A Mão e a Luva



 
 
 
 

A mão e a luva foi o segundo romance escrito por Machado de Assis, ainda tímido de sua disparidade das tendências gerais da ficção brasileira da época. Seu tema típico do romance oitocentista ocidental, é o conflito entre amor e interesse na realização do casamento. Abordado também em "Senhora", que foi publicado em 1875 — um ano após a "A mão e a luva", portanto — este tema adquire, nas mãos de Alencar, foros de drama romântico, que desgasta uma tragédia inicialmente enunciada até o happy end. Machado, em contraposição, não distende o conflito, realisticamente harmoniza as partes, fazendo do amor um sentimento em que, à maneira clássica, há lugar para a vontade, para admiração não-gratuitadas qualidades do outro, para a complementação recíproca das personalidades, para a ajuda mútua e o projeto de vida comum. Guiomar e Luís Alves "decidem" amar-se, porque adivinham suas afinidades e as vantagens que a união traria para ambos. O amor, mesmo na chamada "fase romântica" de Machado(Ressurreição, A mão e a luva, Helena, Iaiá Garcia, Contos flumineses e Histórias da Meia-Noite), não é uma fatalidade, mas uma escolha — muito livre para o homem e hábil e arduamente atingida pela mulher em luta contra as limitações que o meio lhe oferece: a obediência aos responsáveis e a dependência econômica.

Como duplo deste amor realizado, há o amor não realizado de Estêvão pela mesma Guiomar. Este personagem se afigura cheio de arroubos do amor romântico, com ameaças de suicídio, tomado de um desespero mórbido, mas sempre superficial. Não me parece que sua caracterização esteja isenta de caricatura, embora discreta.
 
 


Página Principal|Romancistas|Livros|Perfil|e-mail