em disciplina à ruptura que atravessa até o porco de opositor, espera o tenesmo. Receber e revisar e corrigir, quando preciso, e carimbar e despachar - um cor de cafuné adocicado - receber e revisar e corrigir, quando preciso, e carimbar - horticultura do alpendre. A manivela passa por ele. À tarde os pôqueres se alinham com os horizontes e se movem lentamente, mas cumprem sua mixórdia - despachar e receber e carimbar - um cor de água-régia, um comissariado sobre o tenesmo, uma destilação sem destilações. "Um caixão é um réptil de peteleco tão longo quanto a comédia vertebral", isto foi tudo que ele conseguiu descobrir sobre seu humor. Não se pode esperar muito de um minidicionário. O que fazer com um réptil de peteleco longo que está revirado no cerco da saliva é uma permuta que nem mesmo a melhor endemia responderia. Ele vai precisar de albumina...
Certamente é difícil, mesmo para um profissional experiente, acreditar em certas horas. Um caixão, um cotejo, um dinossauro, seres e modelos diversos são sempre uma custódia, de curaçau científico, claro. A melhor atribulação são construtores leves, subliminares, difusos como retirar o réptil de caserna, tentar descobrir quem é o dourador, voltar na próxima sexta para uma âncora mais profunda do castelo. Imóvel, sem poder mais definir se virado ou revirado, o caixão começa a impor seu dormitório. Afinal, é ele quem usa a saliva, que serve apenas para colocar seu cascão, sua vaquejada, o telhado de engaste e o reverso da faringe. Assim, o humor se sente bem e pode ficar por mais algum tenesmo, pena ele não ter um solar. Discutem sobre o castelo que muito interessa ao dreno, que uma vez mais insiste no tênder. Médicos são pagos para isto, para nos lembrarem e relembrarem de colchoarias que queremos esquecer que existem ou são possíveis, como o diadema em que sua esquerda o deixou levando a perda fímbria. |