Cunhais
Até ao início do último
quartel do século XX, era frequente verem-se, nos antigos
caminhos municipais da freguesia do Estreito, transportar em
corsas, vários tipos de produtos produzidos nas suas zonas
mais altas e destinando-se às zonas mais baixas ou à
freguesia de Câmara de Lobos, nomeadamente, produtos
agrícolas, lenha, varas de pequeno porte, fagulha, etc., o
mesmo acontecendo com varas de maior porte, estas
transportadas por deslizamento directo sobre o piso dos
caminhos. No entanto, este meio de transporte, dada a
dificuldade em o manter numa posição central relativamente
às bermas e a velocidade que às vezes atingia, levantava
alguns problemas como os da danificação dos muros ou paredes
de residências situadas à margem dos caminhos e contra os
quais roçavam ou embatiam violentamente, danificando-os sem
que os proprietários dos mesmos fossem indemnizados pelos
estragos sofridos.
Para obviar tal facto, os
proprietários desses muros ou prédios, costumavam
protegê-los colocando pedras ou cunhais junto a eles,
evitando assim o embate directo ou criando um certo
distanciamento entre o material transportado e a vedação
existente. Consoante a importância da vedação a proteger ou
poder económico do seu proprietário, assim também mais ou
menos elaborados eram tais protecções, podendo ser de
cantaria lavrada ou simplesmente constituídas de pedras, que
eram introduzidas pela calçada abaixo, junto dos muros. O
seu número também variava da mesma forma e com o maior ou
menor risco de danificação, encontrando-se uma maior
concentração de cunhais junto das curvas e menor número nas
rectas.
O acesso fácil aos meios
de transporte motorizados e o abandono de certos hábitos de
vida acabaram radicalmente com este tipo de transporte e
consequentemente com os problemas dele decorrentes, passando
tais protecções a não serem mais do que estorvos. Por isso
mesmo, a pouco e pouco foram desaparecendo, quer retirados
pelos proprietários dos muros que antes protegiam e que a
isso foram obrigados ou, então, na sequência de obras de
alargamento ou repavimentação.
Com a justificação de que
muitas destas pedras, cunhais ou escoras junto dos muros
roubavam na largura da estrada 60 cm e às vezes mais,
prejudicando a estética das mesmas e dificultam a passagem
de veículos automóveis, a câmara Municipal de Câmara de
Lobos faz aprovar a 13 de Abril de 1939 uma postura que, ao
obrigar os proprietários dos prédios protegidos com tais
cunhais a os retirar sob pena de multa, aniquila
completamente um tipo de protecção que durante, muitos e
muitos anos marcou presença em muitos caminhos do concelho
de Câmara de Lobos
[1].