um fio de luz
reflexo na lua
trespassa seu pesar
sozinha, na noite.
sonhos despertos em cores
projetam-se difusos
na parede lisa
muda, inocente.
floresce a primeira lágrima
vida que escapa
escura, exasperante.
segue-se o pranto
que alenta, conforta
mas não realiza.
II
uma gota de sono
peso em seus olhos
vermelhos, úmidos
mimo do corpo nu.
dispersa-se a sonolência
serena, iminente
pálpebras sem cor
fechada na noite.
cinzentas, leves
imagens cativas
em desordem.
confunde-se o beijo
tímido, arredio
lábios se tocam.
III
um meneio do silêncio
carícia no pensamento
desperta as sensações
calma, na manhã.
no quarto ainda escuro
leve som do outro
desejado amor
agora, presente.
relance de visão
adentra a penumbra
rarefeita, alegre.
esboça-se o sorriso
que transmuta, liberta
quase pleno.
IV
um sabor de concreto
aspereza em suas mãos
delicadas, expectantes
descortino do sol morno.
esvai-se o lusco-fusco
melancólico, sutil
rostos em metamorfose
dissipado na manhã.
corpos, almas
prazeres reais
e verdadeiros.
ilumina-se o quarto
homem e mulher
envelhecem juntos.