A Ressurreição
 O ofício matinal do Sábado Santo diz:
"Ó Senhor vieste à terra para salvar Adão e, não o encontrando na terra,
 desceste aos infernos em busca dele".
      De fato, a composição iconográfica da Ressurreição mostra-nos a descida de cristo aos infernos. Às vezes a Ressurreição é retratada, mas isso é raro. Em sua maioria, os ícones silenciam sobre o verdadeiro momento da Ressurreição. As representações de um Cristo vestido de branco saindo do sepulcro são mais recentes e resultaram da influência ocidental.  
     Este ícone é fiel ao modelo estabelecido durante séculos. Sendo um ícone russo, contém não apenas as letras usuais para designar Cristo, mas também a inscrição estava em vermelho para designar seu nome: Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. O centro está ocupado pelo Salvador em um círculo (símbolo da divindade) com uma intensidade escura que clareia em direção ao contorno exterior. O branco da túnica e do manto de Cristo recorda a cor observada pelos evangelistas na Transfiguração do Senhor: é um envolvimento de luz, atributo do corpo glorificado e símbolo da glória divina. Na mão esquerda, Jesus segura uma cruz, sinal de sua vitória, e com a direita Liberta da região dos mortos Adão, que simboliza toda a humanidade. Atrás do protopai estão Davi e Salomão, João Batista e o profeta Daniel. À esquerda de Cristo apresenta-se Eva, que, com as mãos respeitosamente envoltas nas dobras das vestes, espera sua vez de ser libertada. Atrás dela estão outros justos do Antigo Testamento.     
    Embora incluída no Credo, a descida aos infernos não tem sido tema freqüente nas artes do Ocidente, mas ocupa lugar importante nas tradições litúrgicas  e iconográficas do Oriente bizantino.
  É o ponto culminante que São Paulo (Ef 4,8-10) liga à subida de Cristo às alturas para levar uma multidão de cativos. "Na terra", diz  Paul Evdokimov em 7he An ofthe Icon, "a Sexta-Feira Santa é dia de tristeza, enterro e lágrimas da Mãe de Deus, mas, nos infernos, a Sexta-Feira Santa já é Páscoa, pois o poder de Cristo dispersa as trevas no próprio centro do reino da morte".
     Abaixo dos pés de Cristo, encontramos pregos, chaves, cadeados e as almofadas de uma porta que foi forçada. São os cânticos da vitória de Cristo sobre o sofrimento e a morte. O ícone todo é simbólico e põe em destaque a Ressurreição corpórea do Redentor Na. parte superior do ícone, rochas nuas representam a aridez de nossa terra, que, no entanto, é tocada pela força e o esplendor da Ressurreição. O fundo é dourado para evocar a luz que significa a glória divina. A composição toda possui grande harmonia tanto no desenho como na cor e se fixa no coração e na mente dos fiéis que, durante quarenta dias, têm a oportunidade de vê-lo e venerá-lo, quando fica exposto no centro da igreja, da Páscoa à Ascensão.