Sonambulismo
             
            Outro dia, conversando sobre esquecimentos
             que nos acometem vez ou outra, do tipo: sair
             de casa todo engalanado e de chinelos, pois
             na presunção de colocar os sapatos na hora de
             sair, estes acabam esquecidos ao lado da
             cama; pedir o isqueiro a alguém, para acender
             o cigarro, agradecer, colocar o isqueiro
             alheio no bolso e sair assobiando; não pagar
             a conta e ficar olhando para o caixa e este
             para você, esperando o pagamento e você o
             trôco; passar em frente a farmácia e lembrar-
             se de comprar aquele remédio milagroso que
             costuma ter sempre a mão (e não é necessário
             receita médica para adquiri-lo), e quando
             balconista vem lhe atender, você constata com
             horror, que esqueceu o nome do remédio!
             Deu branco! Mas mesmo assim ainda tenta:

             - Eu quero aquele remédio que tem um
             nomezinho fácil...aquele...todo mundo compra
             prá enxaqueca...

             - ??

             - É...putz! Esqueci o nome, mas é fácil,
             conhecido, mais ou menos como do..dorm..

             - Dorflex!

             - Não...É do..dol..

             - Doril!

             - Não..é...Bom..deixa, depois eu lembro,
             obrigada!

             E sai da farmácia com aquele corzinha
             querendo atomatar, dá dez passos e lembra o
             nome do infeliz.

             Em situações estranhas, as vezes vexatórias,
             nos coloca uma mente atribulada.

             Mas estranho mesmo, foi o súbito “ataque de
             sonambulismo” que acometeu minha caçula certa
             vez.

             Tendo que tomar decisões importantes que
             iriam inclusive determinar sua carreira
             profissional, andava ela em estado de alta
             tensão emocional.

             Como sou dada a insônias, não foi difícil
             estar acordada naquela madrugada (mais ou
             menos 3 h 30), quando ela entrou sorrateira
             em meu quarto.

             Também não consigo dormir em completa
             escuridão e assim sendo, estava o aposento em
             penumbra e eu fui acompanhando os movimentos
             dela, com os olhos semicerrados.

             As feições, não dava prá ver claramente mas
             fiquei intrigada quando ela parou à cabeceira
             da minha cama, virou-se, e abaixando-se um
             pouco, assumiu aquela atitude de “dançarina
             do tchan”.

             Aquilo me intrigou deveras e eu abri os
             olhos, indagando:

             - Tim?

             Ela naquela vozinha rouca dos que estão
             sonados:

             - Huuummmmmm???!

             - Que tá fazendo, filha?!

             Ainda no mesmo som rouquinho:

             - Xixi...

             - Xi...TATIAAAANA!!!

             De um salto, joguei a manta longe, aos
             pontapés, bati a mão no interruptor e quando
             a luz inundou o ambiente, eu esbugalhada,
             ainda tive tempo de ver-lhe os olhinhos
             piscando incomodadosom a claridade, antes de
             desalojar-lhe, num repelão, o traseiro que
             assentava minha bolsa (que estava na mesinha
             de cabeceira), de onde um riozinho amarelo
             escorria todo pomposo.

             Gaguejando estarrecida, tomei a bolsa de
             assalto, tombando-a para que se livrasse da
             poça de mijo que ameaçava invadir seu
             interior.

             A sonâmbula, indignada, já saía do meu quarto
             em direção ao dela, ajeitando a calçola do
             pijama e resmungando indignada:

             - Que horror! Que estupidez, só tava fazendo
             xixi!!

             - Xixiiiiii??!!!

             - Xiiixiii... na minha bolsa?!

             Enquanto berrava aos cochichos, dado o
             adiantado da hora e com receio de acordar os
             vizinhos, eu ia a cata de panos e
             desinfetantes a fim de reparar os estragos,
             que graças a abertura da bolsa que era
             estreita e ainda estar semi-aberta, não foram
             tantos assim.

             Ainda hoje, quando comento o episódio ela
             nega categoricamente que jamais mijou em
             bolsa alguma.

             Peças que uma mente atribulada nos pregam...
             Asta Vonzodas


            Desditas de uma internauta
             Asta Vonzodas
             (a própria)

             Metida a besta, aventurando-se em “web master”.

             - Web quê?

             - Web...fazedora de página mesmo...

             - ahnnn...

             Pois é...Lá foi ela, com toda prosa, depois de tanto
             ouvir dizer:

             - É fácil, só saber os códigos, é como transportar
             arquivos de uma pasta a outra...

             Enfim, todo mundo faz, ela bem poderia fazer.
             E fez, ou está tentando fazer, coitada!

             Lá foi...
             Reservou um espaço numa praia distante, andou de
             porta em porta, achou o balcão apropriado e registrou-
             se.
             De lá andou mais um pouco, foi parar na “oficina” ,
             que era a seu ver (isso depois de olhar pelo buraco
             da fechadura de algumas portas), o lugar mais
             apropriado para sua experiência.

             Fuçou daqui, fuçou dali e saiu para ver o efeito da
             sua obra prima.
             Até que não estava muito ruim, mas não era bem isso
             que ela pretendia. Enfim, conversou com uns e outros,
             recebeu algumas instruções, juntou tudo, embaralhou
             com mais informações que conseguiu em alguns
             “cursinhos on line” sobre o ofício da coisa e passou
             algumas madrugadas tentando.

             Já estava tudo mais ou menos nos conformes, mas ela
             queria mais: imagens, música e a bendita gaivota. A
             “gaivotinha” , sua marca registrada.

             Carregou com a dita cuja prá lá e toca a fuçar mais
             um pouco.

             A imagem não apareceu, mas ficou delimitado lá o
             lugarzinho dela.
             Decepcionada, foi consultar seus alfarrábios.
             Desandou a fazer “cópias de segurança” de tudo que
             era lado. Acabou com tantas que não sabia mais quem
             era quem, de onde e muito menos de quando.

             Acabou por jogar tudo na lixeira e recomeçou.
             Desligou o ICQ que parecia uma pipoqueira, fechou o
             programa de mail e ficou perdida entre a página
             malfadada e as senhas do servidor. Tanto fez, que
             conseguiu até alterar a senha. Teve que pedir
             novamente. Registrou errado, mas achou por bem deixar
             como estava (não era tão difícil de guardar).

             Andou, achou, mexeu...mexeu e conseguiu colocar lá a
             gaivota....

             A gaivota? Há há há há...

             Quando foi ver o resultado, quase teve uma síncope.
             Aquilo não era “uma” gaivota...

             Era a própria invasão das mesmas:
             Asas e bicos pra tudo que é lado, em cima, em baixo,
             umas sobre as outras, ameaçando saírem visor a fora.

             E o texto....Que texto???
             Tudo afogado no meio da gaivotarada!

             Aterrorizada, voltou ao “editar” e arrancou as bichas
             de lá...

             As seis da manhã, com cara de coruja atordoada, olhos
             vermelhos, saiu do computador e tentando chegar até a
             cozinha, onde pretendia tomar um copo de suco, ficou
             atolada na poça de mijo do cachorro, que indignado
             por não poder dormir com os “plecs..plecs..” do
             teclado, arranjou essa forma monstruosa de se vingar.

             Limpou tudo e só não esganou o quadrúpede porque
             este, sabido, sumiu do campo de visão. Atirou-se na
             cama e só retornou ao mundo dos “semivivos” ao meio
             dia.

             Chegada a noite, lá foi a teimosa tentar novamente.

             Conversou com mais alguns. Recebeu de presente alguns
             comandos mais. Consultou suas “cópias de segurança”;
             fez mais algumas prá garantia e recomeçou.

             No fim de algumas madrugadas, conseguiu afinal ter
             por lá, uma cor de fundo, “algumas folhagens”, um
             livro antigo, alguns textos e pasmem! - a gaivota
             pomposamente histérica, batendo as asas lá no canto
             esquerdo e a música!

             É isso. Até a música!
             Tá certo que tem lá embaixo uma “barrona” de controle
             que deveria funcionar (presume-se), mas não funciona.
             Só está lá: imensa! E não adianta clicar “pause” nem
             play. A coisa funciona sozinha, com vontade própria.

             Mas não é ruim não. Até bem simpatiquinha!

             Mas isso não é tudo não. Ela ainda vai tentar fazer
             umas “saletas” de leitura, quem sabe uma varanda com
             vista para o pôr-do-sol, uma biblioteca, um...e....

             Bom, enquanto ela sonha, eu já vou me recolher que se
             faz tarde, ou cedo, depende do modo de encarar a
             coisa. Ah! Ainda não acabou a odisséia não, viu?
             Todo dia tem novidade! :)