Balacobaco

Planeta Terra

Rio de Janeiro


 

Entrevista Angela Carneiro

 

Sou cristã, mãe, amiga, professora, apaixonada e feliz. Estou sempre dois graus acima. Dou aulas na FAU /UFRJ há 20 anos, tenho dois filhos lindos, bons, bem resolvidos, adoro ser mãe. Gosto de jovens, de gente inteligente, de gente original e de gente boa. Coleciono bolas de gude e caleidoscópios. Ah! ovos e caixinhas! Sou Mestre em Educação, iniciei um doutorado mas não terminei. Adoro viajar, sou tradutora formada de inglês - português, falo italiano e francês também. É isso.

Balacobaco - Os escritores para público infantil e juvenil são os mais bem sucedidos em suas carreiras. São os que ganham mais dinheiro mas não têm o reconhecimento do público em geral.

Angela Carneiro - Quem disse isso? Só existem quatro escritores para crianças que se enquadram nisso aí: Ziraldo (mas não só por causa dos livros) Pedro Bandeira, não sei o que Marinho (autor de Gênios do Crime) e Marcos Rey.

E são conhecidíssimos.

Certamente o que você quer dizer é que a INDUSTRIA dos livros infantis é a mais bem sucedida juntamente com os Exótéricos.

B - É possível viver de literatura no Brasil?

AC - Em geral, não, mas alguns o conseguem, Vide Paulo Coelho.

B -Por que escritor nunca diz que ganha dinheiro com literatura?

AC - Porque é verdade, ué! De vez em quando pinta uma grana de uma venda, fora isso? Já nos EUA, uma ediçãozinha qualquer já começa com dez mil exemplares. Aqui, é sortudo o escritor que consegue que seu livro tenha sua primeira edição com 2 mil exemplares. Dez mil? Só Ziraldo. Temos 30 % de analfabetos no Brasil, e 50% de professorado leigo. Como é que você quer que literatura venda?

B - Como vê os que encaram a literatura juvenil como algo menor?

AC - Nunca ouvi ninguém achando isso.

B - Você é dona de um texto poderoso. Quais foram as suas influências?

AC - Obrigada pelo Poderoso. Não saberia dizer quais as minhas influências. Só sei que fui rato de biblioteca.

B - Você navega na internet há um bom tempo. Em que a rede pode auxiliar na formação de leitores? Qual uso faz da internet?

AC - Começando pela última pergunta: além dos mails, a pesquisa, vista de páginas de amigos, uso de cartões virtuais, mas, principalmente, uso BBS para me expressar. Não tenho a mínima idéia quanto ao lance da formação. Estamos começando no mundo virtual e já estamos bastante adiantados, porém, ainda é pouco o tempo para sair desarvorando a dar opinião a respeito das consequências. Eu uso como uma biblioteca para pesquisa. Sei que ainda subutilizamos o potencial. Muita gente perde tempo na Rede com pornôs ou chats vazios cheios de he he eh her e bobagens. Mas, se pensarmos na quantidade de gente que podemos atingir, creio que MUITA coisa grandiosa poderia ocorrer. Poderíamos realmente influenciar opiniões; trocas ágeis de informações para pesquisas etc.

B - Há diferença entre o "jeito literário do olhar" (enfoque) feminino e o masculino?

AC - Sem dúvida. E também identifico um "jeito gay". A escrita feminina é diferente. Tanto que para escrever o Caixa Postal, eu quis escrever as cartas de LEO como homem. Antes de "encarnar"o Leo , lia várias cartas de amigos meus.

B - Existem distorções na escolha do livro para crianças. Tive que ler Graciliano com 10 anos, num sou Rimbaud...

AC - Graciliano Ramos, em geral é dado no segundo grau. Nunca o vi antes disso. E não é livro para criança. Eu não sei, eu li Sartre e Kafka aos 14 anos. Adorava, por sinal. E, ao mesmo tempo, lia "Meu Romance" das bancas de jornais. Vejo no meu dia a dia de camelô cultural algumas distorções sim. Por exemplo, recebi um Mail de uma professora de sampa dizendo que adotou o meu livro O Primo do Amigo do Meu irmão mas não entendeu nada, era muito confuso, e não sabia o que pedir para prova. Fui indelicada, claro, se ela não entendeu, por que adotou? - primeira distorção, o professor não faz parte do processo de seleção Prova?? Que idéia esquisita! Nada de provas! Ler é diversão.

B - Vc é professora de artes gráficas... A poesia visual não te reclama espaço?

AC - Sinceramente? Acho bobagem. A poesia concreta já aconteceu. em 1973 eu vibrei! Achei o máximo! Um mundo se abriu! Agora chega. Naquele momento fazia sentido, agora é reiventar o avião. Estamos numa época engraçada; todo mundo escreve poesia mas ninguém lê.

B - Em que trabalha no momento?

AC - Além de aula? projetos de textos? No momento estou me dedicando aos estudos de francês e outras coisas necessárias pois passei para uma bolsa de trabalho de um mês em Paris. No meu HD tenho 3 projetos de trabalho voltados para visitas de clássicos, como Shakespeare e Voltaire. Terminei ano passado um musical, também estou atrás de produtores.

B - A criança tem uma temática preferida? E você?

AC - Acho que seja mais individual, muitos gostam de aventuras, mistério... Também não. Tenho gêneros preferidos: não gosto de aventuras.

B -Vc tem algum mote, alguma epígrafe que a acompanhe?

AC - Vários, mas não saberia no momento citar um que realmente impressionasse.

B - Qual o papel do escritor na sociedade?

AC - É um intelectual especial. Como artista , tem o dom de previsão, de profecia baseado na intuição criadora. Como intelectual, tem o jeito de influenciar umas duas pessoas que influenciarão outras tantas... e assim vai.