PELÍCULAS DA ALMA
                    Inspirado em M.C. Escher

Falo no silêncio.
Faço eco feito arco
que range as cordas do vácuo
ao desprender flechas
que nunca tangem o alvo.
Aprendiz de Eros,
fico eufórico,
cometo erros
e finco fogos
que rompem aortas
provocando infartos
em vez de paixões.

Todavia,
não abdico do amor
quanto mais contumaz se faz
mais audaz
é a nudez do coração
menos eficaz,
o fruto de Adão
entre os traços gregos
da fronte da paixão.

II
Ando
por escadas lúdicas
que sobem quando desço
e descem quando subo,
engendrando fragmentos de mim mesmo:
Escamas do tempo
com que cerzimos memórias,
com que cingimos nossas almas
enquanto o corpo se dilui
nas escumas da existência.
Películas da alma,
fios que levam ao fim
destes labirínticos degraus
colgados de quadros,
gravuras e ranhuras
na face de Deus.

III
Com a síntese de um ideograma chinês,
tatuo palavras-poemas
no anverso da poesia,
tridimensionando rimas
qual hologramas de olores
que busco no lusco-fusco
destas folhas,
filhas de flores
de porcelana
que tateio
neste ermo cume
das noites
para entornar
suaves bebidas
que sorvam a vossa sede
e a minha.
                            8.09.98-06.10.98


ÚNICOS VERSOS

O universo é lindo
como um verso de poeta
que põe, rindo,
inefáveis palavras
num verso de papel
achado no chão.

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