ENTREVISTA COM ERIC PONTY
Eric Ponty nasce na histórica São João del-Rei (MG) no ano de 1968. Filho de Aline Tirado Viegas (prof. De Ballet) e Vicente de Paulo Viegas (funcionário público aposentado e tenor) e irmão de Everton Tirado Viegas (funcionário público e músico diletante). Começa a escrever e a desenhar aos 9 anos de idade e desde aí já não tinha muitos amigos e parou de desenhar sistematicamente aos 12.Aos 14 após se ter trancado num silêncio e numa angústia inexplicável já freqüentava terapia que fez por longos anos até abandonar definitivamente pois a "angústia"os moços de Viena não conseguiram resolver com aquela leréia chata para ganhar dinheiro. Nesta fase dedicava-se a ler críticas de cinema em alguns jornais e além de ver muitas peças de teatro no "Teatro Municipal" da cidade e aos dezesseis começa a ler sistematicamente dramaturgia. Aos dezoito anos apresenta a primeira peça de teatro "Guernica" texto inspirado no quadro do catalão Pablo Picasso, com influências dos textos de Brecht e Gabriel Garcia Lorca, embora já tenha escrito "Decomposição friedrich" entre outras.Nesta época fica amigo por acaso na do intelectual carioca João da Penha " que estava fazendo uma reportagem que é autor dos livros "O que é existencialismo", "Princípios Filosóficos", "Wittgenstein" a quem é um dos dedicados na dedicatória do livro entre outros títulos.Aos 21 anos escreve "Dueto Abstrato" que apresenta no Teatro da Reitoria da Universidade Federal de Minas Gerais com o seguinte texto critico de João da Penha que peço licença de reproduzi-lo por considerar a mesma tão fundamental quando a peça de teatro: " Rilke nos lembra que cada um de nós traz sua própria morte. Por isto mesmo, ela é inconfundível. Como o ecoar do poeta nas "Elegias de Duino", numa das vozes de Dueto Abstrato lamenta a "Solidão de estar em decomposição". As duas vozes deste amargo dueto, implacáveis, não nos deixa esquecer o caráter perecível das coisas. A vida, triste constatação, é efêmera. Algum consolo? Nenhum, salvo para os que insistem em acreditar em deuses e quejados (a maturidade aliás, não está ao alcance de todos).Para os céticos e realistas, inútil é a ilusão de eternidade. Uma quimera, nada mais. O destino é inflexível a morte (decomposição) nos espreita. Algo perturbador ronda o ser: sua inapelável finitude. Segundo Someset Manghaus o '" sofrimento não enobrece, apenas nos torna mais amargos." Presa da contigência o homem sofre. A vida dessa triste figura é o mero percorrer de uma trajetória rumo ao inexorável: O Nada." E quero deixar registrado que só fui ler qualquer coisa de Rainer Maria Rilke ao 28 anos de idade.Aos 23 anos de idade tornar-se ouvinte do Curso de Letras da Funrei onde fica por um ano e meio até ser "dispensado" por não concordar com certas mazelas e a forma superficial de como era dado o curso, talvez pela qualidade dos alunos que queriam apenas um papel do que propriamente um embasamento. Nesta época com uma profunda depressão começa a se dedicar ao estudo da filosofia de Friedrich Nietzsche por um longo e solitário tortuoso ano embora a pratica de poesia seja uma coisa recorrente. Aos 26 anos no ápice mais grave de sua depressão escreve seu longo poema "Pompas de Abril" (inédito) que definitivamente cria um território de existência possível e onde "funde"sua voz poética.Neste período conhece o poeta intelectual Ivo Barroso, pessoa que este sentia enorme admiração por estar sempre lendo suas traduções e que lhe manda "a famosa carta do Quintinho", uma deferência segundo o poeta" e o conhece pessoalmente numa visita deste a histórica: Tiradentes; É nesta carta que este começa a se fazer uma revisão critica de seu trabalho literário; e na mesma época através deste, conhece o poeta intelectual Ivan Junqueira onde este passa a ser corresponder através de "cartas criticas".Em 1995 faz uma exposição de arte conceitual que aconteceu no Inverno Cultural de 1995 que foi denominada de "26 Dispare do Olhar" sendo uma realização plástica do artista plástico Johano e Eric Ponty e textos conceituais de Eric , que foram expostas do dia 09 até 29 de julho de 1995 na RFFSA. Esta exposição ocupou um enorme galpão e o peso dos 26 objetos passava de mais de uma tonelada. O objetivo da exposição tinha como premissa de não ser algo comercial o que iria se produzir e reproduzir poderiam só ser contemplado ali, pois havia um sentido criado entre as peças. Esta premissa foi conseguida com sucesso, pois nada se reproduziu comercialmente dali, ou seja, a exposição teve a finalidade mesma. Todos 26 objetos dialogavam com a história das artes plásticas. Aos 28 anos de idade funda "A Voz do Lenheiro" com seu livro "Homo-Imagens" para um amigo local. Depois disso lançou por ela Livro Sobre Tudo" (Elogiado pelo Poeta Ferreira Gullar), traduziu "O Cemitério Marinho" de Paul Valéry, e "O Anjo de David" este de literatura infanto-juvenil e os livros de ensaios "Breviário do Tempo" e "A Contemplação do belo Adormecido" todos publicados pela A Voz do Lenheiro Editora que continua funcionando até hoje, mas sem sua participação por sérias divergências estéticas. Eric entra para a Academia de Letras de São João del-Rei aos 29 anos de idade na cadeira de José Severiano de Resende de quem já havia lido "Mistérios" e na bagagem peças de teatro, romance, contos,novelas e vários livros de poesia, todos ainda inéditos. Aos 30 anos de idade e só colaborando para Dimensão-Revista Internacional de Poesia do intelectual e poeta Guido Bilharinho, por um acaso no Suplemento literário de Minas Gerais encontra o endereço de Assis Brasil de quem havia terminado de ler o "Ciclo do Terror" e muito mais interessado em se corresponder com este do participar propriamente da "Antologia Mineira do Século XX" manda alguns trabalhos e para sua surpresa é convidado para integra-la.-=-=-=-=-=-=====-=--==-===============o0o0o0o0o0o00o0.Como a poesia surgiu na sua vida e qual o lugar que ocupa?Bem primeiro precisa falar de quando eu comecei a escrever para que se possa perceber minha trajetória enquanto consciência. Foi quando criança. Ficava escrevendo pequenos contos. Depois os ilustrava com desenhos que eu fazia arranjava um título na capa e guardava. Tenho uma pasta com tudo isto guardado. Comecei mesmo foi aos 10 anos de idade. Se eu não estava escrevendo eu estava desenhando capas para estes contos. Não li livros eu gostava de ler era revista em quadrinhos. Li muitas mesmo. Hoje eu não consigo pegar o ritmo de lê-las. Embora eu tentei há algum tempo atrás recuperar este hábito da infância lendo histórias em quadrinhos de arte, mas já era algo alheio a minha perspectiva. Tinha. De assistir televisão. Acho que ficava vendo televisão horas direto pelo menos umas seis horas. Assistia de tudo. Na época assistia também jornais coisa que sempre gostei de fazer até hoje. Adoro o hábito de me informar. Uma coisa que eu fazia era assistir cinema. Não tinha o menor critério seletivo sobre cinema. Na época quando mais hollyoddiano melhor. Escutava também muita música sem quaisquer critérios seletivos. E eu não tinha qualquer consciência desses afazeres, ou seja, e não tinha ainda uma consciência de "estar fazendo". Eu sentia um vazio tremendo. Uma consciência de haver algo que eu desconhecia. De existir algo a mais que do aquele estado do qual eu estava inserido. Era como estar entregue ao limbo. E o que aconteceu então é que eu fiquei nesta inércia intelectual durante algum tempo ou melhor alguns anos talvez uns 3 anos nesta alienação da minha consciência. Sempre tive uma inadaptação ao colégio. Como eu não conseguia atingir certos resultados minha mãe à época procurou um terapeuta que começou a pesquisar esta minha inércia existencial. Como eu sempre tive esta mania pela informação deve ter sido fácil para ele captar esta minha faceta do qual eu ignorava. Nós conversamos muito durante a terapia. Lembro-me eu sempre sentia uma sensação de mal estar contínuo. Isto passou depois eu descobri a literatura. Desta época lembro-me eu que eu li os Contos de Voltaire. Alucinante. Sempre deste pequeno interessei-me sobre o tema "morte", e depois vim descobrir que na verdade a "a consciência de existir" que me interessava como um grande tema.No fundo será mesmo que a literatura liberta à consciência? Se não a liberta pelo menos faz ela ser ela mesma. Compreende? Por isto que eu não concordo de se fazer da literatura um palco para a vaidade. Não há margem para que isto aconteça. Quem pensa fazer da literatura um palco para sua ego-trip é um idiota. Um ignorante que se ignora como ser. Um “Homem” que pode estar fazendo outras trezentas coisas que não a literatura. É como o Ivan Junqueira falou comigo: “É gente de uma outra família”. Ou seja, não interessa o que esta gente tem a dizer. Literatura é um ato radical da consciência. Uma "marca de Caim" como o Ivo Barroso gosta de me lembrar. Você nasce fadado! Sinto muito, mas esta é a verdade. Você só escreve porque sente uma necessidade vital para faze-lo. É como qualquer necessidade orgânica do corpo. A poesia só aconteceu mesmo na minha vida aos 21 anos de idade depois que eu terminei minha vigésima peça de teatro quando abandonei a dramaturgia como uma verdade para mim. Minha primeira peça de teatro tratava da decomposição da consciência. Esta peça se chama "Decomposição Friedrich" que se trata de uma peça teatral passada no limbo onde três "consciências" discutem para a sua passagem para o nada o que eles representaram no mundo. Nesta época aos dezoito anos praticamente eu quase não lia nada de poesia pois estava interessado em ler apenas dramaturgia que eu li todos os clássicos de teatro de Sofocles até Goethe e de Goethe até Beckett como todos volumes da dramaturgia de Nelson Rodrigues. Aos 21 anos a poesia ainda estava engatinhando na minha sensibilidade, pois logo que desiludi do teatro me voltei para a filosofia. Na época escrevi um ensaio que aos poucos estou passando para o computador sobre a última obra de Friedrich Nietzsche "Ecce Homo" onde fiz a analise parágrafo por parágrafo dos quatro capítulos centrais para tentar captar toda a luminosidade e perspectiva. Este foi um momento sublime no meu passado, pois cada parágrafo vencido e captado era como subir o cume de uma montanha e olhar a natureza humana com suas cores claras e escuras lá embaixo. Pode parecer egocentrico isto, mas Nietzsche faz se sentir assim quando se esta sobre seu verdadeiro efeito. Depois veio uma forte depressão que durou cinco anos seguidos que eu ficava olhando para o teto ou lendo algum livro enquanto escrevia poesia que ao meu ver hoje de uma maneira bem medíocre deixando a emotividade fluir e travando a fluidez da consciência com a emoção. Neste período eu dediquei em ouvir música erudita como estou o fazendo agora quando eu escuto "Réquiem"de Berlioz porque venho particularmente de uma familia de músicos onde todos sabem cantar como meu pai Vicente ou dançar ballet como minha mãe Aline ou dedilhar ao piano como meu irmão Everton e que eu que não sei tocar nada. É uma pena, pois gostaria de ter sido compositor de música erudita e pertencer a mesma familia como por exemplo a sinfonia de n*3 de Villa Lobos.Tenho uma prima Stael que está escrevendo uma tese de mestrado sobre o Guerra Peixe. Nunca esquecerei quando a grande pianista brasileira Magda Tagliaferro se aproximou de mim puxada pelo meu irmão na casa de meu tio por causa do meu acanhamento..“Sinto mais sensações vindouras/que sinto eu do passado.” O poeta ainda é o augure?Charles Baudelaire nos deu um livro fundamental que é as “Flores do mal”. Bastou este livro é ponto final como poeta e para a poesia feita no século dele. Uma identidade para a poesia moderna estava formada. Arthur Rimbaund também deixou um livro só e influenciou toda a literatura moderna de uma forma definitiva. Rimbaund estava tentando resolver a sua identidade poética e resolveu a moderna poesia ocidental. Havia ou há muitas consciências excepcionais, uma revolução ainda não abrasada ou suprimida dentro dele que é preciso captar. Lendo Rimbaund fico imaginando lê-lo num desses concursinhos de poesia de colégio. Tenho certeza que a pretensa modernidade da garotada termina na hora. Rimbaund é mais moderno que o rock. É uma idiotice falar que Jim Morrisson foi algo comparado a Rimbaund. Jim Morrisson no máximo fez xixi na sala de visitas da classe média. Sinto muito mas é verdade. Os versos deles estão condicionados ao um tempo histórico. Rimbaund não! Rimbaund esfrega a consciência na sua cara e lhe pergunta se você existe realmente enquanto toca punheta olhando a sua mãe e irmã e pergunta se você não irá fazer o mesmo? Para Rimbaund o que interessa é este limite da latitude da consciência senão fazer quando se encheu foi vender armas. Jim Morrisson servia apenas a industria existente na época e deixaram o cara e a trupe pensarem que estes estavam sendo originais.e fizeram que estes passassem exatamente isso lhe dando a censura para se revoltarem; na consciência como meta. Se Jim Morrison fosse o rebelde nos teria proposto o silêncio como um ato de revolta ou composto outras coisas mais difíceis ao palatável auditivo da trupe e da industria. No cemitério onde está enterrado está a nata da cultura ocidental dizem que é o mais cultuado ali. Quero ver daqui a um século.(ri) Será que seus companheiros de mortuário pensam a mesma coisa em ter aquilo como posteridade ali com eles?.“As pedras repetem estes fatos/são cadências em suas lápides./Do grito que sempre repercute lato /Que neste espaço cumpre-se em si.” A busca do poeta é a busca de ETERNIDADE?A posteridade é uma grande bobagem egotripica. Se analisar no fundo o escritor que entrou para a posteridade estava procurando resolver este estado de consciência. Proust estava tentando compreender esta passagem do "estar no mundo", ou seja, a filigrana dessa passagem. Captar o momento que este se realiza. Por isto “Em Busca do tempo Perdido” é uma literatura árdua. Ali não se admite meio termo ou você aceita a condição do escritor ou você está definitivamente fora. Você pode até abrir mão deste fato, mas não pode ignorá- lo. A posteridade como eu ia dizendo é uma bobagem diante deste fato. É uma mentira. Giácomo Rossini sabia que o era pois Beethoveen era o fã de seu Barbeiro de Sevilha. Isto não impediu que o mesmo fosse fazer uma outra coisa, e aqui no caso nada. Posteridade para Rossini então foi um belo nada. - Eu conheço pessoas que tem o mesmo habito entrando fazem outras coisas rotineiras. Conheço várias pessoas que escrevem da mesma forma. Que querem deixar registrados os mesmos lugares comuns. .São pessoas de uma outra família. Estas pessoas ficam preocupadas com o teor do que irão dizer para a posteridade. Uma bobagem! A posteridade se faz no presente no exame profundo da consciência..No seu poema DESTROÇOS DA CIVILIZAÇÃO você escreve: “Quando eu me sentia no passado/eu era mais inteiro e conciso/estava ali perene como o sol./No futuro sou apenas a projeção/Do que eu era há minutos.” O passado é o espaço onde podemos ficcionar, criar? O poeta está sempre em busca do tempo perdido?A literatura deve pesquisar a consciência compreende. Quando um escritor recria o mundo num livro está na verdade tentando compreender esta realidade que é o mundo. Este mundo está neste hiato entre o passado e o presente e o escritor entra aí neste espaço entre estas duas coisas projetando algo como nos deixa entrever Platão. É muito diferente de um cientista que busca a mesma origem mais tem outros fatores e outras curiosidades. A contestação por contestação é bobagem deve estar ligado com este algo que eu disse anteriormente. A arte é uma profunda analista de si mesma. Uma coisa que eu não concordo muito é com analise acadêmica da obra, pois se fica dissecando a obra como se fosse um pedaço de carne. Parece-se com a mesma postura do cientista, mas só que equivocado. Uma vez que está não pode ser analisada apenas por sua sintaxe e morfologia sociológica. Por exemplo vou dar uma demonstração para você com dois primeiros versos de um poema de Murilo Mendes chamado “pré- história” que começa com dois belos versos que dariam de orgulho qualquer literatura que é assim: "Minha mãe vestida de rendas/ tocava piano no caos." Isto tem uma beleza e uma consistência poética absoluta. Como vai dissecar isto tudo? A informação pessoal que você tira disso é a saudade do poeta que nunca conheceu a mãe a não ser como um álbum de retratos. O sentindo de uma amputação latente fica registrada. Basta sabermos tudo ou se nada sabermos isto não fará nenhuma diferença que "minha mãe vestida de rendas tocava piano no caos." como material informativo. O que o verso transmite é particular a leitura de cada um. Não vejo que uma analise possa dissecar e trazer alguma outra novidade a não ser uma novidade periférica em relação ao poema. O bom poema é latente a consciência e cumpre o movimento deste espaço entre passado e presente, vide os poemas de T.S. Eliot..“Quando o ciclo do século se finda/que pára onde terminara; um século.//Tudo se fecha na duração deste tempo,/como um livro de um escriba recém vindo”. O que será do poeta e da poesia no novo milênio?Tenho sérias reservas quanto ao slogan do progresso e acho que é uma utopia pensar em progresso. Penso que progresso é tornar uma coisa especifica em outra possibilidade, mas o que acaba me parecendo que os ciclos da história se mascaram em outros rótulos, criando aí esta ilusão de progresso tão questionável. Quanto a nós sermos uma realidade de massas é um fato inquestionável, mas isto se deve a demanda da população que é muito alta. Li não sei onde que a informação de um camponês eqüivaleria em toda sua vida a leitura de um jornal de hoje, mas aí eu me pergunto será necessários termos tanta informação? O que se passa no Zaire é fundamental tanto o que se passa dentro da Casa Branca para um homem comum? T.W. Adorno entra nesta questão para mim. Não só gosto como eu o admiro T.W. Adorno. Acho o ensaio sobre jazz admirável. Um ensaio antológico para se compreender o movimento e os mecanismos da mídia. Sou uma pessoa que adora ouvir jazz. Acho Ornette Coleman e Charles Parker admiráveis. Diane Whasgiton é uma cantora esplêndida. Mas voltando ao Adorno. Acho fundamental quando diz que a mídia cria uma farsa que seus ídolos são falsos. Os mitos de uma Rádio nacional ontem são os mesmos de hoje. O que diferencia apenas é o estilo da época no mais é a mesma coisa. Na cultura literária está acontecendo algo parecido com alguns poetas que eu desconfio um pouco. Poetas que são de uma outra família que escrevem poemas descartáveis para vender agora e serem esquecidos na próxima temporada cuja sintaxe flui como numa conversa de botequim. Quando ao Adorno é um clássico na qualidade dos maiores pensadores como um Heidegger que é fundamental quando ao questionamento da palavra. O estudo dele sobre Trakl é um negócio sério. Georg Lukaks tem também uma contribuição estética com sua crítica marxista assim como Walter Benjamin. Se formos críticos temos muito a tirar destes tratados estéticos, basta sabermos lê-los no ponto certo. Inclusive o elitismo de um Eliot pode contribuir muito para um conceito de cultura ou de poesia. Penso até que não é função da poesia a retificação da realidade como quer T.W. Adorno em seu famoso ensaio, mas para compreensão e o desvelamento de sua preposição. A verdadeira poesia será a mesma que se pratica deste Dante ou Homero e é uma ilusão acreditar que esta fará um movimento de 360* graus e passará a ter um outro écran. É mais fácil o homem mudar, mas isto neste não o faz deste a história pré-histórica. Se antes tínhamos reis conferidos pelas divindades, amanha teremos estes mesmos reis através de outros critérios, porém a bobagem será a mesma..“Existir é bem mais que padecer/Deste tolo narcisismo póstumo.” O que é o não ser em vida?O não ser em vida é a escravidão e a massificação. É passar a vida inteira como um bossal na mesa de bar e se orgulhar disso. É ser uma Vera Loyola e emergentes da Barra da Tijuca que se legitimam pela sociedade "pensa de" e não se-lo em essência. É mandar construir enormes memoriais de pedra em seu nome e cinqüenta anos depois alguém pergunta:"Quem era?" O pior tipo de escravo é aquele que se tornou patrão sem se- lo. É aquele que parado na esquina tem uma loja em NY, mas se preocupa com status que ele tem na sua cidade onde niguém sabe onde fica..As pedras repetem estes fatos/são cadências em suas lápides./Do grito que sempre repercute lato /Que neste espaço cumpre-se em si.” A busca do poeta é a busca de ETERNIDADE?(Repetindo aqui o que eu disse anteriormente) A literatura deve pesquisar a consciência compreende. Quando um escritor recria o mundo num livro está na verdade tentando compreender esta realidade que é o mundo. Este mundo está neste hiato entre o passado e o presente e o escritor entra aí neste espaço entre estas duas coisas projetando algo como nos deixa entrever Platão..Há idade própria para ser ensaísta e ficcionista?Meu primeiro ensaio foi aos vinte anos quando eu já tinha escrito várias peças de teatro e foi sobre "Morte e vida Severina" do João Cabral de Mello Neto e embora haja ali alguma coisa de essencial não considero que o fiz com segurança. Não existe idade para nada, e deste que se faça bem feito é valido. Veja o caso da poetisa Mariana Ianelli de São Paulo. Ela tem dezenove anos na bagagem e uma maturidade que eu não encontrei em mulheres que se metem a escrever poesia com 60, por exemplo o poema dela " Três vezes Cristo" pode estar no meio de uma obra poética como Henriqueta Lisboa ou Adélia Prado. Além de escrever poesia como se deve, esta é extremante elegante e bonita. A entrevista dela que está na UOL é uma entrevista de uma pessoa madura e segura que sabe o que está fazendo e o que quer..Com a morte de João Cabral de Melo Neto quem ocupará o lugar de maior poeta brasileiro vivo?Já está ocupado. Ferreira Gullar. Se houver algum outro pretende pode limpar a área. Ferreira Gullar conseguiu andar com o movimento do mundo. Sabe porque? Percebe-se na poesia dele ao meu ver este estar no mundo esta consciência latente tanto que a poesia dele é tão lírica e áspera e muda de formas, porque este está intimamente ligado a este movimento..Poesia é letra de música? Poema é poesia?Para o Bruno Toletino e para mim poesia não é letra de música. Mesmo que se comece que a falar dos trovadores e sua música eu faço duas seguintes perguntas: "Qual foi a última vez que você ouviu a música dos trovadores e me cite o nome de dois músicos tovadores que ficaram deste a idade média e modificaram a história da música? Se aquela canção cuja letra acha genial pode ser colocada pau a pau com o melhor poema? " Geralmente uma outra coisa sai perdendo e não é qualquer ser mané que pode a se meter a ser Richard Wagner. No começo eu começei a estudar a poesia através da letra de música e foi um dos maiores equivocos de minha vida este fato.Lastimável!! Tanto que eu gostei a captar a nuança do poema. Se o poema é poesia; eu afirmo claramente que não! O poema aceita tudo e a poesia o desmascara o poema..Com quantas metáforas se faz um poema? O que é a poesia e o poema?Com todas metáforas disponiveis do mercado. No fundo acho a questão da metáfora de um novelo que não termina nunca que mais se parece com daqueles contos do Jorge Luiz Borges como "Pierre Menard". Fundamental na questão da arte. Uma idéia brilhante de porque a literatura é uma representação mimetica da realidade. Se Borges só tivesse escrito este conto já teria sido fundamental e justamente o brilho esta na condição da metáfora. A poesia citarei um trecho de T.S. Eliot onde fala sobre poesia e tradição: "Todavia, se a única forma de tradição, de legado à geração seguinte, consiste em seguir os caminhos da geração imediatamente anterior à nossa graça a uma tímida e cega aderência a seus êxitos, a “tradição” deve ser positivamente desestimulada. Já vimos muitas gerações semelhantes se perderem nas areias; e a novidade é melhor que a repetição. A tradição implica um significado muito mais amplo. Ela não pode ser herdada, e se alguém a deseja, deve consquistá-la através um grande esforço. Ela envolve em primeiro lugar, o sentido histórico, que podemos considerar quase indispensável a alguém que pretenda continuar poeta depois dos vinte e cinco anos; e o sentido histórico implica a percepção, não apenas a cacuidade do passado, mas de sua presença; o sentido histórico leva um homem a escrever não com sua própria geração a que pertence em seus ossos, mas com um sentimento que toda literatura européia desde Homero e, nela incluída, toda literatura de seu próprio país têm uma existência simultânea e constituem uma ordem simultânea. (... ) E é isto que ao mesmo tempo, faz com que um escritor se torne mais agudamente consciente de seu lugar no tempo, de sua própria contemporaneidade. ”, ou seja, o que Eliot nos quer dizer que cultura não é um mero acontecimento do acaso, mas uma somatória de uma civilização, e para que uma pessoa venha a dar continuidade a este movimento tem de ter consciência absoluta de sua confecção nos meandros das bifurcações, que este mesmo cria e que este se dá através do fenomeno da poesia. Quando o poema é uma obra em verso cuja composição poética de certa extensão, com enredo ou sem, distribuído no espaço etc.. de acordo com o gosto ou algo que se convencionou a se chamar de poema e que pode ter infinitas variações..O que é necessário para a poesia ser mais divulgada?Que os maus poetas saiam correndo e procurem entender o que seja poesia, e nos deixem impunes de suas misérias e atentados. Se algum deles diante desta poesia ficar profundamente calado é porque achou a poesia; senão este vai continuar escrevendo aquela leréia chata até que a língua portuguesa de enfarte ou renegue Camões por tê-la salvado do mar..O que faz na hora de lazer?Leio sobre informática, tanto que sei limpar um HD e reinstalar Windows entre outras coisinhas e tanto que eu consegui instalar o temível "Linux" e faze-lo rodar, mas como ainda está muito pouco desenvolvido para a área de processador de texto, continuo no Ruindows mesmo com seus bugs especiais!.O que mudaria na internet?Respondo a isto na minha Home Page quando sofro para atingir um padrão que não se pareça com aquelas Home Pages cafonas americanas. Que o homogêneo possa ser uma opção e não uma massificação. Antes de mudar a internet eu mudaria os Estados Unidos que podem se sentir melhor em tudo, mas são realmente insuperáveis na jequice. E tem muito brasileiro que acha aquela bosta o máximo. Se eu tivesse que ir lá eu iria só nos museus e algumas obras de Franz Loyd Wringht(?)..Tem algum mote?"O papa é pop mas não liga pra pobre" A variação é não publicável..Qual o papel do escritor na sociedade?Enquanto houver papel deve existir. Brincadeira.O mesmo de um Samuel Beckett foi o dramaturgo que mais me disse respeito. Beckett é fundamental. Todos deveriam ler beckett pelo menos uma vez na vida. Nem que seja “O Primeiro Amor” um texto mais ameno do escritor. Beckett é um daqueles autores que falam tudo sem falar nada. Nos entretém e nos entedia. É uma pena que o projeto de publicar toda a sua obra não tenha sido levado a cabo. Espero que apareça algum tradutor que faça o resto do projeto. Infelizmente eu faço um exercício compulsório de esquecer Beckett. A escritura dele me inibe profundamente. Tanto que parei com este negócio de dramaturgia. Acho que foi por respeito. Tem um ensaio de Beckett sobre Proust que é memorável e o livro de Osmar Lins que são duas belas lições sobre o mestre francês. Tenho uma coisa comigo. Até aceito uma pessoa ter o autor preferido ou livros de cabeceira. Mas se dizer leitor de um só livro é inadmissível. Não foi Bernad Shaw que disse que se pode viver sem escrever? Pois a maioria da humanidade esta sem escrever, mas o problema é: Esta existe e deixa testemunhos desta passagem e esta pode evoluir enquanto sociedade justa sem a escrita? Quando eu li Bertold Brecht eu me apaixonei por sua dramaturgia que foi totalmente publicada pela Paz e Terra. Foi fundamental no meu início de leitura, gosto de Baal e do Galileo, da Mãe coragem etc.. Não consigo distinguir hoje um Chico Buarque independente de Brecht. Há uma influência descarada de Brecht na poesia de Chico Buarque. Acho sinceramente Brecht como um poeta voltado a dramaturgia, acho que foi a Brasiliense que publicou uma coletânea com seus poemas embora destes poemas há um que eu gosto muito que ironiza o exílio dizendo que a sorte é a mesma do homem que parte e do que fica. O problema que eu acho que a discussão é mais embaixo. O fundamental é o homem. Não ficar discutindo projetos utópicos ao infinito. Isto me dá tédio aí eu penso em Camus ou no Sartre com sua Náusea ou Calígula; compreende? ( pausa) Os textos libertinos de Sade são muito mais políticos e fundamentais que um discurzinho de cena de algum político de hoje. Se for para ficar entediado eu prefiro a música popular ao cinema popular americano. Acho importante que existam escritos políticos mas sem alienação e que sejam verdadeiramente dialéticos até na medula na sua possibilidade de autocrítica.A página do poeta: