Cruzeiro da Independência

Também conhecido por cruzeiro do Pico da Torre. Está implantado
no cimo do Pico da Torre, na fregu
esia de Câmara de Lobos. O
lançamento da primeira pedra teve lugar no dia 28 de Maio de
1941, tendo a sua inauguração ocorrido no dia 14 de Setembro do
mesmo ano
[1],
[2].
O pico da Torre está actualmente dotado de um cruzeiro da
independência, símbolo das comemorações dos centenários, levados
a efeito pelo Dr. Oliveira Salazar
[3]. O lançamento da primeira
pedra para a sua construção, bem como de uma caixa metálica
contendo várias moedas de 10$00 e de 5 centavos e uma acta
alusiva ao acto, teve lugar no dia 28 de Maio de 1941, por
ocasião do 15º aniversário da Revolução Nacional.
De acordo com a acta de lançamento da primeira pedra do cruzeiro
do Pico da Torre, aos vinte e oito dias do mês de Maio do ano
de mil novecentos e quarenta e um, aniversário do XV ano da
Revolução Nacional, neste sítio do Pico da Torre de Câmara de
Lobos, compareceram o presidente da Câmara, professor Ângelo de
Menezes Marques e os vereadores Srs. João Ernesto Pereira,
Francisco Nunes Pereira de Barros Júnior e João Ricardo Ferreira
César, Reverendo Vigário da freguesia, padre António Pinto da
Silva e outras autoridades convidadas a assistir ao lançamento
da primeira pedra para o levantamento de um cruzeiro, símbolo
das Comemorações Centenárias, levadas a efeito pelo douto
governo nacional da presidência do estadista Oliveira Salazar,
que muito tem dignificado a Nação Portuguesa pelas medidas e
providências tomadas dentro do patriotismo nacional. Este
monumento representa para todos os munícipes a fé cristã, que há
oito séculos se gravou no coração dos portugueses e perpetuará o
reconhecimento para com Deus, que se dignou emprestar à
governação um filho desta Pátria Portuguesa tão fidedigno que
nos desvanece como irmãos. Esta acta vai assinada pela Comissão
Administrativa da Câmara
e por todos aqueles que estão
presentes. Pico da Torre de Câmara de Lobos, 28 de Maio de 1941
[4],
[5].
Ainda que sejam por demais evidentes as vertentes políticas
deste empreendimento, a iniciativa da sua construção partiu da
Acção Católica de Câmara de Lobos e fundamentalmente do seu
assistente, o Pe. António Pinto da Silva. Contudo, foi a
expensas da Câmara Municipal de Câmara de Lobos, na altura
presidida pelo Prof. Angelo de Menezes Marques que a obra se
realizou.

Construído em pedra de cantaria, o cruzeiro possui na sua base
a inscrição: "Fundação-1140/Restauração-1640/Ano
Áureo-1940/Mandado erigir pela Câmara Municipal de Câmara de
Lobos" e foi solenemente inaugurado e benzido no dia 14 de
Setembro de 1941. Do acto, presidido por Sua Exa.
Reverendíssima, o Bispo do Funchal e à qual assistiram as mais
altas individualidades políticas e religiosas locais e muito
público, fez parte uma missa campal. As Bandas Municipal de
Câmara de Lobos e Recreio Camponês, bem como elementos da
Mocidade Portuguesa das escolas locais, providos de clarins e
tambores tiveram a seu cargo a recepção das individualidades
convidadas
[6].
Para compreendermos melhor as
razões que levaram à construção, por todo o país, importa ler um
pequeno texto publicado em Março de 1940 num órgão de informação
regional, intitulado de "Um Cruzeiro da Independência na
Madeira":
Em
Setembro de 1938, ao microfone da Emissora Nacional, um dos mais
altos espíritos de poeta da nova geração — Moreira das Neves —
lançava a iniciativa da construção do Cruzeiro da Independência,
como perpetuação das festas Centenárias
Esta
ideia magnífica, dum largo alcance patriótico, desde logo
encontrou eco na imprensa portuguesa, que a ela se referiu em
ternos da maior simpatia.
As
Emissoras Nacional e Renascença têm, por sua vez, feito largas
referências a este respeito, realizando interessantes palestras
de propaganda.
Vemos
com efeito, que a ideia caiu em bom terreno, pois, são já
numerosas as localidades no continente onde vão erguer-se os
cruzeiros da Independência – que comemorarão as grandes festas
cujo início terá lugar dentro de 2 meses.
A
ideia é, francamente, linda, e contém um pensamento altíssimo: o
de relembrar uma data gloriosa e de maneira que possa a sua
recordação desafiar os séculos.
A
comemoração do duplo centenário ficará assim relembrada em
pedra, a falar aos vindouros, duma data que nos recorda a nossa
grandeza e soberania, bem firmes e sólidas ao cabo de oito
séculos de existência.
Se é
preciso que a ideia das Festas Centenárias se alargue e estenda
a todos os recantos de Portugal, nós vemos, realmente, nesta
simpática iniciativa, um dos meios mais práticos e directos para
que a gloriosa data do nosso Oitavo Centenário seja melhor
compreendida e mais profundamente vivida pelos que não possam,
possivelmente, deslocar-se aos centros onde essas comemorações
tomarão maior vulto e entusiasmo.
O
Cruzeiro da Independência unirá assim, neste momento histórico,
todos os corações portugueses num só pensamento e numa só
vibração de alma.
Ele
recordará pelos tempos fora um acontecimento de grande vulto e
suma importância, e ao mesmo tempo constituirá um valioso padrão
da nossa. Fé, couraça espiritual que foi sempre connosco através
das nossas conquistas de além-mar.
Símbolo de sacrifício e de redenção, a Cruz de pedra, tosca ou
lavrada, de granito ou de mármore perpetuará a grandeza das
nossas causas defendidas em nome de Deus e da Pátria há-de
lembrar-nos Ourique, Val-de-Vez e Aljubarrota; há-de levar-nos
ao coração a fé intemerata e o heroísmo de Afonso Henriques e de
Nuno A’lvares.
A
inscrição nela gravada recordar-nos-á a fundação e a restauração
de Portugal.
A Cruz
há-de falar-nos da nossa crença, largas vezes manifestada
através da história, em tantas emergências difíceis.
Pela
Cruz e com a Cruz pelejamos em inúmeras batalhas que nos deram
fama e prestigio, e, por isso nenhum outro sinal mais belo e
significativo poderíamos escolher para perpetuar nas nossas
cidades, vilas e aldeias, a comemoração festiva de oito séculos
de existência...
Vão
lançar-se novos Cruzeiros por esse país fora, comemorando as
Festas Centenárias, e, vem a propósito, nesta altura, perguntar
o que faremos nós nesse sentido.
A
Madeira vai festejar também, embora modestamente, as Festas do
Duplo Centenário, e mal ficaria se não se pensasse na construção
do Cruzeiro da Independência na nossa Ilha.
Por
mais imponentes que, possivelmente, fossem essas festas, o tempo
se encarregaria de fazer passar sobre elas o pó da distância e
do esquecimento, e, pouco restaria de pé a recordar o Duplo
Centenário.
A
reportagem fotográfica e jornalística, o filme, etc. passariam
depressa.
O
monumento de pedra ficaria no entanto, a relembrar através dos
tempos, esse acontecimento nacional de tão grande repercussão
adentro e além fronteiras.
A
Madeira parcela valiosa da Terra Portuguesa, deve erigir também
um Cruzeiro da Independência — documento duma fé que fez heróis
e santos, duma esperança viva nos destinos da Pátria nesta hora
alta de verdadeira restauração nacional.
Mostremos que estamos com todos os portugueses
neste momento histórico, em que a nossa querida Pátria comemora
o 8.º Centenário da sua fundação e 0 4.º da sua
Restauração
[1].
[1]
Um Cruzeiro da Independência na Madeira". Diário de
Notícias, 7 de Março de 1940.
[2]
VERÍSSIMO, Nelson. À Volta de Um Cruzeiro. Girão -
Revista de Temas Culturais do Concelho de Câmara de Lobos,
Vol.1, nº4, 1º semestre de 1990, 144-145.
[3]
VERíSSIMO, Nelson. À volta de um cruzeiro.
Girão-Revista de Temas Culturais do Concelho de Câmara de
Lobos, nº4, 1º semestre/1990:144-145.
[4]
O Jornal, 30 de Maio de 1941
[5]
FREITAS M. Pedro. Acta de Lançamento da primeira pedra
do cruzeiro do pico da Torre. Girão-Revista de Temas
Culturais do Concelho de Câmara de Lobos, nº5, 2º
semestre/1990: 224.
[6]
FREITAS M. Pedro. Em Câmara de Lobos, inauguração do
cruzeiro do pico da Torre. Girão-Revista de Temas Culturais
do Concelho de Câmara de Lobos, nº3, 2º semestre/1989: 109.