Oxfordbridge/98: Um encontro e tanto...

Na última edição de julho da revista Ultimato, tive o prazer (ou desprazer) de ver anunciada uma "mais do que notícia" referente à estagnação do nível de alfabetização mundial nos últimos 20 anos.

Meu coração de educadora vibrou com o estupefato autor ao parafrasear o Apóstolo Paulo, para expressar um fato que, de tão evidente, não é visto por grande parte dos cristãos de hoje: "Como lerão, se não há quem os alfabetize? E como alfabetizarão se não forem enviados?".

E as implicações deste alerta são extensas. Pois, se o nosso desejo é que alguém leia de fato, é preciso oferecer-lhe mais do que um cursinho tipo MOBRAL, que se contenta com a alfabetização funcional. É necessário que o leitor saiba compreender e interpretar ou traduzir para a sua realidade, as verdades transcendentais, supratemporais e transculturais nela expressas. Assim, ler a Bíblia, significa ler a história, ler poesia, ler ciência, ler geografia, geometria, matemática; enfim: ler o mundo.

E mais: o verdadeiro leitor sabe ler não apenas a Bíblia, mas também outros autores, principalmente os que também lêem ou leram a Bíblia e que adotam, de tanto que leram, o mesmo estilo transcendental, supratemporal e transcultural de escrever. Este é o caso, por exemplo, do tão citado literato britânico C.S. Lewis, cujo centenário estamos comemorando este ano, com eventos importantes acontecendo por todo o mundo (para maiores detalhes consulte http://www.cslewis100.com ou faça uma simples pesquisa e descubra a vasta extensão do interesse que ele desperta até hoje por todo o mundo)

Como autora de uma dissertação a respeito de O Leão, a Feiticeira e o Guarda-Roupa, a primeira obra escrita da famosa série de contos-de-fada com fundo cristão, as Crônicas de Nárnia, recentemente relançadas pela Editora Martins Fontes, interessei-me em participar das duas semanas de estudos intensivos, promovidos em Oxford e Cambridge, pela C. S. Lewis Foundation, uma entidade dedicada às missões e evangelismo no mundo acadêmico.

Além de ter reunido pessoas de reconhecimento internacional, tanto no mundo acadêmico, quanto no mundo cristão - tais como o Rev. Earl Palmer, Geroge Sayer, Thomas T. Howard, Peter Kreeft Dr. Dallas A. Willard, (as fitas podem ser encomendadas junto à Fundação http://www..cslewis.org) além da excelente equipe da própria fundação e pessoas importantes a ela filiadas, como Douglas Gresham, de quem Lewis foi padrasto até a sua morte, entre outros - na minha opinião, o mais impressionante de tudo foi o fato de a C.S. Lewis Foundation ter conseguido traduzir para a prática um dos seus maiores objetivos (inspirado nas idéias de Lewis, é claro): reunir mais de 800 pessoas de todo o mundo e de todas as denominações em torno de temas comuns e fundamentos da doutrina do Cristianismo Puro e Simples.

Após cada uma das seções de palestras a respeito de temas como : "Esperança e verdade por meio da música e da arte"; "Cristianismo Autêntico: o Espírito da Coisa"; "O que é ser um acadêmico cristão"; "O uso do conto na exploração de temas bíblicos", "Comunicação cristã", "O significado do silêncio de Cristo", etc. ou mesas-redondas de especialistas, era aberta uma plenária para testemunhos e questões do público. Nestas ocasiões, muitos expressaram suas dúvidas e anseios em busca de verdades essenciais relativas à fé, mas também davam vazão ao autêntico amor que sentiam e que permeou todo o encontro.

Na parte da tarde, haviam work-shops, focalizando temas de interesse tais como: "religião e ciência", "o uso das Crônicas de Nárnia na escola", "imaginação, fé e razão", "a missão do acadêmico cristão e a Igreja local", oficinas de teatro, leitura, escrita e poesia, entre outros. Foi difícil até a escolha, de tantos temas interessantes e atuais.

Mas além dos estudos e palestras, haviam também as atividades sociais; tais como o encontro de encerramento do dia em um bar, organizado à lá Inklings, onde se discutiam os principais tópicos do dia, ou se declamavam poesias; atividades culturais, tais como visita à casa onde Lewis morou grande parte da sua vida, e que agora está sob os competentes cuidados da Foundation, que lá pretende fundar um instituto de estudos de acadêmicos cristãos, seu túmulo; apresentação de grupos teatrais, de dança e música, com temas lewisianos, etc; e também atividades recreativas, como jantares especiais, noite de dança folclórica, etc.

Em resumo, como se pode ver, foram duas semanas muito ricas em cultura, reflexão, aprendizado e relações humanas, que deu fruto a muitas novas idéias para novos encontros, focalizando as artes, por exemplo, e para o próximo encontro em 2001. Tanta riqueza certamente requer mais do que um simples espírito alfabetizado para ser digerida. Como dizíamos, não basta ensinar a decifrar um texto, ainda mais em se tratando de textos densos de significado como os de C. S. Lewis. É preciso traduzir o texto, de todas as formas e em todas as línguas, o que implica numa didática, que talvez ainda esteja para ser elaborada, mais especifica e especialmente para o público brasileiro. Este é ao menos a direção para a qual pretendemos orientar os passos futuros.

Como Lewis dizia em The Weight of Glory (O Peso da Glória), o problema não são os prazeres do homem e sim, sua mania de, nas coisas que são, de fato prazerosas, contentar-se com pouco...

É nesse sentido que se responde àquela temível pergunta quanto à importância da difusão das idéias de Lewis e de seu espírito autenticamente cristão e, ao mesmo tempo também acadêmico sobre quem é que se poderia vir a se interessar por Lewis no Brasil: desta vez fui uma só representante, mas quem sabe sejam mais 2000 no próximo encontro.