ENTREVISTA COM HERON MOURA
Dados sobre o autor: Nasceu em Recife, em 1963. Transferiu-se
para Florianópolis -  SC em 1986, a fim de cursar Mestrado em
Lingüística na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
na qual entrou como professor concursado em 1990. É Doutor em
Lingüística pela UNICAMP(1996). Estudou também na  Escola  de
Altos  Estudos em Ciências Sociais, em Paris, no ano de 1994,
como  parte  de seu Doutorado.  Em 1987 saiu o  seu  primeiro
livro  de  poemas  - Pergaminho-, publicado pela  Editora  da
UFSC. Em 1995, publicou Margem Móvel, também pela Editora  da
UFSC.  Vendedores de sono e outros poemas (Ed.  Nanquim,1999,
São  Paulo)  é seu terceiro livro de poemas. Por  esta  obra,
recebeu   o  Prêmio  Minas  de  Cultura-1998,  cuja  comissão
julgadora  contava com Armando Freitas Filho e Duda  Machado.
Vendedores  de Sono concorreu com mais de 1300 livros.  Heron
Moura faz atualmente seu pós-doutorado em Paris.

                                   Paris, 22 de março de 2OOO

Qual a influência da fotografia e da pintura na sua poesia?
-  A fotografia não  influenciou em nada minha poesia, mas  a
pintura sim. O que me interessa  na pintura é o trabalho  com
a  luz, e a dinâmica das formas. Ou seja: aquilo que torna  o
quadro  uma  representação dinâmica do espaço. O controle  da
luz é uma forma de lidar com o espaço, e de um modo geral com
a vida.
O  tempo  é  motivo de reflexões: “o tempo no  corpo  é  mais
torneado/nas partes mais sensíveis “. O tempo é  um  escultor
de sensibilidades?
-  Eu tenho uma relação complicada com o tempo; é como se ele
fosse  espaço,  como  se  eu  andasse  dentro  dele,  mas  ao
contrário  da  ordem que impomos ao espaço (nas cidades,  por
exemplo), o tempo é impensável.
Sobre o espelho ainda você nos diz que é um “Embalsamador  de
gaviões/(perpetuando uma morte nunca completa)”. O narcisismo
é também uma tentativa de amar à eternidade?
-  Parece  que  não conseguimos mais pensar  o  homem  sem  o
narcisismo; mas quero crer que se trata de um vício de  nossa
civilização;  na  nossa natureza há vícios  mais  básicos.  O
narcisismo é circense, como mostra o poema.
”As  colunas da luz, nunca em ruínas,/expõem ao olho a cidade
no osso.” A luz escolhe o que deve ser iluminado?
- Não, a luz ilumina até um quarto de janelas fechadas. Mas a
gente, com muito esforço e quase inutilmente, pode escolher e
intervir no olho, que é o que define a luz para a gente.
No  poema  Canto  do  homem na sala está escrito:  “preso  na
quarta  parte da esfera/nunca completa nos éles da  sala”.  A
poesia também está na eometria do poema?
- A poesia é a geometria do poema.
Como foi receber o prêmio MINAS de CULTURA?
- Foi muito bom.
O que deve ter no poema de Heronides Moura?
- No meu poema deve haver vida.
Qual uso faz da internet?
-  Sou viciado em internet; para mim é ótimo, pois detesto TV
(exceto  pelo  futebol). Quando voltar  ao  brasil,  pretendo
fazer um bom site com meus poemas.
O poeta brasileiro é um erudito? Quem é o poeta brasileiro?
-  Lembro Fernando Pessoa, que dizia que um poeta não precisa
saber  resolver  uma equação, mas se ele sabe  ele  é  melhor
poeta.  Quanto  ao  poeta brasileiro, a fauna  é  variada.  O
Brasil é terra de poetas, alguns até bons.
Tem alguma epígrafe que o acompanhe?
- Não tenho epígrafe nem epitáfio que me acompanhe.
Qual o papel do escritor na sociedade?
- O papel do poeta, em especial, é ser profundamente rebelde.
Quanto mais
técnico, mais rebelde.
 
v o l t a