Balacobaco

Planeta Terra

Rio de Jaeiro

 


ENTREVISTA DE FLÁVIO VILLA-LOBOS

 

Flávio Villa-Lobos nasceu em Amparo/SP em 25/04/54. É formado em Letras e Administração de Empresas pela PUC de Campinas/SP. Escreve poemas desde a adolescência e publicou seu primeiro livro - "VISÕES ADOLESCENTES" - em 1996, pela Editora Alínea. Utiliza a Internet como principal veículo de divulgação de seu trabalho literário. Seus poemas estão presentes em dezenas de sites aqui no Brasil e no exterior e em várias antologias e coletâneas. Atualmente, está prestes a lançar seu segundo livro de poemas "JADE", em edição bilíngüe português/inglês, pela Editora Komedi.

Balacobaco - Você escreveu "Visões Adolescentes". Como é escrever para os jovens? Valeu a empreitada?

FV - Na verdade, escrevi esses poemas em minha juventude e esses escritos ficaram guardados por mais de 25 anos. Não tinha intenção de publicá-los, mas a insistência de amigos e o convite do editor venceram minha resistência. Fiz uma revisão, mudei alguns versos, inclui outros e o livro tornou-se uma realidade. Mas mantive intacta a idéia original de cada poema. Explico isso na apresentação do livro. A enorme receptividade dos jovens me animou a retomar o ofício maravilhoso (às vezes ingrato, eu diria), de escrever poemas. Minha página na rede (www.correionet.com.br/~lobos) recebe uma média de 950 visitas/mês e guardo com carinho as mensagens de incentivo que recebo em minha caixa postal eletrônica.

B - O que fez parte da sua formação literária? Quais os escritores que fizeram a sua cabeça?

FV - Bem, sou formado em Letras (Português/Inglês) e, afora todos aqueles autores que estudei no ginásio e na faculdade, não posso negar a influência de Carlos Drummond de Andrade, Manuel Bandeira, Fernando Pessoa, João Cabral de Melo Neto, Cecília Meireles, e mais recentemente, Manoel de Barros, José Paulo Paes, Hilda Hilst e tantos outros. Claro, sem contar os principais poetas ingleses, americanos e franceses, aqueles que todos já leram um dia...

B - Alexei Bueno afirma que a poesia atual é "idêntica e sequinha como coco de cabrito". Como lhe parece esta questão? Concorda?

FV - Em primeiro lugar, acho que a afirmação dele deveria ser que a poesia atual é "idêntica e sequinha como coco de galinha"... Só prá rimar, né? Agora, falando sério,penso que o Alexei quis dizer que não existe hoje um poeta ímpar, diferente, com estilo novo de fazer poesia e de fazer boa poesia . É muito difícil alguém se sobressair nesse mar de livros que inundam o mercado atualmente. Nunca se publicou tanto, quer pelas editoras, quer pelas chamadas edições do autor (que eu costumo chamar de edições de horror...), sem contar as famigeradas antologias e coletâneas, que Drummond chamava de caça-níqueis...Muito complicado isso, principalmente num país como o Brasil, onde ninguém lê, a mídia é dirigida para outros assuntos mais intere$$ante$, etc... Aliás, recomendo aquele filme "Rede de Intrigas - NETWORK", Oscar de 1976, que retrata fielmente o que está acontecendo hoje no Brasil, essa onda toda de "tudo por dinheiro"... Em contrapartida, e paradoxalmente eu diria, de vez em quando a gente tropeça em alguns poemas geniais, verdadeiros lampejos de originalidade que o Alexei tanto reclama (se realmente foi isso o que ele quis dizer).

B  - A Internet é um bom caminho para tornar-se escritor? Qual a importância da Internet na sua obra?

FV - Acho que a Internet é uma boa fonte para coleta de informações, pesquisa e entretenimento. Creio que o caminho para tornar-se escritor ainda passa por uma boa formação educacional, muita leitura, consciência crítica e o exercício da cidadania. Nesse particular, vejo a Internet como uma ferramenta a mais para atingir tais objetivos. No mais, a importância dela em minha obra, além do que eu já falei, é a de possibilitar a divulgação de meus poemas para um grande número de pessoas em pouco espaço de tempo. E nisso ela é um instrumento quase imbatível.

B - Qual o livro seu que mais o personifica? Fale um pouco!

FV - Até agora, escrevi quatro livros, todos de poemas: "VISÕES ADOLESCENTES", publicado em 1996;"JADE", sai agora em julho; "ENIGMA VELOZ" e "DANÇA DAS PALAVRAS". Deles, o que mais se aproxima da resposta a essa sua pergunta é o terceiro livro, "Enigma Veloz". É o que mais me agrada, talvez pela lapidação das palavras que fiz de maneira quase que obsessiva. Sim, caro Rodrigo... sou partidário daqueles que defendem a idéia da Lygia Fagundes Telles - 10% de inspiração e 90% de transpiração... Costumo dizer que a pérola é uma jóia maravilhosa, mas você tem que mergulhar até o fundo do oceano para trazê-la à luz do sol...

B  - Você escreve com metros e rimas... O que é "moderno" para você?

FV - Coloquei uma citação de Drummond no meu livro de estréia, que traduz o que penso a esse respeito. Palavras dele: " Liguei-me na mocidade ao movimento modernista brasileiro, que se afirmou em São Paulo, em 1922, e que deu maior liberdade à criação poética. Liberdade que não é absoluta, pois a poesia pode prescindir da métrica regular e do apoio da rima, porém não pode fugir do ritmo, essencial à sua natureza. Há muitas experiências de vanguarda, procurando abolir tudo o que caracteriza a arte da poesia, mas ninguém até hoje conseguiu acabar com a melodia e a emoção do verso autêntico."

B  - Quanto tempo do seu dia destina à literatura? Como é a sua rotina de escritor?

FV - Bem, leio todos os dias. Gosto muito de ler. Para mim, ler é uma necessidade. Revistas, jornais, a própria Internet e livros, muitos livros. Quanto à rotina de escritor, sou totalmente imprevisível: faz mais de um ano que não escrevo um verso sequer, quanto mais um poema... Atualmente, estou revisando e lapidando poemas inéditos. É, Rodrigo...estou em fase de hibernação, só prestando atenção nas coisas, nas pessoas, ouvindo músicas. O que faço é anotar em uma agenda idéias, palavras, acontecimentos. De repente, vem aquela vontade irresistível de escrever... e os poemas acontecem.

8 - Teve algum incentivador? Alguém que lhe deu apoio... fale sobre...

FV - Elogio que vem da família não vale. Nem agrado de amigo... No meu caso, aconteceu um fato engraçado: uma grande amiga minha um dia leu alguns poemas e achou-os horríveis, péssimos. Fiquei muito chateado com o ocorrido. Claro, você sabe que todo poeta se acha o máximo... Não me conformei e reescrevi aqueles poemas todos e levei-os para uma segunda leitura. Ela leu, olhou prá mim e disse uma frase que nunca mais esqueci: "Flávio, aquilo foi uma provocação - eu já havia gostado de seus poemas, mas saiba que tudo na vida pode ser refeito e melhorado sempre e sempre. Só assim chegaremos próximos da perfeição." E, de fato, os poemas ficaram melhores do que estavam antes...

B- Como definiria poesia e poema?

FV - Mas que pergunta! Você logicamente não vai querer a definição que se encontra em qualquer dicionário... Sei que é errado, mas não faço distinção entre uma ou outra. " O importante é que a nossa emoção sobreviva" (Mordaça - Paulo César Pinheiro).

B 0 - Qual o papel do escritor na sociedade?

FV - Escrevi um poema chamado "POETA", que faz parte do "Visões Adolescentes", em que procurei uma definição para essa palavra. Uma das estrofes diz assim:

"Ser poeta é combater o tédio

daqueles que só vêem o óbvio.

Arrancar-lhes a fórceps

o encantamento adormecido

pelo cotidiano."

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