L E Ro

 

   



   "Lucas de Souza nasceu em Vitória, Espírito Santo, no dia  16
   de  novembro de 1982. É estudante e está terminando o segundo
   grau  no  Colégio Americano Batista de Vitória. Desde  quando
   descobriu que era poeta, aos 13 anos de idade, não mais parou
   de exercitar a bela arte."
   
   Canção da várzea
   
   Desmancho meus olhos turvos
   No suscitar dos alvéolos
   Embebedados das várzeas.
   Teço nos ares mais límpidos
   
   Das imutáveis miragens
   Minha canção liberdade.
   Venho do estreito da fonte
   Onde ganhei dos meninos
   
   Um coração de bravura.
   Lá onde o grito é mais forte
   Que as cordilheiras de espanto
   Que se levantam do chão.
   
   Venho cansado da lida
   Que carreguei nos meus ombros
   No corredor da incerteza.
   Quem traz comigo no peito
   
   Uma fogueira apagada
   Pelo cair do sereno?
   Vou batalhando na terra
   As mil certezas que tenho
   
   Abarrotadas no espírito.
   Vim com a barca do rio
   Que desce lenta mas sabe
   O rumo desta canção.
   
   
   Entrevista
   Lucas de Souza conversa com Seomario
   
   Seomario -  O  que vc estuda? e existe algum vínculo  com  a
   poesia?
   
   Estudo  o  primeiro ano do ensino médio no colégio  Americano
   Batista de Vitória. Infelizmente não há nenhum vínculo de meu
   colégio com a poesia, os professores de literatura são fracos
   e indiferentes, apesar da mensalidade salgada. A gente lá vai
   batalhando  muito,  temos  que  nos  esforçar,  mas   o   meu
   envolvimento  com a poesia me ajuda bastante. Proporcionou-me
   um  conhecimento  abrangente em termos literários;  tanto  de
   autores e obras como de vocabulário e técnicas. Isso faz  com
   que eu passe por cima dos empecilhos impostos pelo mau ensino
   e  possa  também ajudar os colegas de turma que não  são  tão
   envolvidos   com  literatura.  Infelizmente  nós,  estudantes
   brasileiros,  temos que aturar o látego injusto  que  são  os
   professores galochas.
   
   Seomario - O que é poema?
   
   É   um   texto   escrito   em   versos   que   não   precisa,
   necessariamente, conter poesia. As pessoas têm a idéia de que
   num  poema tem que haver poesia, o que não é verdade. Existe,
   é  claro, o "poema em prosa" que, logicamente, contém poesia.
   Neste  binômio o vocábulo "poema" designa a poesia,  enquanto
   "prosa"  guarda apenas estrito sentido formal. Tudo no  poema
   está  a  serviço  de  uma  unidade, na  qual  a  poesia  pode
   inscrever-se ou não. Unidade formal e semântica não significa
   poesia,  mas  exigência  mínima  para  que  o  texto  adquira
   estatuto  de poema. É importante que não haja confusão  neste
   sentido.
   
   Seomario - O que gosta de ler?
   
   Poesia,  principalmente.  Mas  também  sou  muito  ligado   à
   filosofia. Gosto de me sentar no sofá depois do almoço e,  ao
   som  de Brahms, me deliciar fazendo longas leituras de Hegel,
   Kant,  Rousseau  e,  mais atual, o grande  Bertrand  Russell.
   Também  gosto de contos e crônicas. Drummond é  um  dos  meus
   prediletos,  como  Cecília Meireles, Luiz  Vilela,  Stanislaw
   Ponte Preta, Rubem braga (de minha terra), Fernando Sabino  e
   Machado de Assis também são. No momento tenho lido muito João
   Guimarães  Rosa. Fui a um sebo aqui perto de casa e encontrei
   ótimas  obras  dele.  As leituras de  "Noites  no  Sertão"  e
   "Grande  Sertão: veredas" foram indiscritíveis. Sou,  também,
   um  ávido  leitor  do  Erico Veríssimo e  do  Gabriel  García
   Márquez.  Acho que "Cem anos de solidão" foi um dos  melhores
   livros que já li.
   
   Seomario - Quais os poetas que mais gosta?
   
   Dos que mais gosto, posso destacar Fernando Pessoa, Thiago de
   Mello,  Camões, Homero, Dante, Ferreira Gullar, Alexei Bueno,
   Castro  Alves,  Adélia  Prado, Cecília  Meireles,  Alan  Põe,
   Byron,  Gonçalves Dias, Carlos Nejar, Carlos Drummond, Manoel
   de Barros, Manuel Bandeira, Millôr Fernandes, Mario Quintana,
   João  Cabral  de Melo Neto, Pablo Neruda, Lorca, Shakespeare,
   Cláudio  Manoel  da Costa, Olavo Bilac, Vinícius  de  Moraes,
   Leminski, Cassiano Ricardo, Cruz e Sousa, Augusto dos  Anjos,
   Orlando  Tejo,  Florbela  Espanca e muitos  outros  que  peço
   perdão por não lembrar agora.
   Comecei  a ler poesia desde muito cedo. O primeiro livro  que
   li  foi um do Thiago de Mello que uma amiga me emprestou.  Eu
   tinha  treze anos e fiquei vislumbrado com o modo que "aquele
   homem"  dizia as coisas. Depois disso não parei mais de  ler.
   Foi um verdadeiro despertar na minha vida. Hoje tenho tido  a
   oportunidade de estar trocando correspondências  com  ele,  o
   que muito me tem ajudado como poeta. Sempre carinhoso em suas
   cartas, Thiago tem me ensinado a trabalhar a palavra.