AS CORRENTES LODISTAS

    Embora tenha uma base de princípios fundamentais, o movimento lodista assume aspectos extremamente variados de autor para autor. Muitos destes têm, porém, características semelhantes de estilo nas suas respectivas obras, e estas são agrupadas entre as diversas correntes lodistas.

    Os autores de destaque até o momento são os supracitados Rafael "Cebola" Aquino e Vicente Camargo; além de Rafael Balbi Reis, Pedro Aurélio Cabral, Heitor Coelho Franca, Marco Paulo Monteiro, Geraldo Franca de Araújo e Pedro Henrique Pamplona.

    Embora a maioria dos autores encaixe-se em apenas uma das correntes, alguns dividem-se entre duas ou mais.

    Também devemos levar em conta que afora o movimento lodista existe o estilo lodismo, que é seguido consciente ou inconscientemente por artistas fora do movimento, a maioria muito antes do início do mesmo. Estes autores são de enorme influência na criação do movimento e de suas correntes, e serão mencionados abaixo como seus precursores, muito embora alguns escrevam até hoje.

 

OS NEGATIVISTAS

    A maior corrente de pensamento lodista caracteriza-se por ver o lodo como forma de corrupção ou decadência. Segundo eles, o afundar no lodo seria como um sinal final de perdição, e o lodo propriamente dito um símbolo que expressasse o que há de podre na humanidade. Essa interpretação negativa do lodo, porém, não é contra sua existência, pois os partidários dessa corrente, embora críticos, entendem a necessidade da presença da decadência na sociedade.

    Os autores negativistas mais conhecidos são Rafael "Cebola" na pintura; Pedro Aurélio, Geraldo Franca na poesia; e Heitor Coelho na poesia e na prosa. Há divergências quanto à inclusão de Geraldo Franca neste grupo. Pois apesar de partilhar da visão negativa do lodo, ele a toma como bandeira em seus poemas, basicamente iniciando uma subcorrente, que recebe o nome provisório de "revolucionária".

    Podemos considerar também os poetas Manuel de Barros e Manuel Bandeira como precursores desta corrente, pela semelhança de lógica que há entre alguns de seus poemas e os dos autores lodistas negativistas.

 

OS UNIVERSALISTAS

    Ao contrário dos negativistas, que frisam o aspecto sugestivo de decadência do lodo como símbolo, os universalistas o vêem de forma muito mais ampla. O lodo não seria sinal de corrupção ou podridão, ele seria também um sinal de origem ou recomeço, algo como uma paráfrase de "do pó ao pó".

    A maior figura entre os universalistas é Rafael Balbi Reis, que atua tanto na poesia quanto na pintura. Como precursor desta corrente a maior influência seria de Chico Science, rapidamente exemplificada pelos versos "da lama ao caos/do caos à lama", embora ele também tenha por muitas vezes uma mentalidade um tanto negativista, em matéria de lodo (ou lama, neste caso).

 

OS CONCRETISTAS

    A grande peculiaridade desta corrente é a pouca importância dada aos questionamentos e protestos típicos das demais correntes. Sua atenção está focada em utilizar e misturar o estilo da escola concretista aliado à imagem típica do lodo, obtendo diversos resultados imprevisíveis.

    Embora Marco Paulo Monteiro seja o melhor exemplo de poeta desta corrente, vale lembrar que sua atitude é tipicamente dadaísta, adaptando e usufruindo livre e sarcasticamente de poemas alheios, substituindo certas imagens pela do lodo. Suas influências, e as da corrente, embora não relacionadas diretamente ao lodo, são os poetas concretistas dos anos 60, Décio Pignatari, e os irmãos Augusto e Haroldo Campos.

 

OS FODASSEÍSTAS

    Não estranhe se o nome dessa corrente causar-lhe estranheza ou se, simplesmente, não pareça poder ser uma coisa séria: não é. Na verdade, duas grandes extrapolações destacam os fodasseístas: primeira, a extrapolação do princípio "chutar o balde" (de onde extraíram seu nome); e, segundo, pela extrapolação da idéia de que tudo pode ser arte. Em busca das coisas mais mundanas possíveis, os fodasseístas quebram as regras de boa educação, da boa poesia e da boa arte, até no nome.

    Representados na poesia por Pedro Henrique Pamplona e na prosa por Vicente Camargo, os fodasseístas não buscam sua inspiração em outros artistas, mas sim nas piadas sujas e nos acontecimentos insólitos que permeiam o dia-a-dia do cidadão urbano.


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