_______________________________________________ L E Ro ________________________________________ Editoria: Seo Mário LERo Número 1 Planeta Terra Rio de Janeiro 99.07.25 O LERo é um boletim dedicado aos poetas da internet. Temos o orgulho de iniciar este novo veículo com uma entrevista com Patrícia Clemente. O LERo é uma iniciativa do Caox e do Poesia Diária. Patrícia por Patrícia Bom, Patrícia Clemente tem 36 anos, foi professora, é casada informalmente. Escreve desde o ano passado. Publicou um único Livro, Submissão", por conta própria, e participou da Antologia Eros, do PD. Participa de algumas listas da net e está em alguns sites(não tem, ainda, página própria). A lista de links está lá embaixo. Seo Mario: Então. Você é feminista? Quem são suas idolas? Há uma poesia feminista? Patrícia: Feminista? Seo Mario: Você não é uma mulher liberada? Patrícia: Sou feminista, embora as pessoas às vezes achem contraditório ser sexualmente submissa e feminista. Acredito na igualdade entre homens e mulheres. Mas não gosto da postura anti-sexo, conservadora, de muitas feministas. Liberada? Sou. Faço o que desejo. Não sei se há uma poesia feminista. minha poesia, pelo menos, não é. Seo Mario Qual a diferença entre Poema e poesia? Patrícia: A definição para mim, é técnica: poesia, para mim, é a ação de fazer poemas Seo Mario: Há diferença entre um poema e a poesia. Como lhe parece a questão? Patrícia: Não gosto de definições de poesia como um estado de espírito. Para mim, a poesia é apenas uma forma de arte, entre outras. Essa arte consiste em fazer peças de "fala ritmada", um uso específico da linguagem. O poema é o resultado dessa arte. Seo Mario: Você se considera um Marques de Sade de saias? Patrícia Não. Até porque sou masoquista, não sádica...Não escrevo pra provocar excitação. Seo Mario: Por que as mulheres sofrem tanto? Elas gostam de sofrer? Patrícia: Acho que muitas mulheres vêem um certo heroísmo em sofrer, um tipo de superioridade, de sensibilidade. Mas não são só as mulheres. Seo Mario: Concordo. O que difere o sofrimento masculino do feminino? Patrícia: Não sei. Mas acho que as mulheres sabem sofrer melhor, não se perdem tanto no sofrimento como os homens, têm menos medo dele. Os homens tem um medo exagerado da dor. As mulheres se arriscam mais, emocionalmente, do que os homens. Mas eu não gosto de sofrer, não. Só aceito isso como parte da vida. Seo Mario: Como é transformar o sofrimento em poesia? Ironia? Patrícia: É um roubo, não é? A gente usa a si mesma como material, faz uma farsa. quer dizer, quem me lesse acharia que sofro muito, o que não e bem verdade. A poesia é um fingimento, a gente pega a própria experiência e transforma em outra coisa. E faz exageros. Por outro lado, isso ajuda a gente a organizar as emoções. Seo Mario: É uma terapia. Você tem amigas, poderia falar um pouco de suas melhores amigas?
Patrícia: Hmmm...Tenho poucas amigas. Bom, tem a Samia, de Fortaleza. É uma mulher doce e forte, uma dominatrix. Tem a Ale, com quem compartilhei, numa época o namorado, que acabou ficando com ela... Tem a Nálu. Tem a Frô...Tem uma atriz, jovem, que se chama, Anete, de quem gosto demais, por se parecer muito comigo mesma... A Denise... Mas não sei a utilidade de ficar falando delas. Seo Mario: Como encara a Internet como meio de divulgação? Patrícia: Eu só comecei a escrever por causa da Internet. Foi aqui que comecei a fazer uns poemas, meio por acaso, e a recepção me fez continuar. Porque a gente faz contato, lê e é lido, recebe comentários. isso faz a gente continuar. O problema na Internet é financeiro, só. Gostaria que mais pessoas na rede estivessem comprando meu livro (risos). Seo Mario: Fale sobre seu livro. Patrícia: "Submissão" é o meu primeiro livro. E submissão é a idéia dele. A idéia de aceitar a vida, com suas dores e prazeres, de viver intensamente, mesmo que as coisa nem sempre sejam agradáveis. O livro contem os poemas que fiz no ano passado, a produção quase inteira. Tem "As Virtudes", "Submissão" (os poemas explicitamente SM) , "Amizade", "Fumaça", "Alma", "Deusas" e "Deus", todas essas séries. Fiz com o maior cuidado, é de bolso, mas acho que está bem bonito, e os poemas estão bons, eu acho "modestamente". Vendo ele por mail, quem quiser é só escrever pra mim. Seo Mario: Quais são as suas influências literárias? Patrícia: Difícil falar. Gosto de João Cabral, pelo rigor, de Saramago, pelo fluxo de prosa que uso um pouco na "Amanda". Gosto, é claro, do Machado. Mas tenho a influencia do Cazuza, por exemplo, e do Brecht e do Heiner Müller, embora isso não seja nem um pouco óbvio na produção. Gosto do sentimento pagão no Pessoa, gosto dos árcades e de sua limpeza poética. E do Chico Buarque. E do, ai, como que chama? o romântico?, o Gonçalves Dias. Dele e do Chico, peguei o gosto pelas aliterações, pelo ritmo, pelas figuras de construção, mais do que as de linguagem. Seo Mario: A letra de música é poesia? Patrícia: Nem sempre. A poesia começou como letra de música, não é mesmo? No início toda poesia era cantada, ou pelo menos acompanhada de música. Mas, na ausência da melodia, o poeta, por um lado, fica mais livre, pode buscar estruturas mais complexas. Por outro lado, ele tem que elaborar mais sua musicalidade, pra compensar a falta da melodia. Vai daí, que muitas vezes, uma letra de música, sustentada na melodia, não tem qualidade suficiente pra ser apreciada sem a melodia. Nesse caso, pra mim, a letra de música não será poesia. Pra mim, será poesia sempre que possa ser fruída mesmo que sem a música, sem a memória da música. Seo Mario: Você ficou sabendo da matéria que ridiculariza os poetas cariocas, na Veja? Se sim, como encara a questão? Patrícia: Não fiquei sabendo, não... Também não consigo levar a Veja a sério. Acho a sua critica literária, o Diogo Mainardi em particular, de uma