PUTZ: Vocês já se conheciam legal antes de formar a banda?
THIAGO: Todo mundo se conhecia. O Marcão, Champignon e o Chorão já tocavam juntos. Eu e o Pelado éramos de outra banda.
CHORÃO: Mas todo mundo era da mesma turma, Santos e uma cidade pequena e o cenário musical de lá acontece no mesma local. Então, todo mundo acaba se conhecendo.

PUTZ: É todo mundo de Santos?
CHORÃO: Sou de São Paulo e fui pra Santos com 17 anos. Morei 10 anos lá! Logo que cheguei, conheci a Champignon e montamos a ’What’s Up". Não rolou e ai a gente criou a Charlie Brown.

PUTZ: O Thiago e o Pelado pegaram o bonde andando?
PELADO: A gente tava parado no ponto, com o pneu furado e a eixo quebrado... Passou o bonde e a gente entrou.
THIAGO: Eles ensaiavam no mesmo estúdio que a gente e já rolava um contato, quando precisaram de um guitarrista e um baterista, chamaram a gente.

PUTZ: E pôr que os apelidos?
CHORAO: Eu choro fácil, mas não é de dor. As vezes, tem coisas que doem menos e fazem você chorar. Machuca ver neguinho na rua passando fome.
CHAMPIGNON: Tava deixando o cabelo crescer e só crescia pra cima. O Chorão falou "Po veio, cê tem uma cara de Champignon, né?". Todo mundo deu risada e ficou.
PELADO: Tava pelado no quintal de casa, tomando banho de mangueira. Um camarada tava escalando a casa da lado e me viu na parada.

PUTZ: As letras são baseadas na historia pessoal de vocês?
CHORÃO: Algumas são autobiográficas. Procuro fazer algo com que as pessoas se identifiquem, coisas que rolam no nosso cotidiano.

PUTZ: Qual música é autobiográfica?
CHORÃO: ’Lombra’...

PUTZ: O que é lombra?
CHORÃO: E tudo aquilo que a ciência não explica. Tem a ’Charlie Brown", que e uma música bem autobiografia. Mostra o lance da batalha, porque a gente batalhou anos pra conseguir chegar onde estamos. Tem também "Aquela Paz", que eu fiz pra um irmão meu que tem problemas.

PUTZ: Quem é a Grazon?
CHORÃO: É minha namorada. Fiz pra ela a musica "Proibida pra Mim’. E meio verdade aquela historia dela achar meu cabelo engraçado e ser proibida pra mim. Eu pensava "Po, vou roubar essa mulher pra mim’ e falava pros meus amigos, "essa eu vou namorar!".

PUTZ: Como e aquela história de morar no BNH?
CHORAO: Já morei no BNH e em lugares piores até. Nas a música "Tudo Que Ela Gosta de Escutar" foi feita em cima da cara da rua, que a pai da fulana menospreza. Na verdade, a mina gosta muito do cara, porque ele e diferente daquilo que os filhos dos amigas da pai dela podem oferecer.

PUTZ: Agora vocês estão ganhando grana?
CHORÃO: Graças a Deus, a gente tá vivendo daquilo que faz, mas não a ponto de ter casa, comprar carro. Quem tinha carro continua com o mesmo, e quem não tinha continua sem.

PUTZ: Como surgiu o nome Charlie Brown Jr.?
CHORÃO: Sempre me identifiquei com o personagem do Charlie Brown, pelo lance do moleque ter sempre uma opinião diferente do resto da turma e ficar se lamentando direto. Mas o Charlie Brown pintou de uma porrada de carro, que eu dei em Santos. Atropelei uma barraca de coco chamada Charlie Brown. Ai, foi recado de Deus!

PUTZ: Como foi ouvir pela l’ vez a musica de vocês na rádio!
CHAMPIGNON: Todo mundo chorou, principalmente o Chorão, que saiu gritando pela gravadora.

PUTZ: Vocês usam drogas?
THIAGO: Todo mundo é careta. A gente não levanta nenhuma bandeira, só queremos tocar.
PELADO: Somos movidos a adrenalina.

PUTZ: O Planet Hemp levantou bandeira e se deu mal. 0 que vocês acham da prisão dos caras?
THIAGO: Se deu mal numas. Eles venderam 500 mil cópias.
CHORÃO: A repressão tá em primeiro plano. Existem jornalistas que escrevem o que bem entendem sobre as bandas, que o som do fulano é uma bosta. Acho que o Planet Hemp também pode falar o que bem entender. Se tá induzindo ou se não tá... O jornalista tem o mesmo poder de fogo nas mãos, só não tem a mesma ascensão. O problema é que os caras foram onde as autoridades jamais imaginaram que iriam chegar. Tudo que é bom incomoda e neguinho quer repreender. Todos eles tem família, não são bandidos e não incentivam ninguém a fumar maconha.
THIAGO: Não é porque é a Planet Hemp. Pode ser qualquer banda. Se neguinho tiver a fim de fumar no show, vai fumar. E inevitável!

PUTZ: Já ralou treta entre vocês e a policia?
CHORÃO: A gente não tem problema com a policia, porque a letra da música diz "corra vagabunda, olha a policia ai". Vagabundo generalizando. Certas pessoas encaram como vagabundo quem anda mais a vontade, de bermuda. Nem a policia sabe bem quem é bandido e, as vezes, age de maneira errada com certas pessoas. A gente nunca tem a pretensão de falar mal, pra lazer a molecada odiar a policia, e sim, ficar esperta.

PUTZ: O que vocês faziam antes de manter a banda?
CHAMPIGNON: Eu estudava e tocava. Já fui até balconista de livraria.
PELADO: Tocava na noite e fazia entrega de chicletes. Fiquei 5 anos nessa!
THIAGO: Fiz faculdade de Administração durante 6 meses e larguei pôr causa da banda. Nunca trabalhei em outra coisa, sou vagabundo....
MARCÃO: Dava au1a particular de guitarra e fazia faculdade de Propaganda. Tive que trancar na 4 º ano. Um tempo atrás, trabalhei como corretor de imóveis.
CHORÃO: Corri várias anos nos campeonatos de skate e fui vice-campeão paulista. Vendia cartões de natal,, fui auxiliar de camera, caboman, iluminador. Minha mãe foi doméstica, fazia pastel, cozinhava pra fora e eu ia entregar.

PUTZ: Já rolou lance de ciúmes entre vocês?
THIAGO: A gente põe a som em primeiro lugar.
CHORÃO: Nos não somos formadores de opinião, nem eu sou sex-symbol porra nenhuma. Apareço mais, parque to com a microfone na mão. Aqui todo mundo ganha igual e sozinho ninguém é parra nenhuma.

PUTZ: Alguém teve que vender carro ou alguma coisa pra montar a banda?
CHORÃO: Carro ninguém vendeu, porque ninguém tinha. Se tivesse carro, perigava não ter a banda... risos!. Vendi um monte de coisas que tinha em casa pra fazer a demo. Agora dei em grana pro meu pai!

PUTZ: Quais são os próximos projetos da banda?
THIAGO: Em julho ou agosto, a gente vai gravar o próxima disco. Mas ainda estamos preocupados com esse, tem muita música pra trabalhar.
CHORÃO: Agora vão lançar o Charlie Brown na Espanha, Portugal e Argentina. Parece que também tem Bélgica e Itália interessadas no nossa trabalho.