Quero gozar com teu grito
Ser teu maldito
Destroçar tua lágrima
E jogar o teu corpo na vala
Dos mortos sem fala
Quero roubar a palavra da boca
Calar os teus dentes
Incendiar a semente
E fugir pela escada
Quero lamber a ferida
Beber todo sangue
Batido
Coagulado
Contaminado
Renego as viroses e distorço as certezas
Encaro a fraqueza como prova de afeto
Escancaro as escaras
Retraço as tuas rugas
Com aço
Navalha e meus lábios
Bebo dos ricos, dos imbecis, dos devassos,
dos loucos, dos belos, dos certos, dos honestos, dos motoristas, dos frentistas,
dos telejornalistas, dos batistas, dos fascistas e do resto
Sorvo o sangue das freiras, dos bispos,
dos Beatles, das fadas, das namoradas, dos maridos em casa, das esposas
de saias, dos poetas e dos advérbios, da luta social e dos fregueses da
Cobal
Quero beber as crianças, os bebês rosados,
os fetos abortados, tudo que pulsa e cintila, os velhos e os mortos
Brindo ao teu sangue
Brindo com teu sangue
Bebo com a morte do cálice da vida
Venero e espero
E governo e prospero
Quero urinar sobre o Cristo
Chutar os despachos
Acariciar pentagramas
Cuspir na cara do Sol
Violentar tuas preces
Romper com as veias
Embaraçar tuas teias
Apagar tua centelha
Receber todo ódio
Queimá-lo com ópio
Sacanear o relógio
Eu bebo do sangue dos fortes
Não tenho medo da tua morte
Não tenho pena da tua sorte
Tenho sede de anjos
E fome de putas
Sou rocha
Olha para mim
E sangra
Leo @quino
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