TEXTOS PARA BELACQUA – Eric Ponty - 1994

(Quatro contos inéditos)

 

 

 

 

 

 AUDITORIO E UM PALESTRANTE

 

                        Sim, eu vim para vê‑lo. Agora ele está ali, com as mãos enrugadas e seus olhos marrons claros, segurando um manuscrito,

 

                        Estamos todos em volta, cheios de expectativas com sua pausa; afinal faz alguns segundos que está em plano silêncio.

 

                         O que terá acontecido? Por que está tão calado?

 

                         Faz muito tempo eu ainda era um jovem  cheio de sonhos ainda por vir. Quando me debrucei sobre o seu livro inaugural; mas, isso foi há muito tempo, em que venho tentando encontrá‑lo.

 

                          Seus olhos estão ocultos por lentes grossas, isso o que me mais angustia, pois estou impotente diante de todo seu incomensurável saber; mas antes de vir para cá eu tinha todo um complexo de informações para conversar.

 

                           Pareço um adolescente, impotente diante das vigorosas palavras, ele sentado em seu silêncio; eu aqui o observando ao lado de muito outros que vieram para este mesmo fim.

 

                            Há uma tensão em todos nós, em cada admirador, esperando compassivamente o menor gesto em que possa satisfazer nossa angústia diante de tal vácuo.

 

            E se eu lhe disse‑se algo? E se eu lhe oferece-se ajuda? E se eu lhe entrega‑se um copo de água mineral? E se eu não tenho coragem de sair daqui.

 

           Sim, agora parece que resolveu nos dizer algo. É parece. Retornou ao silêncio interior, ora sem dar a menor atenção ao grupo que esta a sua frente, necessitando de explicações.

 

           Alguém se levanta, não tem o menor respeito pelo palestrante, teve ser mesmo um inculto, um blasfemo que veio aqui só para se exibir.

 

            Por que está Indo embora? Por que não espera? Um momento só.

 

            Espere! Eu ainda alto estou pronto. Eu ainda não lhe fiz minha pergunta. Eu ainda não cansei de existir.

 

             Sim, eu via para vê-lo. 0 responsável, pelo teatro vem até mim e usa de palavras educadas. Pois não há mais ninguém aqui; todos foram embora, menos eu que ainda estou aqui esperando, como há muito anos só para poder conversar um momento com ele.

 

 

ABATEDOURO

 

Quando os homens chegaram, deitaram o corpo em cima da mesa. Ele dormia sono profundo dos rufiões, nem reminiscências na consciência; oca como o mais oco eco de socorro.

 

O mais jovem retirou do casaco preto, o facão de lamina dura e fria feita domais duro aço e gelada como o mais rigoroso inverno.

 

Cortou carne para conseguir penetrar a alma, porém em seus olhos, lágrimas quentes no abismal. Inferno, sem ninguém prestar a menor atenção.

 

Não se pode adiar, o que tem de ser feito, por isso não há possibilidades para sentimentalismos.

 

Carne não permite ser retalhada com cuidado num ato do coito para finalmente conseguir penetrar a alma.

 

Não demorou muito para os homens irem embora o corpo inteiro ficou dilacerado em fatias, porém, para decepção de todos, descobriram que alma é oculta.

 

 

OS REBANHOS SAGRADOS DO SENHOR

 

              Tentei tudo. Muitos me disseram que eu não vou conseguir como um aviso kafkiano de desistência.

 

            Vivo numa constante depressão, pois não sei qual o próximo golpe que me aviltaram, contra minha pessoa., que tenta resistir a todos os golpes e até uns muito decisivos para que eu caia na lona do primeiro round das tentativas.

 

            Por que arquitetaram tal. Plano contra mim? Eu sei que pode parecer paranóia minha, acontece que algumas vezes disseram desista, e eu não desisti e consegui provar o que eu estava certo.

 

             O que eu acho mais grave, a neste momento estou observando, um gafanhoto morto; que está a virias semanas na minha janela em estado de decomposição. O que ocorre é que ninguém me trouxe as respostas para solucionar o fato.

 

              O que eu acho mais engraçado é que sem no darem conta nos momentos que não deveriam mostrar nada e, demonstram tudo o que pensam e após o fato, passam semanas ou até mesmos anos tentando provar inutilmente ao contrário do que foi explicitamente comprovado e explicado.

 

              O que eu acho mais terrível é a condição dos cordeiros, que berram a primeira ordem dada, sem ao menos se perguntar porque que se transformaram em cordeiros e porque estão tentos de berrar, em condições tão humildes e até mesmo nauseante.

 

Tentei lhos falar que mesmo nesta posição ridícula poderiam demonstrar uma certa humilhação ao adversário que está de pé mandando, sem quer saber de suas razões, que afinal, na realidade são muito engraçadas, pela posição em que se submeteu a primeira ordem; porém podem argumentar foi a vida que os fizeram em cordeiros obedientes, prontos a berrar como cordeiros a primeira ordem.

 

Sei que agora é mito tarde para se fazer alguma coisa em relação e algumas manifestações, pois em nome do uma possível rebelião levantaram uma bandeira, o se tornaram novamente carneiros sob as ordens de um outro cordeiro em pele de lobo.

 

Agora é muito tarde. Todos os alardes se tornaram inúteis.  Já é hora de ir dormir.Silencio. O rebanho gosta de ouvir o silêncio, sentado em pontes e muradas de pedra.

 

 

 

REPRESENTAÇÃO DO SUJEITO

 

Por que sou culpado? Por que logo eu? 0 que fiz para estar neste estado? Indagações!  Basta de perguntas. Quero o silêncio. Dourado silêncio da consciência. Perplexo esta é minha condição. Quando poderei deixar de ser reflexo e passar ser consciência? Consciência com desejo de ser permanente enquanto uma projeção no plano real.

 

Isso me leva a crer, que estou aqui. Mas o que me leva a crer e porque estou aqui? Indagações! Tudo é senão um falso reflexo. Consciência concreta ou abstrata? Palavras suaves que decompõem o ar puro. Substâncias de ecos. E eu? E eu? Sombras, construídas de fragmentos contínuos. Todo o nascimento não é um ato difícil? Por quê tantas perguntas? Onde se encontra as respostas? Decomposição dos minutos em fatos concretos, Silêncio. Há mensagem escondida. Silencio. Estou aqui.

 

 

TEXTOS PARA BELACQUA – Eric Ponty (CONTOS MÍNIMOS) – 1994.

 

Os quatro textos reproduzidos (inéditos) foram especialmente cedidos para Caox de Rodrigo de Souza Leão. Favor não reproduzi-los em outros sites. BELACQUA é um personagem do escritor irlandês Samuel Beckett.

Eric Ponty 2000

  

                                                                                                            v o l t a