Abobrinha
Logicamente Abobrinha não é nome de ninguém. Pelo menos não de alguém que tenha pai e mãe gozando de plenas faculdades mentais. Mas a pessoa que lhe colocou esse apelido acertou em cheio, devia estar num dia de grande inspiração. Tanto que poucos sabem que Guilherme foi o nome registrado no cartório. Para fazer jus ao belo codinome e não criar confusão com Guilherminho, meu primo, chamarei-o pelo simpático apelido daqui em diante. Abobrinha tinha um longo cabelo encaracolado cor de laranja, que aliado a sua cara rechonchuda formava uma perfeita abóbora. Ele também dizia muita bobagem, e por isso as más línguas do colégio dizem que a gíria "falar abobrinha" é em homenagem a ele. Me lembro bem como o conheci. Um dia sentei ao seu lado, na oitava série do colégio, e o vi se declarando para uma menina durante todo um dia de aula. -Você deve gostar mesmo dela, heim? Sua cara-de-pau impressionou-me muito. Comecei a andar com ele, que se revelou um cara legal em muitos aspectos. Nascia uma amizade. Nunca, jamais o chame de Abobrinha na frente de garotas. Pode colocá-lo numa situação muito embaraçosa quando forçado a explicar o apelido. Por falar em garotas, observa-se um detalhe curioso: Abobrinha não liga muito para a idade de suas namoradas; nota-se que estou tratando o problema com a maior suavidade possível, até porque não ganho nada chamando-o de papa-anjo e contando que Abobrinha, 17 anos, já conseguiu namorar masi de uma garota de 11. Quando quero implicar com ele, chamo-o logo de "rei da pirralhada" e digo que não conheço ninguém com alguma possibilidade de arrebatar-lhe o trono. Estudar não é com ele. A atenção que ele dá ao colégio é quase nenhuma. Mas faz questão de mostrar-se esperto. Quando acabo um exercício que ele já terminou e puxo assunto, ele anuncia: -Eu já acabei há muito tempo, cara. Quando peço uma explicação é ainda pior: -Abobrinha, porque o professor fez aquilo? Nessa hora eu desisto, agradeço a ele e chamo o professor. Abobrinha é meu companheiro de muitos sonhos, como o grupo de escotismo e a equipe de som. Ele já leu a aprovou essa crônica, eu não ia ficar com a consciência tranqüila se não lhe mostrasse. Sei que ainda vamos aprontar muita coisa juntos.
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