- Eu lhe disse, ela virou uma simples galinha!
- Nao - tornou a insistir o naturalista. Ela é uma aguia. E uma aguia sera sempre uma aguia. Vamos experimentar novamente amanha.
No dia seguinte, o naturalista subiu com a aguia no teto da casa.
Sussurou-lhe:
- Aguia, ja que voce é uma aguia, abra suas asas e voe!
Mas quando a aguia viu la embaixo as galinhas, ciscando o chao, puilou e foi para junto delas.
O campones sorriu e voltou a carga:
- Eu lhe havia dito, ela virou galinha!
- Nao - respondeu firmemente o naturalista. Ela é aguia, possuiraa sempre um coracao de aguia. Vamos experimentar ainda uma ultima vez.
Amanha a farei voar.
No dia seguinte, o naturalista e o campones levantaram bem cedo. Pegaram a aguia, levaram-na para fora da cidade, longe das casas dos homens, no alto de uma montanha. O sol nascente dourava os picos das montanhas.
O naturalista ergueu a aguia para o alto e ordenou-lhe:
- Aguia, ja que voce é uma aguia, ja que voce pertence ao ceu e nao a terra, abra suas asas e voe!
A aguia olhou ao redor. Tremia como se experimentasse nova vida. Mas nao voou. Entao o naturalista segurou-a firmemente, bem na direcao do sol, para que seus olhos pudessem encher-se da claridade solar e da vastidao do horizonte.
Nesse momento, ela abriu suas potentes asas, grasnou com o tipico kau-kau das aguias e ergueu-se, soberana, sobre si mesma. E comecou a voar, a voar para o alto, a voar cada vez para mais alto. Voou... voou... ate confundir-se com o azul do firmamento..."
"Irmaos e irmãs, meus compatriotas! Nós fomos criados a imagem e semelhanca de Deus! Mas houve pessoas que nos fizeram pensar como galinhas. E muitos de nos ainda acham que somos efetivamente galinhas. Mas nos somos aguias. Por isso, companheiros e companheiras, abramos as asas e voemos. Voemos como as aguias. Jamais nos contentemos com os graos que jogarem aos pes para ciscar."
Do livro: A aguia e a galinha - uma metafora da condicao humana, de Leonardo Boff