Mas Tony não foi sempre o gênio dos transistores. Ele nasceu pequeno como todo mundo mas com uma enorme curiosidade pela energia elétrica. Com poucos dias de vida, já fazia experiências rudimentares sobre a velocidade da luz. Toyota, com sua leveza de nenem, ligava a tomada do abajour e saía correndo até a lâmpada que estava a uns cinco metros de distância. Às vezes ficava com o dedo preso na tomada em estado de choque.
Escapando sempre por pouco de virar churrasco, Tony Toyota continuou em suas investidas científicas. Mas, muito teimoso e autodidata, Tony se confundia sempre para que lado giravam os elétrons, sobre para que time torciam os prótons ou, então, dava angu para os átomos comerem e esses, é óbvio, não estavam nem aí. Toyota tentou inventar a máquina de sons perfeitos mas como não tinha instrução básica apertava sempre os parafusos para o lado contrário e as porcas para o mesmo lado. É claro que a máquina não funcionou. Quando muito, ela dava as horas certas com um atraso muito grande.
Mas um dia o vento varreu para sempre a ignorância do crânio de Toyota ao arremessar, na cara do rapaz, um manual para a criação de engenhos infalíveis. Toyota nunca foi muito específico a respeito desse manual, mas seu repertório de canções eletrônicas mudou para uma avenida ensolarada à beira-mar. Hoje ele já gira em companhia dos átomos em volta da luz suprema da sabedoria eletrônica.
Se você está interessado em saber com quantos quantuns se mede uma impropriedade, é só pedir umas aulas ao Tony. Ele cobra muito pouco porque e é muito louco. Visite-o sem compromisso. Tony Toyota, o Chocante.
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Léo Sontag é aquele mestre que você anda procurando a esmo. Sim, é ele mesmo. Mestre Sontag, o gênio da harmonia para iniciantes. Hoje ele toca em quatro ou cinco conjuntos ao mesmo tempo com seus seis mil tentáculos, seus multidedos, seus mil arranjos. Sontag foi reconhecido pela Cashbox como um verdadeiro fenômeno musical ao provar que não só é possível assoviar e chupar cana como tocar piano e pentear um caroço de manga ao mesmo tempo.
Mas Sontag não foi sempre um gênio. Sontag nasceu surdo a qualquer acalanto. sua insensibilidade para a música provocava maremoto. Na bandinha da escola, foi tocar triângulo e o instrumento virou retângulo, um paralelepípedo, sei lá. Léo gostava de música, mas a Música não queria nada com ele. Pelo contrário, se dependesse dela, Léo Sontag viveria num mundo só de serras elétricas e bate-estaca. O rapaz não sabia mais o que fazer. Não podia nem assoviar para se distrair, já que seu assovio soava mais frio que uma geada, mais horrível que uma hecatombe.
Mas como não há mal que sempre dure, Léo aprendeu os mistérios da harmonia musical. Como? Comendo ostra. Um belo dia, diante de um prato desses moluscos, Léo, depois de ter comido centenas delas, ouviu um assovio sair de dentro de uma concha. Chegando o ouvido, ouviu que a ostra era uma sereia encantada que, em troca da vida, lhe oferecia a sagrada harmonia musical em rápidas lições. Léo topou a proposta e, em alguns dias, era um hábil violinista. Devolveu a sereia encantada ao mar e transformou-se num mito, num mágico, num músico.
Léo Sontag pode te ensinar tudo que Deus esqueceu de te informar. Só ele pode te afinar com o vai e vem do vento, com o tom e o timbre do tempo. Léo Sontag, o Deus.