Logo depois do colégio, a Priscila já ligou para o Zac. Ele estava se trocando no hotel e combinou com ela de se encontrarem no estúdio da gravação do programa daquela tarde. Era, de novo, lá onde o pai dela trabalhava.
– A Priscila vai estar lá? – o Taylor perguntou.
– Uh huh. Ela 'cabou de me ligar – o Zac explicou.
– E a Fãr? Ela vai estar lá? – o Isaac perguntou, muito curioso.
– Tô pensando em ligar pra ela no caminho, não sei ainda... – o Zac disse, meio incomodado com aquilo. Ele ia ligar para a Fer, mas não queria contar assim, de bandeja, para o Isaac.
– Liga pra ela, Zac, vai... além de linda, a menina é gente boa – o Isaac falou.
– Não enche, Ike – o Zac disse, colocando a calça.
– Tudo bem, tô vendo que 'cê não vai agilizar nada. Então, pode deixar que eu ligo pra ela.
O Isaac pegou o celular do Zac e começou a olhar os telefones gravados.
– Isaac, larga o meu telefone! – o Zac disse, todo irritado, com a calça na metade da perna.
– Alo? – a Fernanda atendeu.
– Hey, Fãr.
– Hey, Zac.
– Não, não é o Zac.
– Ah não?
– É o Isaac, tudo bem?
– Ah... tudin'.
– E aí, tá ocupada?
– Tô no telefone – ela brincou.
– Por acaso, você está no telefone, neste exato momento, com o seu futuro... ahm... ficante?
Quando o Isaac disse isso, o Zac voou e tirou o telefone da mão do irmão.
– Porra, Zac! Eu tava falando com a Fãr! – o Isaac reclamou.
– Tava. – Colocou o telefone no ouvido. – Oi, Fãr.
– Oi, Zac.
– E aí, tudo bem?
– Tudo. E você? Como 'cê tá?
– I'm fine. Hey... nós tivemos uma conversa muito tesão ontem, né? – ele disse, rindo.
– Definitivamente – sorriu ela.
– Mas viu, 'cê tá afim de ir com a gente gravar hoje?
– Claro. Aonde é?
– Putz, eu não sei dizer... – o Zac falou, coçando atrás da cabeça.
– Bom, aí complica, né...
– Você não pode vir aqui pro hotel agora? Daqui a pouco a gente tá saindo e 'cê pode ir com a gente direto.
– Tenho que falar com a chefona aqui.
– Então fala com ela e vem pra cá – o Zac disse, naquele tom de quem precisa desligar.
– Beleza então.
– Então tá. Qualquer coisa liga no celular.
– Tá bom. Tchau.
O Zac desligou o celular e colocou na cintura, pendurado na calça.
– E aí, ela vem? – o Isaac perguntou.
– Ela vai falar com a mãe dela. Mas acho que vem sim.
– Espero – o Isaac sorriu muito tarado.
– Isaac, que que 'cê quer com ela, hein? – o Taylor perguntou.
– Eu? Trocar confidências – o Isaac ironizou. – O que você acha, Taylor?
O Zac só olhou sério, pensando mil coisas, mas sem dizer uma palavra. O Isaac estava realmente interessado na Fernanda e muito a fim de dar uns beijos nela.
A van do Hanson chega à emissora de televisão em que o pai da Priscila trabalhava. Ainda era um pouco cedo, mas sabe como é o Seu Walker, não é? Incrivelmente fanático com horários, cheio de regras, extremamente metódico. Um saco.
– Hanson, por aqui, por favor – um homem disse, logo que eles saíram do carro.
Saiu por último o Zac, porque estava conversando com a Fernanda. Eles entraram no prédio e passavam por um corredor, que os fazia ter de andar um na frente do outro, quando a Fernanda perguntou:
– Certeza de que não tem problema eu vir junto? – insegura.
– Fãr, se tivesse, com certeza você não estaria aqui – o Zac respondeu.
– Você nunca é um problema, Fãr – o Isaac disse, olhando para trás, por estar na frente dela.
– Ah, ok... – ela disse, sem graça.
Eles foram parar numa sala bonita, com um sofá confortável e uma mesa cheia de papéis e documentos. Parecia o escritório de alguém. O Isaac e o Taylor combinavam algumas coisas com o diretor e, enquanto isso, o Zac e a Fernanda sentaram no sofá esperar. Ele estava brincando que iria arrastá-la para o palco quando a gravação começasse e ela dizia que de jeito nenhum. Foi quando a Priscila entrou na sala. Ela não reconheceu aquela garota que conversava com o homem dela, por isso não gostou. Ela tossiu alto.
– Oi, Zachary – ela disse.
O Zac levantou na mesma hora e teria dado um beijo nela se a Priscila não tivesse virado o rosto. Ele só suspirou, chateado.
– Oi, queridinha, tudo bem? – a Priscila disse para a Fernanda, irônica.
– Pri, pára – o Zac pediu.
– Ué, Zac, não vai me apresentar a sua mais nova amiguinha?
– Pri, é só a Fãr.
A Priscila ficou olhando para a Fer, tentando lembrar da onde conhecia aquele nome. Não acreditava que estava vendo a Fernanda, a sua ex melhor amiga, ao vivo. Elas nunca tinham se visto antes, pois quando eram amigas só se falavam pela Internet, telefone e, às vezes, cartas, quando a Pri resolvia responder as cartas da Fernanda. O Taylor e o Isaac começaram a prestar atenção na conversa.
– Oi, Priscila – a Fernanda falou, séria.
– Mas... como 'cê veio parar aqui? – a Priscila perguntou.
– A história é longa, Pri... depois eu te conto – o Zac disse, tentando mudar de assunto.
– Ah... tá – a Priscila falou, olhando para a cara da Fernanda, assustada.
– Eu também não acreditei quando vi ela lá no hotel – o Zac falou.
– Alguém aqui falou que não estava acreditando, Zachary? – a Priscila disse. – Eu preciso falar com o meu pai. Já venho – saindo.
– Putz, ela tá puta – o Zac suspirou.
– Zac, eu posso voltar para casa na boa... – a Fer disse, levantando.
– Imagine! – o Isaac se manifestou. – Você fica. Só porque a fresca da namorada do Zac ficou brava, você tem que ir embora? De jeito nenhum.
– Ike, ela não é fresca – o Zac observou, um pouco nervoso.
– Imagine se ela fosse... – o Isaac falou. – Ficou brava só por quê a Fãr veio com a gente? Nada fresca, que isso.
O Zac não gostou nada daquele comentário.
– Ok, ok... chega vocês – o Taylor interrompeu. – Ninguém precisa brigar. Assim como ninguém precisa ir embora.
A Priscila entrou na sala de novo.
– Vocês já vão entrar no ar – ela disse e já saiu novamente. O Zac, como não podia deixar de ser, foi atrás dela.
– Putz, mas como o Zac é trouxa! Será que ele não vê que essa menina só quer fazer cú doce pra ele? – o Isaac disse, indignado.
– Ela é sempre assim? – a Fer perguntou.
– Às vezes pior – o Taylor falou.
Então eles foram para o estúdio. A Fernanda viu de longe o Zac discutindo com a Priscila, só que ela brigava e ele explicava um monte, mas não parecia adiantar nada. A Fer lamentou pelo amigo, porque sabia o quanto ele gostava dela.
– Silêncio no estúdio porque nós vamos entrar em 10 segundos! – um homem gritou. O programa ia ser ao vivo.
–10...
– Pri, ela ainda é minha amiga, e aí? – o Zac falava.
– 9...
– Eu vi como vocês estavam conversando! – ela gritou.
– 8...
– 'Cê sabe que eu te amo!
– 7...
– Você disse que não falava mais com ela!
– 6...
– Mas eu não estava mentindo!
– 5...
– É, eu vi mesmo!
– 4...
– Acontece que nós voltamos a conversar um pouco antes de eu vir pra cá!
– 3...
– Tá, Zac, vai lá com ela então! Com a sua amiguinha!
– 2...
– Pri, não faz isso...
– 1...
– Zac, sai daqui!
– 0.
Estamos aqui mais uma vez com você nesta tarde, porém hoje com convidados muito especiais!
– Eu tenho que ir... – ele disse chateado. – Depois a gente conversa.
Hanson!
O Zac foi para o palco com os irmãos muito triste. Quando ele estava assim, fechava a cara e não dava um sorriso.
– Putz, a Priscila não podia ter escolhido hora mais perfeita para brigar com o Zac – o Taylor comentou baixinho com o Isaac, quando eles estavam entrando no palco.
A Fernanda ficou só olhando. Da onde ela estava, ela conseguia ver a Priscila, brava, de braço cruzado, ao lado do pai dela, olhando a gravação acontecer. Era estranho porque parecia que ela estava vivendo aqueles chats da Internet em que a Pri brigava com o Zac por umas coisas muito inúteis. Ela estava agindo, ali, naquele momento, exatamente do jeito que ela fazia quando elas ainda eram amigas. A Fernanda pensou em ir até lá falar com ela, explicar que não tinha porquê ela ficar brava daquele jeito, mas desistiu da idéia. Dizem que na hora do ato, tudo o quê você disser pode ser usado contra você mais tarde. Então, melhor deixar quieto... A Priscila ia acabar vendo com o tempo que a Fernanda e o Zac eram apenas bons amigos.
– Com licença? Fãrnanda? – com o maior sotaque.
A Fernanda virou. Era o Eddie.
– Até onde eu sei, sou eu sim.
– Assistindo?
– Não, é que eu gosto de ficar parada, de braços cruzados, olhando para o nada. De preferência, dentro de um estúdio de televisão.
– Tá bom, tá bom, já entendi o recado – o Eddie disse. A Fernanda riu. – A Priscila está olhando para cá.
A Fernanda olhou para onde ela estava. Ela olhava serena, observando a Fer, concentrada. É claro, a Priscila virou o rosto quando viu que perceberam ela olhando.
– Essa menina é muito estranha... – o Eddie disse. – Normalmente, ela nem te olha na cara. De repente, puf, ela vira um doce e fica um amor com você.
– Vai ver que ela é um pouco insegura, sei lá...
Terminada a gravação, o Hanson foi direto para o camarim, pela saída atrás do palco. O Eddie se ofereceu para levar a Fernanda até lá, já que ela não tinha nem idéia de onde era. Entrando, só viu o Taylor e o Isaac. Este último, quase morreu de tanta alegria quando a menina apareceu na porta.
– Fãr! Olá – o Isaac disse. – E aí, sentiu saudades?
A Fernanda só riu, mas não de deboche. Ela achava engraçado aquele jeito do Isaac com ela.
– Tava tendo uma convulsão já, Ike, de tantas saudades – ela brincou.
– Que bom saber – ele disse, abraçando ela bem forte.
– Cadê o Zac? – ela perguntou logo que foi soltada.
– Foi falar com a Priscila – o Taylor respondeu.
– Ah... cara, eu tô me sentindo mó mal... – a Fer falou.
– Não fique, é besteira. A Priscila teria um ataque até se fosse a nossa mãe ali conversando com o Zac – o Isaac contou – O que ela quer é aparecer pra ele, só isso... fazer ceninha.
– Esses dois ainda casam... – o Taylor falou.
– Mas meu, ela tá brava por minha causa. Sei lá, eu acho que é mais pelo motivo de que nós já fomos muito amigas.
– Desencana, Fãr – o Taylor disse. – Amanhã já tá tudo bem.
O Zac chega e parecia pior. Ficou aquele silêncio quando ele entrou. Uma espécie de luto.
– Como foi lá? – a Fer perguntou, baixinho.
– Ah, ela ficou gritando lá uma hora um monte de coisas sem o menor sentido... como sempre, ela nem me ouviu direito e não acreditou em mim.
– Talvez você devesse conversar com ela mais tarde... depois que ela se acalmar – a Fernanda disse, tentando ajudar.
– Meu, é uma merda quando a Pri faz isso. Ela parece que inventa motivo pra brigar. É um saco! Eu vivo dizendo o quanto eu gosto dela, mas parece que ela não tá em aí – o Zac desabafou.
– Claro que está. Ela também gosta de você. Só que ela tem um jeitinho mais complicado de amar você, é isso – opinou a Fernanda.
O Zac olhou para ela sério e disse:
– Ela acha que a gente tem alguma coisa.
– E nós temos. Amizade – a Fer disse.
– Ela não acha que seja isso.
A Fernanda só levantou a sobrancelha, lamentando. Silêncio.
– Que saco... eu não queria ir para o hotel hoje – o Zac resmungou.
– E quer ir pra onde? 'Cê sabe que o nosso pai não deixa a gente sair quando estamos em países diferentes – o Isaac lembrou o irmão. – E também, é perigoso sair aqui nessa cidade. Se alguma fã te encontra, te mata na boa.
– Eu sei, Ike. Tava só sonhando aqui – o Zac retrucou, meio grosseiro.
A Fernanda estava sentindo-se como se estivesse sobrando.
– É melhor eu voltar para casa – ela disse.
– Não, vamos lá pro hotel – o Isaac convidou.
– É, vamos com a gente – o Zac adorou a idéia. – Vai ser legal se você for.
– É, muito legal – maliciou o irmão mais velho.
– Não sei se a mamy vai deixar... mas tá, eu ligo para ela.
E foi o que a Fernanda fez. Ela teve de implorar um pouquinho, mas a mãe dela acabou deixando. É que a Mariliz ficava preocupada, pois não tinha aqueeeela confiança em gente famosa. Eles voltaram para a van. O caminho todo, o Zac foi em silêncio. Só o Isaac que falava, perguntando um monte de besteiras para a Fernanda e dando muito em cima dela. No hotel, o Walker não foi muito com a idéia de a Fer ficar lá com eles, mas não disse nada. O Isaac subiu direto com o Taylor para se trocarem.
– Fãr, eu não quero subir – o Zac disse, triste.
– Quer ir aonde?
– Sei lá... vamos na quadra de Squash? Se tiver vazia, a gente joga.
E eles foram. Tinha um casal lá, mas não demorou muito para eles saírem. A quadra era uma sala fechada, grande, dentro do hotel, no andar da piscina. Era uma sala alta e muito bem iluminada.
– Tira o tênis – o Zac mandou.
– Pra quê?
– Porque é mais legal de meia.
– Aaaah. 'Tendi.
– Sabe jogar?
– Eu sei que a bolinha tem que bater na sua raquete e depois na parede. Eu só não tenho idéia de como faz isso.
O Zac deu uma explicadinha por cima para a Fernanda, só para que eles pudessem começar um joguinho básico. Ela até que pegou rápido, mas não tinha nem a metade da força que o Zac tinha.
– Meu, Zac, 'cê joga muito forte! Quando a bola volta pra mim, quase me derruba!
O Zac achou graça do jeito dela.
– Desculpe... acho que eu tô descontando a minha raiva nisso.
– Ah, tudo bem, então. Pode bater forte – ela falou.
– Certeza?
– Que que a gente não faz pelos amigos...?
O Zac sorriu.
– Prometo que vou tentar jogar mais leve – ele falou.
– A Fernanda agradece – ela brincou.
Mais um tempinho de jogo, eles sentaram no chão da quadra para descansar. Ficaram conversando sobre a Priscila. O Zac desabafou com a Fer, disse sobre amar a Pri mais do que tudo, sobre como ele se irritava quando ela começava com os ataques dela, sobre como era difícil lidar com o gênio dela... A Fernanda ouviu tudo, deu uns conselhos, tentou ajudar como pôde. Ficaram lá até que o casal de antes retornou. Aí eles saíram e foram para o hall do hotel, onde tinha mesas, um piano, música ambiente... Era bastante agradável. Sentaram nas mesas de mármore com cadeiras de estofado azul. Depois que o Zac desabafou com a Fer, os comentários sérios e o papo cabeça foram para as cucuias e a besteira correu solta:
– Um desejo? O que eu pediria? – A Fernanda pensou um pouco. – Eu acho que eu pediria para ir para a Disney pra assassinar o Mickey Mouse pra sempre.
O Zac deu uma gargalhada.
– Eu não acredito! Você também não gosta dele? – ele disse.
– Odeio.
– Putz, ele é muito gay.
– Na boa, mas pra mim ele não come a Minnie.
– Eu também acho que não. Acho que ele é mais a fim de comer o Pateta, o Pluto...
A Fernanda se matou de rir.
– Meu, tava a fim de assistir um filme... – o Zac disse, depois que passaram as risadas. – Faz tempo que eu não faço isso.
– Nossa, eu amo filme.
– Eu também. A diferença é que você tem tempo de ver.
– Ah, duvido que 'cê num tenha tempo pra assistir um filme – a Fernanda falou.
– Ter eu até tenho... o problema é o meu pai. Quando um de nós está descansando ou fazendo coisas que não tem nada a ver com a nossa carreira, ele fica do lado, buzinando no ouvido, pra gente acabar desistindo daquilo que nós estamos fazendo e voltar a ensaiar.
– Você não tem nenhum momento legal com o seu pai, não?
– Tenho, claro... mas é que, como a maior parte do tempo ele tá estressado, nas horas que ele volta a ser pai da gente, sei lá... não dá ânimo de conversar com ele. Entende?
– Entendo sim. Você já tentou falar com ele sobre isso?
– Uma vez, numa briga, eu disse isso bem alto. Mas ele falou que fazia isso para o nosso bem... Daí ficou na mesma merda.
O Zac foi ficando triste de novo. A vida dele às vezes conseguia ser mais complicada do que a de qualquer pessoa. Aquilo cortou o coração da Fernanda. Não devia ser fácil você ter de ser uma pessoa pública e ainda ter os seus sentimentos para cuidar, para sentir. Ela colocou a mão no ombro dele e sorriu de leve:
– Não esquenta, não Zacky... as coisas são ruins às vezes, mas não são para sempre.
Ele sorriu, um pouquinho desanimado:
– Tomara que você esteja certa...
Aquela noite, o clima que estava dizia claramente que a conversa correria mais séria. Claro, às vezes saíam umas piadas básicas, mas os dois falaram de uns assuntos menos inúteis. Foi um papo muito legal.
– Fãr, você não tem noção do que é você não mandar na sua própria vida, você não poder decidir o que você quer e o que você não quer fazer. Eu queria tanto poder mandar em mim mesmo, poder ter uma vida mais normal...
A Fernanda escutava tudo prestando muito atenção. Ele continuou:
– O meu pai é o pior... ele fala de dinheiro o dia todo. E quando alguma coisa não dá certo, por exemplo, quando... sei lá... – ele pensou. – Quando alguma companhia aí aceita receber a gente na cidade deles, mas quer pagar menos do que meu pai quer cobrar. Pronto. Aí ele fica puto! Mas Fãr, você não tem idéia. É horrível porque, meu, ele é meu pai, you know? Toda vez que eu vejo ele falando com alguém, sempre tem aquelas quantias absurdas de dinheiro no meio.
– Entendo... eu tenho problemas com o meu pai também. Eu o vejo acho que uma vez por mês.
– Você já tentou conversar com ele?
– Nossa, um milhão de vezes. Mas sabe quando você sente que a pessoa não quer mudar porque tá confortável pra ela do jeito que está? – ela explicou.
– Sei sim. Isso acontece entre eu e o Ike... sei lá... ele mudou demais desde que ele ficou galinha. Tá um escroto. E eu num sei se eu realmente queria tentar mudar isso porque ia dar muito trabalho.
A Fernanda fez uma cara de quem entendeu. Ficou um silêncio um tempo. Aí o Zac começou:
– Os meus primos sempre me contam de quando eles saem com os amigos deles e fazem essas coisas que todo mundo faz. Nossa, isso pra mim é algo tão distante... tão impossível... eu nunca saí a noite. Pior! Eu não tenho amigos! Dá pra acreditar nisso?
– Você tem a mim, Zac... – ela disse, com uma voz triste.
– Valeu, Fãr... de verdade – ele sorriu. – E sei lá... eu achava, às vezes, que eu só tinha a Pri de bom na minha vida. Mas ela é de tão longe... eu também gostava muito de ficar com você nos chats. Me distraía e eu ria muito com você, crazie girl. – A Fer riu. – Nós falávamos muita merda...
– Eu sei. Eu gostava também.
– E você sempre me ajudava com a Priscila. Quando a gente brigava, você sempre fazia a gente voltar a ficar juntos.
– Nossa... pensei que você nem percebia isso – a Fernanda se espantou.
– Claro que percebia. Eu só não falava.
– Você não é de falar as coisas, tipo, muito, né?
– Ah, sei lá... acho que... não sei.
A Fernanda riu:
– Claro, Zac, 'tendi tudo.
– Ah, mas eu não sei mesmo – ele sorriu, todo fofo.
– Mas e você? Já tentou falar com o seu pai, assim, de sentar conversar?
– Eu falei com a mamy um dia sobre isso. Ela concordou comigo, mas pediu pra eu ter paciência, que isso ia passar. Só que eu falei com a minha mãe o ano passado. E nada mudou. Só piora – ele disse, revoltado.
– Nossa, Zac... – a Fer disse, chateada por ele. – Mas será que se você falasse com ele, ele...
– Não, não ia adiantar. O meu pai tá obcecado. Ele não ia nem me ouvir.
– Ah... entendi.
– Mas ah... eu já acostumei com isso, sei lá... não ligo mais tanto assim.
– Zac, se você não ligasse, você não estaria falando disso com essa revolta na voz.
– Revolta? Imagine! Eu não ligo, tô te falando – ele levantou o tom de voz.
A Fernanda já sabia que o Zac era muito orgulhoso e infantil para algumas coisas. Dificilmente ele admitiria que sentia muito a falta do pai. Então, quando contrariava ou duvidava, ele ficava bravo.
– Tudo bem, Zac... sorry...
Ficou um silêncio ruim, daqueles que ficam quando as pessoas discutem.
– Ahm... eu acho que fui meio grosso, né? – ele disse. – Desculpe.
A Fer olhou para ele, séria. Então sorriu de levinho:
– Imagina.
– Eu não queria... tipo...
– Tudo bem, esquenta não. Tá desculpado – ela sorriu. – Você achou realmente que eu ficar brava com você por isso? Fala sério...
Ele pensou um minuto.
– A Pri ficaria – o Zac disse, baixinho.
– Ah, Zac... acho que aí vai da personalidade de cada um, né?
O Zac sorriu de canto, mas ficou com aquela expressão de quem não continuou o assunto, mas ficou pensando um monte de coisas. A Fernanda nem perguntou nada por achar que não devia, mas entendeu na hora que ele estava com certas dúvidas ultimamente. Aquelas dúvidas que dificilmente você fala em voz alta.
– Tá afim de beber alguma coisa? – ele ofereceu.
– Mmm... tô sim.
– Vamos lá no restaurante.
Eles foram para lá. Mais tarde, chegaram o Isaac e o Taylor e sentaram com eles. Ficaram conversando. O Taylor estava todo feliz porque tinha conversado com a Marion, (a morena do M2M, aquela dupla de cantoras que cantam a música do filme Pokémon), o atual rolinho dele. Ele estava realmente empolgado com a Marion porque, bom, ele estava começando a gostar um pouco dela e estava sendo divertido para ele. O Isaac não parava de dar em cima da Fer. Diretão mesmo. Volta e meia, ele soltava umas indiretas diretíssimas. Certa hora, eles estavam conversando sobre relacionamentos e a Fer estava contando que tava mesmo precisando dar uns beijos em alguém.
– Mas tem que ser alguém decente – ela estava explicando.
– Ei, eu sou decente – o Isaac falou.
A Fernanda achou graça.
– Eu acho que isso sou eu quem decido, não acha? – ela respondeu.
Noooossa. O Zac começou a rir muito da cara de tacho que o Isaac ficou e o Taylor só abaixou a cabeça e riu também.
– Right in your face, man! – o Zac disse, rindo um monte.
Já eram quase meia-noite e eles continuavam lá. A Fernanda sabia que tinha que ligar para a mãe dela, mas não queria. A conversa estava muito legal. Eles estavam rindo um monte juntos, bebendo muito suco de morango com batata frita, que o Taylor simplesmente amava.
– O nosso pai daqui a pouco liga dizendo que nós temos que subir – o Isaac disse.
– Ah não! Fiquem! – a Fer fez aquela cara de piedade.
– Pera, 'xô ligar pra ele pra perguntar – o Taylor falou.
O Taylor ligou lá para o Seu Walker e falou rapidinho com ele.
– Ele deixou – o Tay disse.
– Aêêê! Seu Walker pra presidente! – ela brincou.
Todo mundo riu. Era estranho estar ali, com o Hanson, conversando de coisas tão normais, falando da vida, fazendo piadas para eles rirem... Até o Isaac, que era mais na dele e mais tarado, estava começando a entrar no clima e falar umas coisas engraçadas.
Quando já era quase duas da manhã, a Fernanda resolveu ligar para casa para ver se a Mariliz poderia buscá-la. Ela demorou para atender, mas finalmente atendeu.
– Alo? Mãe?
– Oi, Fer...
– Tava dormindo, né? Desculpe...
– Tudo bem, filha.
– Você pode vir me buscar?
– Ai, Fernanda, aí nesse distância?
– Eu sei, mãe, mas é que eu tenho que ir pra casa de algum jeito.
– Você não pode dormir aí, não?
– Mãe!
Os três olharam para a Fer com aquela expressão no rosto de que sabia o que era.
– Ai, filha, pega um táxi. Num me faz sair daqui agora...
– Eu tô sem dinheiro.
– Ai, meu santo, Fernanda. Pede emprestado pro tal do Zac. Ele não é rico?
– Mãe, eu me recuso a responder esse comentário.
– Algum problema, Fãr? – o Zac perguntou.
– Pera mãe – ela disse, afastando o telefone. – A chata da minha mãe que não quer vir me buscar!
– Fernanda, eu entendi isso! – a mãe dela falou alto. – Você acha que eu não sei inglês completamente?
– Ah, mãe, mas é, poxa! Eu preciso dormir.
– Ai, meu Senhor Amado...
– Ahm... Fãr? – o Taylor chamou-a.
– Fala.
– Eu acho que 'cê pode dormir aqui... sei lá, aí 'cê dorme lá no nosso quarto. O nosso pai só não pode saber porque, bom... ele vai ficar puto – o Taylor explicou.
– Eu também entendi isso – a Mariliz gritou no telefone. – Aceita, filha, por favor. Tem piedade da sua mãe que trabalha amanhã cedo e tá morta de cansaço.
A Fernanda ficou muito sem jeito de aceitar, mas ela queria, claro.
– Ai, não sei...
O Zac não disse nada. E foi isso que deixou a Fer mais incomodada.
– É, Fãr, fica – o Isaac falou, todo empolgado.
– Isaac, se 'cê tá pensando que eu vou levantar no meio da noite pra ir no SEU banheiro... esquece, filho – ela brincou. O Zac riu.
– Só que assim... 'cê tem que ir embora cedo. Amanhã a gente só tem gravação depois do almoço. Então, o nosso pai vai aproveitar para dormir até mais tarde. Aí 'cê teria de ir embora antes de ele acordar, pra ele não te ver aqui – o Isaac explicou.
– Mas... gente, eu acho que é arriscado... – a Fernanda disse.
– Isso é mesmo... – o Zac falou.
A Fernanda já entendeu que ele não queria que ela dormisse lá. E se sentiu muito mal. Achou melhor não, porque o Isaac queria que ela dormisse lá pelo simples motivo de ele ter algo entre as pernas. E o Taylor porque... bom, ele era educado. Só por isso. E não era o bastante para faze-la ficar.
– Mãe, por favor... vem me buscar. Eles não querem que eu fique – ela disse, em português.
– Claro que querem. Eu ouvi muito bem o seu amigo falando aí.
– Mas mãe, ele disse por educação. E se for pra eu ficar, é escondido porque se o pai deles descobrir, mata os três. Por favor, mãe...
– Tá, tá, eu vou. Daqui uns 20 minutos, vai para a frente do hotel pra eu não ter de ficar esperando muito.
– Beleza. Valeu, mãe. Te amo.
– Incrível como você me ama nessas horas.
– Tchau, mãe. E não demora!
– Tchau.
Ela desligou o telefone e devolveu para o Zac.
– 'Brigada – ela disse para ele.
– E aí? Vai ficar? – o Isaac quis saber.
– Nah... minha mãe tá vindo.
– É melhor mesmo... 'cê ia ter de sair correndo daqui logo de manhã cedo... não ia ser muito divertido – o Zac falou num tom aliviado. Isso deixou a Fernanda um pouco chateada, mas se ele não queria que ela dormisse lá, fazer o quê? Não queria e pronto. Era um direito dele. Mas magoava mesmo assim.
– É, acho que sim – ela disse, sem mostrar que ficou triste.
Eles ficaram conversando mais um pouco, mas a Fernanda parou de falar. Não que ela tivesse ficado brava, mas sabe quando você não espera por aquilo? No íntimo dela, ela achava que o Zac ia gostar da idéia. O Zac era um amigo muito querido para ela.
– Bom, mas deixa eu indo lá pra frente porque a minha mãe já deve estar aí.
– Pena que 'cê já vai – o Zac falou.
– É, 'cês precisam dormir. E eu também – a Fer falou.
– Mas Fãr, um dia você vai vir dormir aqui, né? – o Isaac perguntou.
– Ah, não sei... depende. Mas ó, a gente conversa depois – ela disse já levantando.
O Isaac e o Zac levaram a Fernanda até o hall do hotel. O Taylor deu tchau para ela e foi para o quarto. Eles não podiam sair porque estava cheio de fãs lá. Se despediram e a Fernanda saiu escondida.
– Porra, Isaac! 'Cê não desgruda mais, meu! – o Zac disse, no elevador, bravo.
– O quê, Zac?! Não enche! Você é só amigo dela!
– Mas e daí?! Meu, a gente não conversa mais sozinhos porque você fica na cola agora!
– Zac, 'cê tá afim dela, por acaso?!
– Claro que não, Ike, mas porra!
– Você já tem namorada! Eu ainda não! E que culpa tenho eu se a menina que eu quero é a tua mais nova amiguinha?!
Eles chegaram no quarto.
– Tá, foda-se! – o Zac gritou e bateu a porta do banheiro.
– Nossa, que foi isso exatamente? – o Taylor estranhou.
– O Zac com os ciúmes imbecis dele de novo – o Isaac falou.
– Tenha paciência, Ike. O Zac é o mais frustado de nós por não termos muitos amigos. Os poucos que ele arranja, ele tem ciúmes mesmo, porque ele não quer perder.
– Você sempre me fala isso. Eu sei, Tay. Ah, vamos dormir, vai...