ENTREVISTA COM SILAS CORRÊA LEITE
SILAS CORRÊA LEITE é autor do primeiro e-book interativo da rede mundial de computadores, “O Rinoceronte de Clarice”. O livro está no link Interativos do site http://www.hotbook.com.br O e-book tem 11 contos fantásticos com 3 finais cada: um feliz, um de tragédia e um de surrealismo (ou politicamente correto). O escritor garante que a obra é um sucesso, baseado na quantidade de downloads e acessos à página
01)-Silas,
por que você se tornou Poeta?
Resposta: Eu era filho de protestantes, pai descendente de novo cristão judeu-português, e genitora mestiça descendente de negros escravos de Angola com índios, e tinha desde o berço essa visão simplória de que tudo no mundo era perfeito, o equilíbrio divinal da natureza, a terra-mãe dando tudo perfeitamente para o comer, beber, vestir, habitar, viver em paz e confortavelmente, aquela noção pueril, até que um bendito dia faleceu a minha avó Maria dos Prazeres Guimarães. Pois sofri um tremendo baque que refletiu pesado no sensorial, no psico-somático, uma tristice que virou minha cabeça, meu mundo, meu entendimento. Então nem tudo era perfeito, nem Deus! A morte era o câncer da vida, a negação do Criador com a criatura. Pois virei ateu de meia tigela (ou mais ou menos isso – eu tinha lá meus cinco ou seis anos nessa nau frágil chamada havência) – escondendo minha estupefata frustração com Deus. Foi um choque. Era questionamento quirera na base do “se foi para destruir, por que é que fez?”. Tinha um vizinho que colecionava clássicos russos e obras de Érico Veríssimo e outros, daí para uma leitura-fuga por atacado foi um andaime. Tornei-me um “ledor” feroz, obsessivo, inveterado (calava fundo ali o meu lado “sentidor” – só para citar Clarice Lispector minha amada musa eternal), e, quando vi, já escrevinhava alhures (no primário ainda, no Grupo escolar Tomé Teixeira, em Itararé, e nos tais Dia do Índio, Dia da Pátria, Dia da Árvore, Dia da Bandeira, lia meus textos ufanistas, que a professora Nancy Penna corrigia, depois, mais pra frente, a Professora Jocelina Stachoviack de Oliveira estimulava, dava força, apostava na minha abstração que ela classificou como fora de série. Família rica quando eu nasci, e pobre quando eu, o primeiro varão da família entrava a estudar (já meio alfabetizado e outras conhecenças mais), saquei que, até poderia ser pobre, mas burro nunca, como o pior analfabeto que, sabendo ler não lê. Seria dose dupla. Saquei que a Escola Pública era o único degrau para o alto, apaixonei-me pela leitura de tudo, e, principalmente, pelas minhas professoras todas. Começara ali a ler não só palavras mas símbolos, gestos, momentos, olhares, acontecências, estimas, resultantes.) Era o bendito fruto de seis irmãs antes de mim (eu era para ter nascido bruxo, mas nasci poeta?), e, mesmo piá de tudo, lia de fotonovelas melosas a gibis, revistas como Intervalo, Seleções, Almanaques, jornais. Meu daí dava-me de castigo, ler aqueles artigões dizendo da briga do Lacerda, Brizola, Jango. Fui politizado antes de ser inteiramente alfabetizado. Aliás, até hoje acredito num socialismo de resultados. Pois, com a soma disso tudo, num crescendo, lendo, “fugindo” nas aventuras, histórias e pencas de conhecenças (ilhando-me de certa forma – chamo meus poemas de Poesilhas), gostei, peguei prumo, assuntei-me. Meu pai, quando eu era mais quase jovem, tinha programa de rádio, ensaiava corais e bandas, compunha músicas sacras, era um belo contador de causos. Eu mesmo, com apenas16 anos, já escrevia para um suplemento jovem que o jornal O Guarani trazia encartado, fazia imitações e paródias nos shows da Jovem Guarda, além de ter sido aprovado em segundo lugar num concurso de Locutores da Rádio Cube de Itararé. Corria o ano de 1968. Por uma série de polimentos afins, tornei-me logo o “poetinha” local, em terra de boa imprensa, boa pedagogia, bons pintores, belíssimo geo-físico histórico de cavernas e cachoeiras. Não sei se me tornei ou fui feito, a vida tornou-me, encalhei-me numa sofrência ou coisa assim. Até hoje gosto mais de “ler-escrever” do que de respirar, existir. Poesia canga, ninhais? Despojo. Procurar pegadas íntimas na mandala das palavras. Verter-se. Em um país de contrastes sociais, com muito ouro e pouco pão, faz escuro mas eu canto. Poeta nasce feito? Poeta desabandona-se num não-lugar e alumbra-se, criando o inexistente, feito um desespelho de sub-ser. Hoje perdi-me de mim. Crio feito uma catarse, um onirismo que um refluxo de inconsciência mal-e-mal preconiza a partir de algum certo arquivo genético-sensorial recorrente.
02)-Silas,
num poema chamado Muçulmanos, em sua home page (site http://www.itarare.com.br
– link Poetinha Silas), você diz “E
essas orações em peso invocadas para Meca/É o que os tornam Altares – Todos
os Muçulmanos...” Todos os caminhos levam a Deus?
Resposta:
Acho que todos os caminhos levam a Deus, de uma forma ou de outra, por linhas
tortas ou estradas de tijolos amarelos. Mesmo que seja o “deus” de cada um,
segundo a imediata visão, estado de necessidade, grau de merecimento ou estágio
de Busca. Todos serão perdoados, de uma forma ou de outra, em mais ou menos
dobra de espaço-tempo. Todos serão salvos. Há muitas moradas na casa do Pai,
o “Que-Fez”, segundo Haroldo de Campos. Com esse nome ou outro, feitio litúrgico,
de compota ou estojo terreal, mas sendo infinito e grandioso, seu perdão é
idem. Não nos criou santos, sabia-nos finitos e miseráveis. Se não houvesse o
perdão do Criador à criatura ente, então tudo seria mesmo uma mera aventura
sideral num teatro-havência como aludiu Shakespeere.
03)-Silas,
“O amor é silencioso como um ácaro”, como você canta num verso?
Resposta: O amor platônico, íntimo e clandestino, antes de tirar o véu, a bruma (paixão & loucura), despertence-se, é como um ácaro, um esporo, um átomo procurando o tomo par, feito um silêncio quase prece, correndo o risco de, no devir, tornar-se até poeticamente falando, um Porta-lapsos. Mas, paradoxalmente, também pode ser um eco no abismo, um grude de circunstância, uma polenta que desandou. Pior: quando grita no depositário de luz da cena de origem, tem loucuras que a própria lucidez desconhece. Porque o amor é faca de dois lumes. Caibro e caixilho.
04)-Silas,
como você encara a Poesia atual?
Resposta:
A Poesia atual, brasileirinha ou brasileiríssima, está meio que
“emepebelizada”, meio para “liric” (letra de música em feitio de
verso prosaico), do que propriamente poesia pura. Mas, também, o que é mesmo
Poesia, nesses tenebrosos tempos pós-qualquer coisa? O que é a exata pureza do
fazer poético, na gamela radical de tantos enfoques e tecnologias? Adoro Wally
Salomão, Arnaldo Antunes, João Scortecci, Ademir Antonio Bacca, Luiz Antonio
Solda, Soares Feitosa, Alice Ruiz, Paulo Leminski e Antonio Cícero, entre
outros, mas sou macaco de auditório de Fernando Pessoa, o melhor poeta do mundo
em todos os tempos, Drumond, Jorge de Lima, Carlos Nejar, Manoel de Barros,
Bandeira, Castro Alves, João Cabral de Melo Neto e Hilda Hist, que considerado
a melhor poeta mulher do Brasil em 500 anos. Há muitos poetas bons no Brasil,
mesmo fora da chamada grande mídia, alguns até descobertos por Antologias que,
nem sempre completas, ainda assim fazem-nos esse favor de descobrir um e outro
inédito e anônimo, o que já vale o livro, a junção, o espaço aberto e saudável
da veiculaçao. É claro que temos os poetas de ocasião, de panelas, de trupe
da imprensa, de clubes e esquinas. Eu que mal sou de mim sozinho (e um poeta não
precisa de solidão para ser sozinho), não estou em antologia nenhuma, se bem
que devo sair na próxima Revista Poesia Sempre, por obra e graça do Ivan
Junqueira, e, lendo tudo e todos, aprendo até como ser e como não ser. Afinal,
nasci analfabeto, vivo estudando e vou morrer aprendiz. E depois, a fama é
reles, não é mesmo?
4.l)-Silas,
a Poesia virou coisa de Professor?
Resposta:
Pois é, a Poesia é mais rebento de professor, jornalista, profissional
liberal, louco, autista, viciado, suicida, bacharel, artista, do que do povão
mesmo que mal tem um tostão pro leite e mel, sequer brioches. Eu, em cada sala
de aula, torno um aluno especial, num amante da boa MPB, da leitura, da poesia,
mostro um Bob Dylan, um José Nêumanne Pinto, sapeco aqui uma Sylvia Plath,
depois um Chico Buarque ou Gilberto Gil, volto a reinar com um haikai, uns
versos brancos, e assim, tento, solitário como um lírio, tecer o amanhã,
limando mais um ser sensível em terra de primatas. Pelo menos primatas para mim
que era um rapaz que amava Os Beatles e Tonico & Tinoco, e hoje sobrevive
num mundeco de um estúpido consumismo bobo, rococó, onde uma globalização
neoliberal também de forma nefasta globaliza a violência em todos os níveis,
a ignorância coletiva de quem pensa que pensa ou acha que é o que não é,
produzindo burrezas por atacado.
05)-Silas,
qual a ligação que você tem com o Guimarães Rosa?
Resposta:
O Rosa eu só fui ler (e adorar) de pleno íntimo aceite, já na casa dos 20
anos. Ele, junto com o Machado de Assis, se fossem europeus seriam "Nóbeis".
Tenho umas pinceladas do Guimarães Rosa, mas não o sou totalmente, claro.
Entro mais num parafuso do realismo fantástico, surrealismo, com poesia nos
textos, regionalizando pro sul-caipira. Meus amigos dizem que eu sou mais um
“Silas Lispector”. Acho que é um liqüidificador de tudo que bate e volta,
numa mistura saudável.
06)-Silas,
qual é o lugar para a prosa na sua escritura?
Resposta:
Eu sou só um metido a poeta rueiro e descalço, que acabou se embarulhando na
prosa e ficção-angústia... Como descobri, por intermédio de editoras pouco
confiáveis do ponto de vista cultural mesmo (por incrível que isso possa
parecer) que não adiantava escrever Poesia, que não há mercado, espaço, que
“poesia não vende”, para sair do limbo resolvi escrever contos, mas não os
comuns, quis ousar, sair do sério, dar com os fulcros n’água. Aliás, poesia
não deveria de se vender, mas ser dada de lambuja, de troco, como moeda de
ocasião feito pertencimento de maria-mole-queimada,
caixa de fósforo, bala paulistinha, picolé de groselha preta, pirulito de limão.
Entrei pro Grupo/Movimento Infâmia Literária (do Nelson Oliveira – Prêmio
Casa de las Américas/Cuba – Romance Subsolo Infinito/Companhia das Letras) e,
com experiência básica de crônicas e jornalismo (inclusive Oficina de
Jornalismo na ECA/USP e elogios de Ricardo Ramos em curso de Redação na ESPM),
passei a ganhar mais prêmios como contista, do que como poeta. Daí pra cá,
vim formatando livros, romances, coletâneas de microcontos, trabalhos
infanto-juvenis, poemas temáticos, poesia para a juventude carapintada (prática
educacional vivenciada) e outros mais, um monte. Coisa assustadora, talvez digna
de um Guiness Book, Curta-Metragem, Documentário ou Globo Repórter. Agora
mesmo, estou com um romance vivencial na Geração Editorial, de um cara cabeça
que é o Luis Fernando Emediato, e um outro com a Editora Gente. Muitos outros
foram “recusados” (mal avaliados?) por grandes editoras do eixo RJ-SP.
Também, por quase dois anos, estou com um livro de contos (muitos
premiados) em poder do Bernardo Adzenberg (Diretor de Conteúdo da Folha Online)
para ser prefaciado, e também um de poemas em poder do Poeta José Nêumanne
Pinto para ao mesmo fim. Estou aguardando, vivenciando a expectativa de um bom
retorno nesse propósito. Esse ano já fui premiado num Concurso de Poesia do
Sesc/Rotary de Cornélio Procópio, Paraná, (poema criticando os Outros 500 do
“Achamento” do Brasil), e também no Concurso Ignácio Loyola Brandão de
Contos, de Araraquara. Já pensei ate em traduzir e tentar editar no exterior.
Será que tenho que ser mais um a morrer inédito, deixando meu acervo para alguém
do Depto. De Letras da USP, no futuro, escrever uma tese sobre minha luta inglória?
Ai de mim!
06)-Silas,
a Poesia deve ser engajada?
Resposta: Toda Poesia tem – o homem é um animal político, dizia Sócrates – o seu lado de engajamento tácito ou não. Poesia neutra ou chinfrim como texto alheio à realidade (e tongo, saranga) do Cony, não significa nada, não tem nada a ler. Não cria gume, não ela, não tem visão plural-comunitária. Eu, como Manoel Bandeira – Saravá Celso Furtado! – só acredito em arte que seja libertação. Não separo o Poeta do Ser Cidadão. Melhor uma poesia engajada e temática nesse fito precípuo de ser social, humana, do que uma poesia xerox, trivial ou matemática como pelotão de isolamento. Poesia mostra o avesso do haver-se, descasca a cebola do indizível, traduz o sagrado-profano com questionário íntimo novo, mexe as candeias e sacode o bolor do tédio com vinagre. Gosto da Poesia que arranca o leitor (também receptor afinado de vislumbre) do lugar comum, e toca fogo na canjica desse país de jecas janotas e boçais (têm um pé na cozinha do ego doentio); cheirando a azedos de estadias-fugas em esgotos góticos de Miami. Habemus Poesia? Tô social. Logo, eila pisando na tábua de carne dessa terceirizada insensibilidade que maquia um tal ISO 2001: a sub-sobrevivência instintal
07)-Silas, todo bom poeta é engajado?
Resposta: Todo bom poeta é bom poeta e ponto!. O resto é colcha de retalhos de mosaicos de percursos, sais, estadias e viagens interiores com cadarços de palavras. Para um potencial de Sebastião Salgado, quanta água com açúcar deu flash por debaixo de pontes e arquiteturas frias, superfaturadas? Temos um holocausto nas ruas do mundo – pior que uma guerra mundial, um nazismo – e ainda falam na montada queda do Muro de Berlim, com tantas outras “fronteiras” e muros no capitalismo-câncer financiando o leviano engodo neoliberalismo açodado pelo lucro nojo, lucro fóssil de mais riquezas injustas (e impunes) na ciranda financeira de agiotas internacionais. Velhos, crianças, sem teto, sem terra, sem pátria, sem emprego, sem Amor, excluídos sociais entregues à própria sorte – ninguém quer ver isso? – enquanto o futuro do Brasil ao FMI pertence, com FHC (ex-sociólogo, ex-comunista, ex-ateu) promovendo privatizações-roubos sem auditorias de incompetências herdadas no trato com a coisa pública (um estado público na verdade privado pelo tucanato amoral e decadente) ainda dizendo que o Plano Real deu certo. Pra quem? Para quê? Trocamos nosso suado dinheirinho pau a pau pelo dólar, e hoje quanto vale? Quem vai pagar por isso? Quem é o ladrão, o chefe da quadrilha internacional? Dão milhões para banqueiros ladrões, milhões para universidades privadas incompetentes, e chamamos isso de modernismo? Que golpe é o PAS, um funesto “Programa de Assalto à Saúde”?. Que empulhação é a tal Reforma de Ensino que não reforma nada, fecha unidades escolares, paga menos a um educador do que a um motorista de ônibus, dando verniz novo a quadrilhas velhas? As máfias governam os governos. Todo Ser Humano, Ser Cidadão, até por uma questão de foro íntimo de sobrevivência ética, emocional, de resistência, tem que ser mesmo engajado. O importante, afinal, não é que a emoção sobreviva?
07)-Como é ser um “plantador de sonhos” como você diz?
Resposta: Plantar sonhos é não passar em brancas nuvens nesse miserê cultural. Se eu deixar de escrever agora, a insensibilidade vence. Tenho que morrer lutando, para que demonstre que, pelo menos a minha sensibilidade Venceu. Plantar sonhos é preencher com humanismo a minha quantia diária no cheque em branco de cada dia de vida, sendo verdadeiramente Ser e verdadeiramente Humano, nesse pais que há grande celeiro de babaquaras, e onde os imbecis estão no poder, por isso os inteligentes têm que se unir, no amor e na dor. Plantar sonhos é ser meio Rimbaud pós-moderno, meio Lord Byron, meio Neruda, meio Tolstói, meio Plinio Marcos e Nelson Rodrigues. Plantar sonhos é tentar arar consciências, deixar a semente-arte (a melhor pedagogia é o exemplo), como uma mensagem-página de não aceitação, de crítica ao comodismo, para o futuro. Se houver futuro no futuro, já que a cada século piora a qualidade do ser enquanto espécie.
07.l)-Silas, mas o sonho não acabou?
Resposta: O sonho acabou. Mas o artista sonha um sonho novo a cada dia. Na sua utopia visionária única, pincela, orna, conduz, não é conduzido. O Capitalismo é tão podre e vil como o Comunismo imposto de cima para baixo, pela força. O Marxismo acabou? Nunca se estudou tanto Karl Marx do que hoje em dia nas universidades americanas. O sonho acabou para o cara pálida que se matou, anulando-se, se massificando nessa correnteza de amebas ao estilo quase grife de: “acompanhe a maioria/Ande sozinho.” Todo artista revisa o sonho anterior, cria outros, produz, refaz. E depois, o que é o sonho de cada um por si? Status, posses, poder. (O status de sítio de uma grife com refil.) E o sonho de todos por todos? Esse não vai acabar nunca. A verdade, como a tal terra prometida é, como já cantou Renato Russo, também pode ser amar as pessoas como se não houvesse amanhã...
08)-Silas, qual é o lugar que a música ocupa ocupa em sua vida?
Resposta: Sou filho de músico, consigo compor com uma facilidade incrível, inacreditável. Faço baladas, blues, assim sem mais nem menos. Você sugere um tema e eu canto incontinente. Você vem com a música pronta e eu de presto encorpo a letra. Meus poemas são como mantras-banzos-haikais-salmos-blues. Certa feita peguei um poema do Drumond e fui cantando em cima, com a música casando direitinho. De outra feita, abri um livro do Garcia Lorca e cantei o poema (de uma mulher colhendo azeitonas) que parecia moda da Mercedes Sosa. Tenho umas letras com o Barão Vermelho, fiz até uma espécie de “Hino do Frejat”, uma letra com o grupo de rock Detonautas do Rio de Janeiro, fiz o Hino ao Itarareense, estou fazendo o hino de minha escola atual, já fiz um outro Mantra em parceria com um aluno de Ética e Cidadania de uma escola de Vinhedo (Instituto Sant’Anna). Quem quiser trabalho meu, é só me contatar no e-mail poesilas@terra.com.br -
09)-Você tem algum “mote” de trabalho?
Resposta: Vários: silêncio, tristeza, solidão, justiça, humanismo, morte – Acho que a Morte é a minha musa. A morte é o centro do universo? É morrendo que se nasce para a vida eterna? Eu faço versos como quem morre, disse Manuel Bandeira. Tudo é Caos. Tudo é “danação” de pedra. A consciência é o registro de vida nesse plano? No começo era só o abismal, até que um Poeta (o primeiro?) deve ter nominado as coisas, e deu nome ao começo, meio e fim. Mas, e quando a Morte matar a morte?
10)-Silas, qual o papel do escritor na sociedade?.
Resposta: O papel do escritor na sociedade é não ter papel nenhum. Milton Santos (esse daria um bom presidente) não quer ser político. Quer ser ele mesmo digno, transparente. Betinho só queria dar seu testemunho de vida, sem ter papel de rosto algum. Desconfio muito de quem quer papel disso e daquilo, só para enfeitar o pavão da mesmice capenga. O papel do escritor é, apesar de tudo, continuar escrevendo, registrando, denunciando, colocando o dedo em feridas históricas de um país de hipócritas e antros de exclusões. Os melhores Escritores do mundo, eram, e apenas eram circunstancialmente, diplomatas, professores, peregrinos, jornalistas, compositores, profissionais liberais, funcionários públicos, vagabundos, amantes, boêmios, mal resolvidos, mas, principalmente eram independentes para errarem e acertarem (com isenção) prosas e versos. No link Poetinha Silas do site http://www.itarare.com.br – consta uma breve bibliografia minha até 1998, mas eu não falo muito de cursos, vida profissional. As crianças e os jovens são minha plantação de sonhos, canteiros, a minha mensagem de amor para o futuro. E fazer poesia a qualquer momento, por qualquer toleima ou mixórdia de achar-me nulo ou atado, é a minha forma de pedir paz, pedir justiça. Afinal, a Esperança é a inteligência da vida. Como não há sensações no esquecimento, escrevo, lavro, vou amealhando matizes e iluminuras de meu próprio percurso-vida. E que Deus tenha piedade de nossa miserabilidade, onde a própria poesia tende a ser um mero Eco no Abismo. “Ser Poeta é a minha maneira/De chorar escondido/Nessa existência estrangeira/Que me tenho havido”
11)-Silas, para encerrar, o que você gostaria de dizer?.
Resposta: A literatura atual, como todo o mundo, está numa época de “travessia”, de entressafra. Eu mesmo, de uma hora para outra, virei escritor virtual, porque tive uma ótima idéia (e um ótimo livro, segundo críticos, intelectuais, jornalistas, escritores) foi recusado como “Literatura em 3 Dimensões” pela Companhia das Letras, e acabou sendo descoberto e virando e-book de sucesso, estando no link Interativos do site http://www.hotbook.com.br, onde uma coletânea chamada O Rinoceronte de Clarice tem 11 contos com 3 finais cada, um feliz, um de tragédia e um de surrealismo ou politicamente incorreto, permitindo ao leitor internauta copiar grátis pro seu pc, votar no melhor final do conto, bem como – e esse é o lado interativo que o projeto pioneiro propõe – pode escrever um final todo seu, e encaminhar pro provedor. Ao final do ano deve ser escolhido o melhor final do leitor para cada ficção, e anexado ao livro que, certamente, cedo ou tarde será impresso, desde que um gerente editorial tenha um instante-fragmento de insight e enxergue longe, enxergue melhor minha obra como um todo. Foi escrito em 1968, e ainda hoje é pioneiro e único do gênero na rede mundial da Internet, a partir de pesquisa feita em Nova York. Ganhei vários prêmios, até na USP e na Universidade do Oeste do Paraná (Concurso Paulo Leminski de Contos), fui elogiado, entre outros por Jamil Snege, Elio Gaspari, Ricardo Ramos e Revista Aldéa da Espanha, estou em Antologia Multilíngue de Poetas Contemporâneos da Itália (entre outros países), e permaneço inédito em livro próprio no Brasil. Acredite, se quiser. Imagine se eu fosse amigo de algum dono de editora com alguma sensibilidade, visão cultural e noção de literatura, e não um mero apreciador do tilintar de uma caixa registradora?. De qualquer maneira, agradeço a gentileza desse precioso espaço precioso, a força, a visão, a leitura dos meus textos estranhos e loucos, esperando que um dia eu possa, feliz e desmamado do ineditismo, anunciar um coquetel para lançamento de um livro de contos, um romance, uma novela. Do CAOX nasce a luz? Tudo é possível. Torço por isso. Milagres acontecem... Obrigado e até a próxima.
Silas Corrêa Leite – poesilas@terra.com.br