"ars capenga" ou "a falta de fé", de alexandre mendes cunha
Algumas coisas vão perdidas nesse nosso tempo, e talvez nelas nos irmanemos. Nossas trajetórias paralelas não nos fazem ajuntar. Nenhum projeto coletivo segue certo de onde ir e nada que se mostra aos olhos e ouvidos é bom por tempo bastante. Nossa geração não será uma geração. E ainda assim e desta forma é que responderemos ao futuro. E ainda assim seguimos juntos, uns e outros, e os outros. Lygia Fagundes Telles falava em uma entrevista tempos atrás de como sua geração acreditava na "pátria", e de como se viu depois enganada. Difícil saber hoje no que acreditamos, fácil saber que estamos sendo enganados. Inútil e impraticável, entretanto, buscar por quem nos engana. Uma enfadonha e repetitiva cantilena de negações nos irmana e nos envelhece. Nada mais que isto. Mas nisto, um mundo muitas vezes mais amplo e mais colorido do que jamais viu alguém antes de nós. Tempo absurdo e maravilhoso. Sei bem é que a arte hoje anda capenga. Doente de si e de sua falta de fé. Artistas e críticos assumiram finalmente seu caso incestuoso, e depois de longa gestação pariram um artífice talhado para as entrevistas televisivas. Nada mais adequado à arte de hoje que uma explicação descompreensível de seu criador. Outros enfim, assumiriam o silêncio como resposta cheia de idéias, ou as idéias como arte; e aí, aí necas de criação e pitibiribas de soluções inspiradoras. Os esquemas que informam e talham nossa arte, informam antes da necessidade de que se faça Arte, muito mais do que das forças e perfumes da criação. É isto e mais isto, e mais aquilo, e mais vinte páginas de variações sobre o tema. Mas não se assustem! Posfácio é bom lugar do não ler. Melhor lugar dos problemas que não querem atrapalhar, mesmo que insistindo em aparecer no fim. Bom porque em nossa geração cabe qualquer coisa, cabe cada um de nós e cada um dos fanzines que consigamos escrever. Assim, ou quase assim, nos irmanamos. |