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Sucesso veio a milhão para Chorão, skatista e vocalista do Charlie Brown Jr.. Durante um descanço forçado, resultado de um tombo enquanto andava de skate, ele recebeu nossa reportagem para contar como chegou lá.
Por Luciana Brunelli
O COURO TA COMENDO!
Como surgiu o seu apelido?
Na galera do skate os caras geralmente têm apelidos engraçados. Bolota, Por Quê, Pois É, Tron, Esquilo, Tarobinha... Eu sou o Chorão. E tem a ver, eu choro fácil: é só ficar nervoso que eu choro. Mas normal, às vezes eu consigo me controlar.
Como foi o começo do Charlie Brown Jr., em Santos ?
A gente já se conhecia do circuito. Eu e o baixista saímos da banda que eu tinha e montamos o Charlie Brown com o Marcão, depois entraram o Tiago e o Pelado. A banda já tem uns cinco anos, mas essa formação tem uns três e meio. Se você se junta com pessoas que têm a mesma intenção que você e quer fazer um trabalho sério, pra não ficar chupando manga, a coisa começa a andar.
E os primeiros shows ?
Primeiro a gente começou a fazer as músicas, elaborando o som, pra depois tocar ao vivo. Depois gravamos nossa primeira demo e aí começamos a tocar em alguns bares de Santos, em algumas festas. Isso já foi em 93. A gente abriu pros Titãs, uma época boa pra caramba. Daí a gente tocou com Chico Science, Planet Hemp, um monte de galera, até gravar nossa terceira demo, que a gente mandou pra um amigo, o Tadeu Patola. Ele é músico, toca no Lagoa, e também é produtor. Ele levou a demo pro Rick Bonadio, que tinha produzido o disco do Lagoa. O cara gostou e marcou uma audição. Levamos um monte de músicas que já estavam prontas e deu pra ele se ligar qual era a do som. Ele gostou e a gente
começou a trabalhar juntos. A gente acabou sendo contratado pela Virgin, com quem temos um contrato de três discos. Lançamos o CD em junho, mas a música já vinha tocando na rádio desde abril.
Vocês começaram a ser reconhecidos depois que vieram pra São Paulo ?
Em Santos a gente já era conhecido e tal. Mas éramos underground, tocávamos em lugares menores. O pessoal está reconhecendo a gente na rua já faz tempo. A galera tá crescendo, é legal, você vê o resultado do teu trabalho.
E como é lidar com isso ?
Quando a pessoa te aborda na rua é difícil ela ser hostil ou ser folgada, então é sempre legal. Mas em show às vezes rola uns lances mala, mas são pouquíssimos. A gente depende da galera para que o nosso trabalho continue rolando.
Mudou muita coisa na sua vida depois do sucesso ?
Agora eu vivo do meu trabalho, é engraçado. A cada show você aprende uma coisa, você tem que estar sempre atento ao que vai falar, não pode se jogar demais. Que nem eu: quebrei a perna andando de skate e isso atrapalho o meu trabalho. Fui andar de skate num momento em que eu devia ter me poupado. Eu sou muito porra-louca. Mas isso foi bom pra eu parar e ver como as coisas estão realmente. Eu me liguei.
O que vem primeiro, o rock ou o skate ?
Graças a Deus eu consegui unir duas coisas que eu amo muito. Minha mãe escutava rádio o dia inteiro e eu aprendi a gostar de música desde pequeno. Depois eu percebi que queria ter banda. Mas aí eu desvirtuei um pouco, tive que trabalhar: fui vendedor, iluminador... Mas nada deu certo, tanto é que eu
acabei montando minha banda. O skate me deu a certeza do tipo de música que eu queria fazer. Influenciou porque tem muita coisa da cultura skate, cultura da rua, o hip-hop, o hardcore. Skate é muito mais um prazer do que uma coisa que eu faço buscando a evolução. O que eu ando já é sufuciente.
Quem você respeita no cenário musical brasileiro ?
Muitas bandas, todo mundo que mantém o respeito, que dá valor ao trabalho, que não deprecia outras pessoas. Planet Hemp, Mundo Livre S/A, Chico Science, Pavilhão 9, Lagoa, Racionais. Admiro Paralamas e Cidade Negra. E gosto de Sepultura pra caramba.
Que som te influenciou ?
Bandas do passado, tipo Madness, Suicidal Tendencies e algumas bandas atuais como Planet Hemp, e Mighty Mighty Bosstones. Gosto de TSOL pra caramba.
E como foi abrir para o TSOL ?
Muito bom. Foi um aprendizado de feeling, de simplicidade, de sabedoria. Os caras me ensinaram algumas coisas, tivemos bastante contato com eles.
E como foi o lance do skate que você jogou pra platéia durante o show de abertura do TSOL.
Ele caiu na cabeça de um repórter da TRIP... Cresci correndo campeonato de skate e a galera sempre joga um skate pra galera que ta assistindo. E eu achei que pudesse levar isso pros shows. Fiz uma veze foli legal, mas a segunda vez deu nisso. Pode ser que um dia eu entregue o skate na mão de alguém, mas nunca mais vou jogar. Eu liguei pro cara, falei com ele. Fiquei super mal, quem tava lá viu. Se eu fico mal eu choro, falo o que tenho que falar, vou atrás. Cometi um erro a aprendi. Foi uma situação super constrangedora pra mim, não vai se repetir.
Você mudou pra São Paulo há pouco tempo. Como é morar aqui com sua namorada ?
Eu sou de São Paulo, morei aqui até os 17 anos. Depois fui pra Santos. É umaconquista voltar pra cá. Eu voltei por causa da banda. A Graziela é de Santos, mas trabalhou aqui uma cara. Ela tirou umas férias e voltou pra cá comigo.
E o próximo CD ?
Primeiro vamos trabalhas as músicas desse disco, que merecem uma atenção especial. Deus foi bem generoso com a gente. No final do ano que vem devemos lançar nosso segundo disco.
Como o Charlie Brown vai estar daqui um ano ?
Nosso disco vai ser lançado em cinco países da Europa: Itália, Alemanha, Espanha, Portugal e Bélgica. No ano que vem, eu quero estar com uma cabeça legal, trabalhando bastante, indo fazer uma turnê fora, tipo na Europa.
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