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Vida
nada arrancará teus espinhos
nem umedecerá tuas pálpebras
nada te levará tão longe
nem me fará lágrimas
minhas rosas cítricas
pudicas de sangria
tuas muitas meninas de lua
a tornear jardins de flores mortas
sem coisa alguma para amar, deitar
nem meus anéis soturno vão dissipar
minhas finas roupas perdidas
nada se achará em parte alguma
perdida, sem volta
nada me fará ir à janela
te jogar minhas pétalas fora
meus poucos orvalhos
meu néctar estéreo
meu âmago sem rota
nada te farei contra, minha
eterna, ignóbil existência.
Pena
Talvez se anjo fosse
As palavras caberiam numa pena
Talvez as asas e o chão
Ainda tão longe, meu sorriso
A pequena teia de amores
Dissiparia em teus dedos
Minha pele de nervuras
Tão crus desejos...
Medidos em versos pequenos
Pobre, rimas de anseios
Que ardem e aspiram
Ares tão longes, devaneios
Os que cercam os sonhos
Minhas plumas em tuas mãos
Anjo encarnado, plumas antemão
Bordado de paixões, louca
Faz de tuas nuvens melhor
Lençóis de minhas lamúrias
Que as asas negras, enluaradas
Tristes e falsas, debatem-se
Em teus braços... uma pena.
Absoluto
dentro de mim
estronda o vácuo
toda a falta
imensa e atroz
minha voz que se foi
e é silencio
eu grito
não há escândalo
pois meu peito
sem voz
em eco
só clama
há voltas
e me falta
toda a dor
sem voz
há nos imensos
silêncios
dentro de mim
e me cala.
Em busca do tom
Peco aos rubros e púrpuros sonhos
Que das pétalas em lama
Desfloram, e não há mais cores
Há chama, e, queima do céu
É tarde, essa uma entristecida de azul
Anil, sonhos sem sono e sublime
O mar, um chão a ser pisado
E sugado, meu piso - inerte
Onde areia é o plano - afundo
Peco em desflorar-me sem cores
Sou arte constante em ser
Sendo pecado em mim, apenas
Um céu de cores fortes deixadas
Reflexo de uma água
Que é lama - sem cor
Aos sonhos - desconstruo:
A mim, só há o céu
E, do tom abaixo da alma
A terra, pisada em corpo
Em chama, apenas
Um céu triste, ao entardecer
Arrastando a pele
Sob o rubro Mar.
Dentro de mim, um céu em arte à construção contextual em ser - Há em mim cores, e, um mundo para misturá-las. Há uma tarde entristecida de mim, mesmo ainda, sou, desconstruída sendo. Mas ainda - há o mesmo céu a se formar de desconstruções à crescer. Cores, cores, cores... banais do anoitecer. Dentro de mim há, ar... formas em tons de existir: |
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