Fotometeoro
Foram
aqueles corpos que caíram do céu
ano passado
que me encobriram
me fotografaram
me olharam esquisito
como poeira de meteorito
adormeci
caí em braços que jamais reconheci
como sendo parte de um ser
daqui deste planeta
[decerto sonhei]
quando acordei
estava justamente aonde a Nasa
não chegou
nem era vermelho esse país
conheci
mais de perto que qualquer mortal
que vive aqui
como é ser percebida
e festejada
como parte de um sonho de porte
algum retoque da sorte
um caso de morte
adiada
por certo homem de Marte
[e fiquei]
Eliana Mora, 02 de janeiro de 2000
Prece aos ponteiros de uma bússola
De embaixadora
aos porões da ordenança
põe fim ao trato de penhores
e heranças
então se vê catando troco em notas
sujas
as mãos sem côr
de rugas fartas feias
murchas
Ouvindo brados de despejo
e tirania
acreditou que abrir os olhos nem iria
e ao perceber alguma luz
em certa fonte da retina
fixou ponteiros
numa bússola arredia
E ao enfiar na terra nova as mãos
de velho
endurecidas de aprender a começar
olha no incêndio
dos seus vinhos suas veias
a frágil fonte
alguma água derramar
Dá-se à cartilha
repensando e desejando
ouvir o grito de alguma confissão
um mea culpa um errei sim
[conto-de-fada]
a traduzir imensa dor ali
plantada
Descarrilada
como trem em fim de via
vê levantar lenta fumaça e a abraça
atrás de um santo
um novo dia
um esperanto
Ponteiro e prece em tom
de guia
[ou de acalanto]
Eliana Mora, 10 de janeiro de 2000