ENTREVISTA COM ANGELA LAGO
Nasci em Belo Horizonte em 1945. Morei na Venezuela e na Escócia.
Faz  vinte anos que escrevo e desenho livros para criança.  Expus
meus  trabalhos  em muitos países e já publiquei  até  na  China.
Ganhei  prêmios na França, na Espanha, na Eslováquia, no Japão  e
no  Brasil.  Mas meu melhor prêmio é quando uma criança  me  fala
alguma  coisa simpática. Que mais? Sou casada há 30 anos e  tenho
um  gato.  Meu  marido tem três cachorros. E na  nossa  casa  nós
recebemos  visita  de  amigo gente e de amigo  caxinguelê,  jacu,
sabiá, bem-te-vi, viuvinha, sanhaço, mico-estrela. Os micos comem
na nossa mão.
Como  foram  as  primeiras sensações no  caminho  da  leitura?  A
literatura infantil é ainda mais lúdica? Quando percebeu que  era
este o seu caminho?
-  Aprender  a  ler teve a magia de um rito de passagem.   Mas  a
literatura infantil está muito ligada à cultura oral.  Tenho  uma
espécie   de  devoção,  desde  menina,  pelos  contos  populares,
incluindo  os  de fada.  Assim que aprendi a ler, corri  para  os
autores que anotaram esses contos. Esse elo entre a cultura  oral
e a cultura escrita é talvez meu maior interesse ainda hoje.
O seu site é bem sofisticado. Como surgiu a idéia de construir um
sítio cibernético? Quem o criou?
-  Eu  mesma  criei  e  construo  meu  site,  que  não  acho  tão
sofisticado assim. Fiz a primeira versão do Ciber-espacinho,  faz
três ou quatro anos, disposta a ir atrás dos meus leitores. Atrás
mesmo,  pois  meus  leitores, as crianças, estão  muito  a  minha
frente.  Quero ir atrás e aprender com eles a falta de medo  para
brincar e experimentar. E também a liberdade no uso da cor  e  do
traço, a espontaneidade poética da linguagem...
O que o computador pode ajudar na formação de novos leitores?
-  O computador fornece leitura. A Internet já é a maior livraria
e  logo será a maior Biblioteca. Imagina uma pessoa vivendo em um
vilarejo e tendo ao alcance da mão todos os clássicos de todos os
tempos.  O  computador  é  essa  possibilidade.  Ainda   é   mais
confortável ler nesse objeto fascinante de papel, que não  trava,
e  obedece o comando simples do nosso dedo passando a folha.  Mas
as novas mídias construirão suas próprias fascinações.
Por  que  há pouco espaço para divulgação de literatura  infantil
nos jornais?
- Pensando bem tem pouco espaço para a literatura em geral.
Você  faz  a  parte de ilustração de seus livros. Como  é  a  sua
relação  com as palavras? E com o desenho? O que é mais "natural"
a palavra ou o desenho?
-  O  desenho  é  mais "natural". Tenho livro sem  texto,  só  de
imagens, de tão difícil que acho escrever.
Como é o seu processo de criação?
-  Começar de novo mais uma e mais outra vez. Meu trabalho é  dos
que ficam pronto quando a gente desiste.
Como  conseguiu  fazer  um site didático e interessante  para  as
crianças?
- Fico feliz com a pergunta. Nós, da área da literatura infantil,
temos  em  geral muito medo de ensinar. Os primeiros livros  para
crianças foram tragicamente didáticos e nós não queremos  repeti-
los.
Por  sinal, aproveito sua entrevista para pedir visitas, críticas
e  comentários  de  pais, professores, especialistas  ou  simples
palpiteiros. Os simples palpiteiros são muito bem-vindos. Palpite
de   criança  então...  é  uma  alegria.  Meu  http://www.angela-
lago.com.br,  precisa  saber como está sendo  visto,  para  poder
melhorar.  Essa  mídia não é como o livro, objeto  perfeito,  que
nasceu  pronto.  A gente sabe como as pessoas pegam  um  livro  e
viram  uma página. Assim mesmo é tão difícil desenhá-lo.  Imagine
aqui  onde está tudo ainda a ser descoberto. No meu ABCD,  que  é
para  crianças que ainda não sabem ler, estou tentando criar  uma
interface sem palavras escritas. Estou apanhando.
Você morou na Venezuela e na Escócia. Qual a imagem da literatura
brasileira fora do Brasil?
-  Morei na Venezuela e na Escócia faz muito tempo. Naquela época
a  literatura infantil brasileira ainda não era tão expressiva. A
ilustração  e  o texto brasileiro para crianças começaram  a  ser
reconhecidos mais recentemente. Tenho, como outros colegas,  sido
convidada  com freqüência a participar de seminários e congressos
no  exterior. Tenho também publicado e recebido prêmios em outros
países. Estamos sendo vistos.
Tem algum mote ou alguma epígrafe que a acompanhe pela vida?
- Não.Não tenho constância para tanto.
Qual o papel do escritor na sociedade?
-  Talvez servir de espelho, já que reflete seu tempo.

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