manga com leite
|
n. 9 - contra o umbigismo Vamos nesta coluna discutir a questão do "umbigismo", termo que pego emprestado de um amigo. Na última coluna, que fechou a apresentação das idéias de Italo Calvino, expostas nas suas "Seis propostas para o próximo milênio", disse que o mundo é, certamente, maior que nossos umbigos. Talvez esta frase final tenha ficado um pouco perdida, mas agora vamos tratar dela. No primeiro número desta coluna, critiquei o que chamo de "literatura virtual" pela sua grande quantidade de textos ruins e pela escassez de textos criativos. Observem que disse "critiquei", diferentemente da interpretação equivocada, ou talvez distorcida, feita por alguns. Quero agora, apesar das reações que isto irá causar, atacar, com toda a fúria, a literatura do "umbigismo", coisa que nem deveria chamar de literatura. Chamo de "umbigismo" o hábito nojento que muitos escritores "virtuais" têm de pensar que escrever sobre suas vidas, por mais interessantes e venturosas que estas sejam, possa ser considerado literatura. Lamento informar que não é. Literatura é muito mais do que isto, mas é bem provável que as pessoas que fazem isto o saibam, ou talvez não, afinal alguém que escreve, e publica, sobre o que tomou no café da manhã, ou como foi o show de "não sei quem", não pode ter lido sequer um bom livro, no máximo algo do imortal Paulo Coelho. Penso que este número esteja um pouco agressivo e, apesar de não gostar muito de fazê-lo, vou justificar-me agora. Durante muito tempo tenho lido e comentado textos e fanzines publicados na internet. Neste tempo encontrei bons escritores, surpresas agradáveis e amigos interessantes. Mas também encontrei coisas muito ruins, algumas simplesmente indigestas, insuportáveis, porém, tentando manter um espírito aberto e compreensivo, comentei e tentei, disse tentei, discutir com todos os autores, bons e ruins. Nestas conversas e discussões tentei de tudo, conselhos, indicações de leituras, colaborações e também broncas. Não sei dizer o que funcionou, talvez um pouco de cada, talvez nenhum. Sei apenas que muitas vezes uma palavra áspera, mesmo que não ajude a pessoa a encontrar o caminho, a faz parar e pensar. Muitas vezes, quando fiz isto, as pessoas simplesmente sumiram, espero que tenham parado de escrever, pois se o autor não está preparado para a crítica, seja ela construtiva ou destrutiva, não irá fazer uma boa obra. Outras vezes fui amaldiçoado ou ignorado, e uma ou duas vezes funcionou. Esta explicação parece-me agora estúpida, por isto paro por aqui, mas deixo-a para vocês. Na próxima coluna volto a minha tentativa inútil de colaborar para uma nova e melhor literatura virtual, discutindo outras idéias sobre a criação literária. Daniel Gomes |
|