Certeza da Dúvida

Vi um sentido no ilógico,
Justifiquei a irracionalidade,
Abracei todo o desprezo,
Deixei de lado a realidade.
Tentei alcançar o horizonte,
Fiz da lágrima o meu sorriso,
Abandonei o meu próprio gosto,
Vivi no inferno o meu paraíso.
Será saber amar, um dom?
Dom de deixar-se de lado,
De ver numa pessoa algo que ela não tem,
Dom de não se sentir fracassado,
Por se esquecer do mundo para viver junto de alguém.
Quem se atreve a explicar?
Algo que faz sorrir mas também pode fazer chorar,
Que é sempre eterno até a hora de se acabar.
Algo que pode fazer do sonho, uma desilusão;
Que tem como símbolo a figura de um coração.
Quem nunca tentou entender?
Porque idolatramos quem nos faz sofrer,
Porque não enxergamos o que não queremos ver.
Amar é um grande risco,
É não ter o direito de escolher a quem amar.
É construir um mundo em torno de uma realidade,
Que pode vir a ser um sonho, e pôr tudo a desmoronar.
O amor não tem justificativa,
Porém justifica a lágrima e o sorriso.
Alma que não ama é sempre vazia,
Pois para se saber o sentido da vida, amar é preciso.

                                                                                        agosto de 1997


Arte...

É traduzida, traduz...
Se transforma, ilude o real...
É realista, ambígua, seduz...
É morte, vida, é imortal.

                        Muda, cega, surda...
                        Ouvida, vista, tocada.

É inspiração, inspirada...
É parida, criada.

                É sonho, lágrima, sorriso...
                É simples, exagerada...
                É inferno, paraíso...
                É calma, desesperada.

É fraco, forte...
É bem, mau...
É azar, sorte...
É objetiva, abstrata.

                        Acolhida, desprezada...
                        É para todos,
                        Não para qualquer um.
                        É algum lugar, é lugar algum.

                Rica, pobre...
                Vulgar, nobre.

É despida, fantasiada...
É choro, gargalhada.
É revolta, harmonia...
Tristeza, alegria.

                        É começo, fim...
                        É não, sim.

            É tudo , é nada,
                Arte é assim,
                    Se assim interpretada.

                                                            novembro de 1998


Perdão

É fácil pedir perdão.
É fácil pedir perdão,
Quando se erra com intenção.
O perdão serve como desculpa,
Para quem errou não assumir a culpa.
Desculpa é pedir perdão,
Sem que haja arrependimento.
Perdão é considerar digno o sentimento de culpa.
Culpa é aceitar o perdão,
Sabendo que novamente fará errado.
Perdoado é assumir a culpa,
E não repetir o erro do passado.
Perdão.

Janeiro de 1999


Palavras não se perdem

Jamais deixarão de significar,
Sejam ditas ou escritas, sempre serão adotadas.
Invadem a alma, rompem o silêncio.
Fazem chorar e fazem sorrir,
Fazem ficar e fazem partir,
Fazem fingir ou acreditar.
Estão sempre a procura de um abrigo,
Que pode ser na consciência de um conselho,
Ou no desespero de um coração partido.
Representam tanto o começo como o fim,
O parágrafo e o ponto final.
Se associam ao ato, ao fato e à suposição.
Todas elas têm seu preço,
Seu futuro, presente e passado,
E seu significado para cada situação.
Nunca a palavra será em vão.
Até mesmo o vão possui seu espaço.
Seja qual for a palavra dita,
Um dia, quem sabe por uma mente vazia,
Ou por um sonho distante,
Esta palavra seja acolhida por um abraço.

                                                                        março / 98


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