APRESENTAÇÃO

 

Este livro é fruto do esforço de vários autores, de diferentes países, que têm algo a ver com o desenvolvimento do método do CCRT (Tema Central do Conflito de Relacionamento) e sua aplicação à psicoterapia psicanalítica e psicanálise. Seu ponto de origem foi meu trabalho de pesquisa no qual se baseou a dissertação para o Mestrado em Saúde Mental da UCPEL (concluído em 22 de março de 1997), sob orientação do Prof. Ricardo Bernardi. É surpreendente ver a rede de pesquisadores, colegas, colaboradores, auxiliares, que acabam envolvidos num trabalho como este. Cada um colocou seu "tijolo" e assim compôs a construção final. O trabalho científico, desta forma, acaba sendo algo do "espírito de colaboração", fundamental ao ser humano. Valeu a pena continuar o mesmo espírito neste livro, estendendo espacial e temporalmente estes esforços, unindo cada vez mais, em objetivos que podem ser comuns a muitas pessoas, mesmo partindo de iniciativas tão individuais, como o desejo de organizar uma edição como esta, auspiciada pela Universidade Católica de Pelotas. Este foi um dos grandes exemplos que recebi de meu orientador, sempre preocupado em que nosso trabalho incluísse a opinião de outros pesquisadores e seus resultados. Pensando nisso resolvemos deixar os artigos no idioma original.

No trabalho clínico, igualmente, como aliás afirmam os autores deste livro, a união da pesquisa e da clínica, às quais Freud declarou inseparáveis, reflete a colaboração entre dois aspectos em que não estão envolvidos só paciente e terapeuta.

Muitas coisas têm mudado na psicoterapia psicanalítica e na psicanálise desde aquela época. Algumas destas mudanças mostraram-se úteis e perduraram, outras fracassaram. Não obstante, justamente nesta característica humana de "unir", "colaborar", talvez se possa encontrar uma invariante que como tal tem apoiado os "progressos que ficam", ao lado de outras tantas coisas que vem e vão. Essa colaboração e união, presentes no microcosmo da sessão, no trabalho do par paciente-terapeuta (funções que se definem uma à outra), também parece estar, a meu ver, representada nos esforços de "replicação", de "respeito pelo conhecimento comum", o qual é maximizado com o uso de métodos clínico-quantitativos.

Desenvolvidos nas últimas décadas pela e para a psicanálise e a psicoterapia, buscam fomentar a possibilidade de consenso (ou seu contrário), algo que está na essência da colaboração humana. Por outro lado a possibilidade popperiana de refutação ou falseamento estabelece os limites do que julgamos como evidência científica válida. Delimita a área onde julgamos estar seguros de afirmar alguma coisa e a partir de onde, outras evidências mais acertadas, poderão substituir o que afirmamos. Novamente aqui, penso eu, se reflete o respeito pelo outro e por si mesmo, já que não se trata de encerrar-se numa crença mais durável do que seus limites de aplicabilidade e credibilidade. Desta maneira, a atitude científica contida no uso dos métodos clínico-quantitativos, como o CCRT, leva o terapeuta a ouvir o paciente privilegiando sua verbalização, colocando verdadeiramente em segundo plano, ou num segundo momento, as teorias estabelecidas antes do encontro de ambos. Dá ênfase à intersubjetividade. O conhecimento não está pronto, surge aí, no campo intersubjetivo da sessão, no cruzamento inseparável da colaboração de "um" e "outro", é validado depois pelo seu teste no consenso dos demais terapeutas e pesquisadores. Pelo desenvolvimento deste (CCRT) e de outros métodos de pesquisa, decidi dedicar este livro a Lester Luborsky, a Horst Kächele e ao co-autor de "Understanding Transference", Paul Crits-Christoph.

Em outra dimensão, macrocosmo, que se abre com a utilização dos métodos clínico-quantitativos, está a possibilidade de entrecruzamento com dados e conclusões de outras ciências, transdisciplinariedade, como tendência essencial de nossa cultura da informação imediata e universal. A linguagem comum acaba facilitada.

Penso que esta tendência ao desenvolvimento da pesquisa empírica sistemática nos dias de hoje possa ser uma daquelas "idéias fortes", como Freud se referia à psicanálise no final da História do Movimento Psicanalítico: "os homens são fortes enquanto representam uma idéia forte, se enfraquecem quando se opõem a ela". Caberia pensar se não são as idéias fortes que se aproximam e se afastam dos homens dinamicamente, conforme eles conseguem ou não pensá-las em conjunto com os demais.

Tenho a esperança de que este livro consiga refletir este espírito e possa constituir uma verdadeira colaboração neste sentido, fortalecendo e construindo algo válido no caminho de busca da preservação da vida e do bem-estar para o qual a Ciência está destinada.

Não se poderia encerrar esta Apresentação sem agradecer especialmente ao Dr. Horacio R. Etchegoyen, por dedicar-se a escrever o Prefácio, por convite nosso. Suas palavras valorizam muito o trabalho de todos e transmitem a confiança de um conhecido mestre da psicanálise, experiente e conceituado clínico-pesquisador.

 

 

Alfredo Cardoso Lhullier

Pelotas, 16 de agosto de 1998

 

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