Balacobaco

Planeta Terra

Rio de Janeiro


 

Entrevista com Luiz Antonio Aguiar

 

O Balacobaco entrevistou Luiz Antonio Aguiar. Ele é um dos "cobrões" da literatura infanto-juvenil. Premiado com o Jabuti em 94, o flamenguista Luiz Antonio solta o verbo e manda o sapato em quem acha Literatura Infanto-juvenil algo menor. Neste "colóquio internético", feito via e-mail, ele fala da relação de editora x escritor e de muito mais. Tudo com a certeza de quem escreve há muito tempo e tem quase sessenta livros publicados.

Ah, eu pedi ao Luiz Antonio que escrevesse algumas linhas sobre si. O resultado é a simplicidade de quem é "fera" ou melhor "cobra". Ora, tanto faz...

Luiz Antonio Aguiar: "Tenho 43 anos, quase 60 livros publicados em LIJ. Fui o ganhador dos prêmios Jabuti(94), ABL-UBES (95 e 96) e tive várias recomendações da FNLIJ. Sou casado, sem filhos, mestre em literatura brasileira, animador de oficinas de redação e leitura, tradutor, redator. Moro em Copacabana por vício e virtude, torço pelo Flamengo, acho que FHC é uma farsa cruel, mas enfim, vai se levando..."

Vamos ao Balacobaco!!!!!!!!!!

Balacobaco - Quando descobriu-se escritor? Quais os livros influenciaram a sua formação?

Luiz Antonio Aguiar - Eu me descobri escritor escrevendo e observando que gostava da coisa. Foi com meu primeiro livro infantil: Tristão, as aventuras de um garoto da cidade Grande. Record, 84. As leituras que mais me influenciaram, até então, foram Monterio Lobato e G.García Marquez. Mais tarde, reli Machado de Assis e amei. Foi outro que desempenhou papel decisivo na minha formação.

Balacobaco - Qual o papel do resenhista, do crítico? Qual o melhor caderno cultural entre os jornais brasileiros? Por que? Quem é o escritor brasileiro? Como faz para viver de   literatura?

LAA - O resenhista tem seu papel e campo de ação irrestrito ao circuito profissional da literatura. Na verdade, é coisa diferente e distante da relação entre escritor e público. Os critérios de atuação de um e outro são tão diferentes que é como se estivessem tratando de objetos diversos. O crítico analisa um livro diante de outros livros, de um cânanone literário, da história da literatura. O público lê um livro como parte de sua vida cotidiana. Os cadernos culturais e literários ainda são muito voltados para esse circuito profissional da literatura e pouco para o público. Por isso, são muito semelhantes.

Viver de escrever, para mim, hoje, significa trabalhar de segunda a segunda, doze horas por dia. É delicioso, viver de escrever livros e de prestar serviços relacionados ao mundo dos livros (tradução, copy etc...). Mas não é um trabalho leve.

Balacobaco - Como você vê a pós-modernidade?

LAA - Estou muito distante dessas questões teóricas, hoje. Mas, um aspecto importante da pós-modernidade é descaracterização de uma verdade absoluta, científica ou sei lá o quê, sobre as coisas. Sem verdade, é tudo verossimilhança, e, assim, cosntrução, ficção. Para nós que escrevemos, isso abre uma nova entrada no mundo. Passamos a participar não dos sonhos, nem dos ideais estéticos puros, distanciados do público, mas do cotidiano. Isso é interessante.

Balacobaco - Vejamos, em tempos pós-modernos, como é a relação autor x editor?

LAA - Pela minha experiência, o que um editor não gosta, outro adora. Claro que há livros que não vão vender mesmo, mas às vezes, por agradar a um editor, ele o publicará apesar disso. Entre escritores e editores há briga quando os objetivos são diferentes. O que se deve fazer é procurar uma casa editorial cujos objetivos se encaixem naquilo que se quer que o livro alcance, o tipo de público, de tratamnento gráfico etc...

Balacobaco - O que querem as editoras?

LAA - As editoras querem vender, e projetar a imagem que mais as favoreça no mercado. É um negócio, sem muita complicação. Estética e ideal literário não entram em questão, na maioria dos casos. Nada a se estranhar nisso; é uma empresa inserida no mundo empresarial, nada mais.

Balacobaco - Escrever para crianças e adolescentes é considerado algo menor?

LAA - Escrever para jovens e adolescentes é considerado algo menor pelos bitolados que se negam a enxergar a forma atual da litreratura - um processo de comunicação. Quem ainda endeusa a literatura como uma produção estética descontaminada de público, detesta litreratura infanto-juvenil; para esses, LIJ nem existe. Já quem enxerga que toda literatura é diálogo com um determinado público, não discrimina a LIJ e vê sua importância capitral no mercado brasileiro. Creio que o que há de mais avançado, mais criativo e variado, mais repleto de artífices em busca de aprender o ofício (escritores dedidcados a escrever para seu público), está hoje na LIJ. É o que melhor se produz em literatura brasileira.

Balacobaco - Qual a principal característica deve ter um bom escritor?

LAA - Admitir hipóteses pouco plausíveis e convencer os outros destas hipóteses ou de sua virtual viabilidade por escrito. Para isso, há que se ler muito e aprender. Viver também ajuda.

Balacobaco - Caso conselho fosse bom ia-se cobrar, mas esquecendo-se do ditado, qual o conselho daria para quem está começando?

LAA - Ler insistentemente e escrever idem.

Balacobaco - Qual o papel do escritor na sociedade?

LAA - Nenhum. É um caso de indivíduo para indivíduo, cada um "se formula a gosto".

Mais sobre Literatura infanto-juvenil e Luiz Antonio Aguiar no site do Doce de Letra. Anote aí http://www.docedeletra.net . Vale a pena conferir. É um site demais!!!!!