ENTREVISTA COM LOBÃO

O Cantor Lobão tem mais de vinte anos de carreira. Nos idos
dos  anos  oitenta, fez parte da geração que revitalizou  o
rock  brasileiro. Daquela época, VIDA BANDIDA foi o LP  que
mais  vendeu e é uma sombra inseparável, sendo seu  formato
musical  aquele preferido pelas gravadoras, sempre querendo
repetir/reprisar aquilo que é bem sucedido mas não faz mais
a cabeça do cantor.
Lobão  vem  dizendo não há quase dez anos, não  ao  formato
antigo,  não a mesmice, não ao rock brega pop. O  resultado
disso  foi a ruptura com gravadora Universal. Tal  fato  se
deu antes de concluir a trilogia NOSTAGIA DA MODERNIDADE.
Mas  Lobão não se deu por vencido e gravou o seu novo disco
com  seus próprios recursos. Montou um esquema de marketing
envolvendo internet, rádios comunitárias, vendas  em  banca
de jornal e livrarias.
A trilogia se completa com A VIDA É DOCE. Nada de regime.


 
A  VIDA É DOCE, seu mais recente álbum, é uma “antítese”  à
VIDA  BANDIDA. O que mudou no Lobão? Por que todos  esperam
sempre as mesmas coisas, dos artistas?
- Eu não creio que A VIDA EH DOCE seja uma antítese do VIDA
BANDIDA.  Eu  sempre digo que sou o mesmo  e,  no  entanto,
outro.  Para mim,todo o artista de verdade,esta  sempre  em
movimento,mesmo ate aqui , neste Brasil.
Você  criou  um inteligente aparato de “mídia  alternativa”
para vender o seu disco.  Aonde seu CD pode ser encontrado?
-  O  cd  pode ser encontrado nos 20.000 pontos  de  vendas
(bancas  de  jornal), nos megastores (Saraiva,FNAC,Nobel,La
Selva,etc..)  e  também  na  boas   livrarias   (Letras   e
Expressões,Travessa,Leonardo   Da   Vinci,    Da    Estação
Botafogo,etc...),  além  disso,  as  vendas   ocorrem   via
internet  ,através  do  meu site (www.lobao.com.br)  ou  em
outros  tantos  como:  Submarino, Starmedia,  Amazon,  MID,
Escala,etc...
O  DO  IT YOUR SELF atingiu o ponto máximo em sua carreira.
Você fez a capa >do CD, planejou, faz o marketing e etc.  O
que não fez para concretizar A VIDA É DOCE?  O que o seu CD
tem que os outros não têm?
-  O  Projeto  consiste  numa  revista  de  20  paginas,com
excelente    encadernação,    ensaio    fotográfico,poesias
intertextuais, as letras,
os  créditos,  etc...  O cd é inédito e  numerado,e  contem
também um cdrom bastante completo.
Bem,fora  isso  acredito que, musical  e  artisticamente  o
projeto por
inteiro,fuja bastante dos padrões encontrados  nos  cds  de
linha ortodoxa.
Existe  algo  além de dinheiro na cabeça dos  diretores  de
gravadoras?
- Sim, muito coco!!!!!
Concorda  com alguns de que o pagode é uma distribuição  de
renda, uma
“revolução social”?
-  Não,em absoluto. Mais me soa assistencialismo cabotino e
uma  atrofia do genero através de mórbidas especulações dos
gênios do marketing das gravadoras, transformando o singelo
em gôndolas de supermercado.
Antes  os  jovens  cresciam  com Chico,  Caetano...  depois
Lobão, Renato,
Cazuza... E agora José?
-  O mundo não vai acabar,pelo menos por enquanto. Temos os
fluxos  e  temos os refluxos e eu acredito que tenha  muita
gente  nova  e  talentosa  escondida  por  ai,pronta   p’ra
mostrar o seu trabalho. Por sinal,acredito eu que a próxima
tendência da rapaziada mais esperta será aplicar  o  do  it
yourself  e sentir um arrepio de vergonha em sequer  passar
pela  portaria  de uma gravadora oficial.  Ta  começando  a
pegar  mal  ser contratado de gravadora. Os artistas  nesta
situação  não  escapam  do halo que  os  envolve  de  meros
assalariados.
Um  LP  custava cinco reais. Dizendo que a qualidade do  CD
era  melhor, as gravadoras lançaram o CD com um preço  seis
vezes  maior.  A  gente, o povo, é idiota?  Temos  cara  de
palhaço?
-  O  pior  é  que  temos.  O marketing  das  gravadoras  é
grosseiro. Ou seja , eles vão enterrando goela abaixo,  vão
empurrando   com  a  barriga  qualquer  merda   empacotada,
contando   de  antemão  que  sejamos  acéfalos,passivos   e
invertebrados. E,infelizmente,as estatísticas
assim o confirmam.
O  MP 3 surgiu e colocou os pontos nos is. Dentro de um  CD
cabem 200 músicas. 
As gravadoras terão força para acabar com o MP3?
- Não, não têm, mas temos que estar atentos p’ra não sermos
maniqueístas  com  a  MP3.  Isso é  apenas  uma  ferramenta
humana, demasiado humana.
Como  não  pedir  para  um  cidadão  que  ouve  uma  música
descartável para não comprar um cassete muito mais  barato?
Para uma música descartável um CD descartável, não?
-  Sim,a  única  forma de combater este tipo  de  oferta  e
procura,  custo  e  beneficio,  é  baixar  o  preço  do  cd
descartável  ou  investir em algo mais perene.  No  fundo,o
certo seria fazer as duas coisas.
Você  faz  uma espécie de diálogo intertextual  com  o  seu
passado. Isso está presente nas canções UMA DELICADA  FORMA
DE  AMOR, A VIDA É DOCE. Você faria tudo o que fez do mesmo
jeito?
-  Eu  sou  uma  somatória do que fui e não tenho  a  menor
capacidade de abstração para me ver como fruto de uma outra
coisa que eu não sei como poderia vir a ser.
O cantor tem um papel social?
-  Existe arte e existe entretenimento. Quem lida com  arte
lida  com  algo  bem  mais abrangente  e  vasto,  tanto  na
horizontal quanto na vertical, passando até pelo  social.
Entretenimento  é  uma  atividade  passiva   e   não   raro
onanista,onde o entretenedor é apenas uma senha para que  o
espectador compraza-se de si por si próprio e suas mórbidas
recordações de impotência.

 

   

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