porque minha caixa de correio está vazia?, de ubirajara neiva

  Você se lembra daquela sensação gostosa de abrir a caixa de correio e encontrar um envelope com as bordas em verde e amarelo, com selos da fauna e flora brasileira e com letras grandes escritas de caneta bic azul, com o endereçamento para o seu nome?

É, era uma sensação gostosa, algo que despertava uma curiosidade provinciana que, quando aberta e lida por completo, deixava um gostinho de quero mais. E para ter mais era preciso responder, ter todo o trabalho de criação, escrita e o cuidado com a letra, envelope, enfim, o ritual completo até chegar ao destinatário. Depois disto feito, era esperar que chegasse ao destino e que o receptor, ao partilhar das mesmas sensações que você, tivesse o mesmo ímpeto em continuar com o canal de comunicação aberto e enviar uma nova remessa de sensações desconhecidas.

Bem, depois de despertar em você essa vontade de correr à caixa do correio e encontrar uma carta redigida à mão, salvo minha pretensão, claro, sinto muito mas vou lhe dizer uma verdade: "acabou, tá!". É uma triste constatação mas com o advento do famoso e-mail, que quase todo mundo tem e quem não tem fica louco para ter, a antiga carta de três, quatro, cinco páginas escritas com cuidado e prazer, simplesmente, saiu da pauta. E por que?

A alegação da praticidade e rapidez na comunicação é a maior arma desse forasteiro que tem parentes fortíssimos na modernidade. É e-commerce, e-bussiness, e-quase tudo, e basta acessar a internet para encontrar a família do e-mail. Ele é virtualmente potente, não sei quantos megas de capacidade de armazenamento, não sei que velocidade, é tanta coisa que em verdade agente nunca sabe tudo mesmo, quase sempre se sabe muito pouco. Mas o importante é ter um e-mail e usá-lo e divulgá-lo e mostrar que tem e.... essa coisa toda que todo mundo sabe porque ter um significa estar na rede, estar up.

Às vezes procuro meus arquivos com minhas velhas cartas de família, amigos, amores, e vejo o quanto era bom, o quanto era revelador o fato de se abrir um envelope e extrair daquelas simples folhas de papel um conteúdo tão forte emocionalmente. Mas hoje, você acha que escrevo carta? Me envergonho desse depoimento mas acabo optando pelo herói moderno da comunicação, com sua armadura cibernética e suas potentes fibras óticas. Chega rápido, volta rápido, não se suja a mão de cola, não se paga, não se desloca até os correios, enfim, é prático, assim como tudo na "pós-modernidade".

E daí, onde vai essa lorota? Bem, nem eu sei, só sei que gostaria que voltassem os tempos nostálgicos das cartinhas de amor, dos bilhetinhos coloridos, aquele tempo que eu sei que todo mundo se lembra, em que você não ficava simplesmente sentado em frente a uma tela, lendo e dando deletes nas suas correspondências.