Lundu do Escritor Difícil
               

              Eu sou um escritor difícil
              Que a muita gente enquizila,
              Porém essa culpa é fácil
              De se acabar duma vez:
              É só tirar a cortina
              Que entra luz nesta escurez.
               
               

              Cortina de brim caipora,
              Com teia caranguejeira
              E enfeite ruim de caipira,
              Fale fala brasileira
              Que você enxerga bonito
              Tanta luz nesta capoeira
              Tal-e-qual numa gupiara.
               
               

              Mas gaúcho maranhense
              Que pára no Mato Grosso,
              Bate este angu de caroço
              Ver sopa de caruru;
              A vida é mesmo um buraco,
              Bobo é quem não é tatu!
               
               

              Eu sou um escritor difícil,
              Porém culpa de quem é!...
              Todo difícil é fácil,
              Abasta a gente saber.
              Bajé, pixé, chué, ôh "xavié"
              De tão fácil virou fóssil,
              O difícil é aprender!
               
               

               Virtude de urubutinga
               De enxergar tudo de longe!
              Não carece vestir tanga
              Pra penetrar meu caçanje!
              Você sabe o francês "singe"
              Mas não sabe o que é guariba?
              — Pois é macaco, seu mano,
              Que só sabe o que é da estranja.