ENTREVISTA COM RICARDO SOARES

Ricardo por Ricardo

 
Comecei  com  17 anos editando um jornalzinho no departamento
de Bibliotecas Públicas em 1977 e escrevendo crônicas para  o
Metrô-  News.  Nesta  época era um dos integrantes  do  grupo
Poetasia  que  no  final  dos anos 70  organizou  happenings,
antologias,  recitais  ,  chuvas de  poesias  e  estandes  de
autores  marginais  nas  Bienais  Internacionais  do   Livro.
Publiquei  com o grupo duas antologias poéticas  e  um  livro
individual “Invenção da Surpresa” lançado em 1982.
Desde  1978  estou  no  que chamam de grande  imprensa  tendo
trabalhado  na  editora Abril,. Revista Manchete,  Jornal  do
Brasil,.  Jornal da Tarde , O Estado de S. Paulo  ,  Vogue  ,
Trip,  além  de inúmeras emissoras de rádio e tv.  Fui  sócio
fundador  do  Caderno  2 do Estadão em  1986  e  do  programa
Metrópolis   da  Tv  Cultura  onde  atuei  como   redator   e
apresentador  de  1988  a  1990.  Também  trabalhei  nas  Tvs
Manchete,  Bandeirantes  e CNT/Gazeta.  Em  todas  as  minhas
passagens  por  rádio, imprensa e tv ocupei  os  cargos  mais
variados  .  De pauteiro a chefe de reportagem,   copidesque,
repórter,  editor, e  chefe de redação. Dirigia documentários
para  a  Tv  Senac  em 1997 quando apresentei  o  projeto  do
programa Literatura que foi aprovado e entrou no ar em  março
de  1998.  Também  colaborei com inúmeras outras  publicações
como  colunista  ou articulista. Da revista  Marie  Claire  a
Capricho, aos  extintos Leia-Livros . Repórter Três e Música.
Também publiquei como autor e co- autor inúmeros livros  para
o  público infanto-juvenil . O mais bem sucedido deles  é  “O
Brasil  é feito por Nós ?” que está na 18 edição pela editora
Atual.  O  mais recente é “Valentão”, publicado pela  editora
Moderna  em  outubro de 1999. Durante cinco anos assinei  uma
crônica  no  jornal “O Estado de S.Paulo”  e  atualmente  sou
articulista do Jornal da Tarde.
Você  apresenta  semanalmente o programa  LITERATURA,  na  TV
SENAC.   É uma loucura fazer um programa sobre literatura  no
Brasil? Quantas pessoas trabalham no LITERATURA?
-  Não  é uma loucura fazer um programa de literatura  na  tv
brasileira  como muitos imaginam. A equipe fixa do Literatura
emprega  seis  pessoas contando comigo. Duas  pauteiras,  uma
coordenadora  de  produção, uma  produtora  e  um  editor  de
imagens. Isso sem contar lógico o pequeno batalhão que compõe
a equipe técnica, maquiadores, sonoplastas e figurinos sem os
quais o Literatura não seria possível. A pauta é definida  de
comum  acordo comigo , as pauteiras e a chefia de redação  da
Tv  Senac. Tenho ampla liberdade de vetar ou sugerir nomes de
acordo com a abordagem que pretendemos dar a cada programa.
“O  programa  abre  suas páginas no ar”  e  “caudaloso”   são
bordões. Foi você quem os criou? De onde vieram?
-  Os  bordões “  literatura abre “ e “literatura fecha” suas
páginas  no ar foram por mim criados já no piloto do programa
como  forma de fazer uma brincadeira óbvia com o ato de abrir
e  fechar  as páginas de um livro. Já “caudaloso” é vício  de
linguagem  mesmo. Nunca percebi que repito tanto  a  palavra.
Prometo me cuidar.
Cometeu alguma gafe no ar? Teve algum escritor que urpreendeu
positivamente?   E   negativamente?   Como   foi/está   sendo
apresentar o LITERATURA?
-  Ainda  não cometi nenhuma gafe no ar...( toc, toc,  toc  –
batendo  na  madeira).  Muitos  escritores  me  surpreenderam
positivamente  no  ar  e me concederam entrevistas  saborosas
como  Adélia  Prado, Bruno Tolentino, Jorge  Mautner,  Carlos
Heitor Cony , Roberto Da Matta, Fausto Wolff e outros. Os que
me   surpreenderam  negativamente  o   fizeram  por  absoluta
timidez e inadequação à televisão. A culpa não é deles.
Apresentar  e  dirigir o Literatura tem  sido  uma  constante
surpresa e alegria. Era um projeto acalentado com carinho que
deu  a sorte de encontrar executivos de tv dispostos a bancá-
lo.  Sou grato a todos. Também é uma prova de que existe  sim
boa  literatura sendo feita hoje no Brasil – em todo  o  país
por  várias  gerações – ao contrário do que  apregoam  alguns
pedantes.
Quem  é o escritor brasileiro? É um batalhador? É preguiçoso?
O escritor brasileiro é um bom moço? É puxa-saco?
- O escritor brasileiro é hoje um batalhador incansável. Está
longe  de  ser um preguiçoso apesar de se submeter  demais  –
muitas  vezes-  às regras imediatistas do mercado  editorial.
Mas  o   escritor brasileiro também é – muitas vezes- um  bom
moço  que anseia por ser aceito e por aparecer na mídia. Para
isso muitas vezes puxa o saco de quem não deve puxar.
Polemica vende livro?
-  Não  acredito  que  polêmica venda  livro  no  Brasil.  Se
vendesse Roberto Campos era mais lido do que Paulo Coelho.
Quem é o editor brasileiro hoje? É um capitalista selvagem em
busca de reconhecimento intelectual ou é só um capitalista?
-  O  editor  brasileiro hoje não é meramente um  capitalista
selvagem em busca de reconhecimento intelectual. Muitos deles
lutam  com reais dificuldades para manterem seus negócios  em
pé muito embora existam aqueles que sejam muito mais vaidosos
do que os autores que lançam. Em comum é que a grande maioria
deles  ainda remunera pessimamente os autores e tradutores  e
quase  nenhum deles numera os exemplares que são colocados  à
venda.
Gerald  Thomas  disse, no programa da Marília  Gabriela,  que
decorrerão dez anos para surgir algo de novo.  Previu  também
uma nova Renascença? É por aí?
-  Não  concordo  com  o que Gerald Thomas  disse  à  Marília
Gabriela. Não acho que demorarão dez anos para aparecer  algo
de  novo no panorama cultural. O conceito de novo é relativo.
Novos  aparecem todos os dias. Só que uns são subestimados  e
outros  são  superestimados como é o caso do próprio  Thomas.
Também  não  creio  que  temos  clima  propício  a  uma  nova
Renascença.  A  mídia cultural destaca valores individuais  e
está  barbaramente  atrelada ás leis do mercado.  A  era  dos
grandes  movimentos  literários ou  artísticos  parece  estar
sepultada.
As  matérias feitas pela revista VEJA, principalmente  as  de
Carlos   Graileb,   são   visões  niilistas   da   literatura
brasileira. Até que ponto correspondem a realidade?
-  Não  concordo  que  as  visões da  revista  Veja  sobre  a
literatura brasileira sejam sempre  niilistas. Algumas  vezes
são,  outras não. Veja publica aquilo que está de acordo  com
seus  princípios editoriais. Direito dela como é o  nosso  de
discordar das opiniões que emite.
A internet vai sepultar o livro? Qual uso faz da www?
-  A  Internet  não  vai  sepultar  o  livro.  Vai  isso  sim
reabilitar o livro. Ninguém tem saco de ler livro em tela  de
computador.  O  paradoxal da Internet é que sendo  um  avanço
tecnológico  de  ficção  científica reabilita  a  palavra,  a
carta,  a comunicação escrita. Uso a Internet com parcimônia.
Para  rir  na  maioria das vezes. Acho que levam  a  Internet
muito a sério. Ela é para ser levada a sério para aqueles que
a  vêem  como  negócio. Um grande negócio  aliás.  Mas  ainda
desconfio  muito das informações que circulam pela  Internet.
Só na Internet por exemplo um colunista como Cláudio Humberto
pode  ser levado a sério. Quem o levaria a sério em um jornal
respeitável ???
O que faz nas horas de lazer?
-  Nas  minhas  horas de lazer viajo, viajo e  viajo.  Depois
ouço música, como fora e , lógico, leio e escrevo.
Tem algum mote que o acompanha pela vida?
-  O  mote  que  me  acompanha pela vida é óbvio.  Melhor  se
arrepender  daquilo que se disse ou que  se  fez  do  que  se
arrepender de não ter feito ou não ter dito.
Qual o papel do escritor na sociedade?
- O papel do escritor na sociedade é existir como escritor.

 

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