manga com leite
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n. 6 – visibilidade do pensamento Chove dentro da alta fantasia. "Podemos distinguir dois tipos de processos imaginativos: o que parte da palavra para chegar à imagem visiva e o que parte da imagem visiva para chegar à expressão verbal. O primeiro processo é o que ocorre normalmente na leitura". Em sua conferência sobre a visibilidade, Italo Calvino revela que seu processo de criação parte do segundo processo: "a primeira coisa que me vem à mente na idealização de um conto é, pois, uma imagem que por uma razão qualquer apresenta-se a mim carregada de significado, mesmo que eu não o saiba formular em termos discursivos ou conceituais. A partir do momento em que a imagem adquire uma certa nitidez em minha mente, ponho-me a desenvolvê-la numa história... à busca de um equivalente da imagem visual se sucede o desenvolvimento coerente da imposição estilística inicial, até que pouco a pouco a escrita se torna dona do campo." Observa também que seu processo de criação literária "procura unificar a geração espontânea das imagens e a intencionalidade do pensamento discursivo". A principal preocupação de Calvino é preservar o que ele classifica como uma faculdade humana fundamental: "a capacidade de pôr em foco visões de olhos fechados, de fazer brotar cores e formas de um alinhamento de caracteres alfabéticos negros sobre uma página branca, de pensar por imagens". "Pensar por imagens" significa visualizar aquilo que é dito, aquilo que está expresso por palavras. Não se trata de algo oposto ou incompatível ao "pensar por palavras". Como coloca Calvino, a criação literária deve unificar estas duas expressões do pensamento, atentando para a reversibilidade destes processos imaginativos. Certamente esta é uma tarefa árdua para o escritor, mas nenhuma outra arte pode alcançar resultados tão significativos como a literatura, campo ilimitado para o exercício desta capacidade humana. Calvino defende que, para ajudar a preservar esta capacidade de pensar por imagens, "o poeta deve imaginar visualmente tanto o que seu personagem vê, quanto aquilo que acredita ver, ou que está sonhando, ou que recorda, ou que vê representado, ou que lhe é contado, assim como deve imaginar o conteúdo visual das metáforas de que se serve precisamente para facilitar essa evocação visiva." Para formar esta parte visual da imaginação literária, o escritor pode recorrer à diversos elementos concorrentes: "a observação direta do mundo real, a transfiguração fantasmática e onírica, o mundo figurativo transmitido pela cultura em seus vários níveis, e um processo de abstração, condensação e interiorização da experiência sensível, de importância decisiva tanto na visualização quanto na verbalização do pensamento". Daniel Gomes |
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