 |
Domingos
Fernandes Dantas
| |
|
DOMINGOS
FERNANDES DANTAS

Domingos Fernandes Dantas era natural da freguesia
de Câmara de Lobos, onde nasceu, ao sítio da Torre, no dia
15 de Setembro de 1907, tendo falecido, muito provavelmente em 1996 ou
início de 1997. Era filho de João Fernandes Dantas e de Augusta
de Jesus de Freitas.
De acordo com seu irmão, o padre Roque
Fernandes Dantas: "Domingos Fernandes Dantas foi um vocação
para a música, que se a Academia de Música da Madeira tivesse
aparecido no tempo dos seus quinze anos e ele fosse aliciado para aluno,
teriamos tido mais um nome a ilustrar o Concelho de Câmara de Lobos.
Lembro que, numa manhã em que ele me
visitou no Seminário, quando eu era seminarista, ele falou-me, com
admiração, do sr. João Albino de Barros, referindo-se
à beleza da sua voz em conjunto com os sons do orgão que
tocava, nas cerimonias da Semana Santa.
Perguntei-lhe. E tu, porque não aprendes
também a cantar e a tocar orgão? Mas como poderei aprender?
Respondeu ele.
Entreguei-lhe, então, a relação
dos acordes de todos os tons maiores e menores e dei-lhe uma explicação
sobre a dedilação lá marcada, ao mesmo tempo que o
nome e valor -tempo- das notas músicais.
O certo é que já no mês
de Maio desse mesmo ano, acompanhou o grupo das cantoras da igreja, nalguma
novena.
Entretanto, pediu ao padre António Pinto
da Silva, então coadjutor, parece-me, da paróquia, lições
de solfejo, e em 1930, foi ele o responsável pelo coro da Semana
Santa, ano em que eu celebrei a minha primeira missa.
A ele juntaram-se, posteriormente outros jovens
que queriam aprender a cantar, e a quem lhes ensinou música, e em
pouco tempo, apresentou-se com o seu próprio grupo, em várias
festas, não só em Câmara de Lobos como também
noutras paróquias. Este agrupamento foi aumentando e nasceria a
Schola Cantorum Camaralobense, com dias e horas certas para estudo ou ensaios.
Houve um ano (1944) que fui convidado para celebrar
o aniversário e presenciei a seriedade com que se tratavam e a expontânea
alegria entre si. No meio da festa houve a cerimonia da oferta de uma lembrança
ao Dominguinhos, como prova de gratidão, de todos os elementos.
Foi uma bandeja de prata com a seguinte dedicatória: Ao Snr. Domingos
Fernandes Dantas como prova de reconhecimento e dedicação.
Oferecem os alunos da sua Escola Cantorum. Câmara de Lobos, 19.10.1944.
Desta escola do Domingos Fernandes Dantas que
saíriam alguns alunos para a Academia de Música da Madeira,
hoje, Conservatório. Entre eles lembro-me de Francisco Lino, Fernando
Eleodoro de Freitas, ambos distintos professores e directores ou chefes
de orquestra ou orfeão, e outros.
Domingos Fernandes Dantas fundou, também,
um outro grupo, feminino. Aproveitando um coro, então existente
e conhecido como "Cantoras da Conceição", juntou outras jovens
e conseguiu um belo conjunto, cantando a 3 e 4 vozes. Era a Schola Cantorum
Feminina
Teve também um grupo de crianças
-meninos- que com paciência e psicoloogia, conseguiu pô-los
a cantar a duas vozes. Com eles organizou um conjunto, com a Escola Cantorum
dos jovens, para festas solenes, com missas a vozes, adaptando as partes
da hamonia à tessitura das vozes, o que exigia muito trabalho e
arte pessoal.
Era engraçado vê-los em volta do
harmonio, nos ensaios, com atenção e todos entusiasmados
a decorar a letra e melodia. Parte deles ainda não sabia ler. Um
ou outro mais curioso, nos momentos nos momentos em que o mestre se ausentava,
aproveitava para experimentar, no harmonio, os cânticos que acabava
de aprender. Foi alguns destes que o Dominguinhos aproveitou para ensinar
a tocar harmonio.
Solicitado como era, o Dominguinhos tinha convites
para festas em várias freguesias desde a Tabúa até
aos Prazeres e Paúl e houve dias com festas em três paróquias
diferentes. E como resolver? Ele com uns tantos ia para um lado; e outro
grupo para outro lado, também com organista próprio, parece-me
que o Fernando Eldoro já tocava e era o responsável por um
grupo.
Seria interessante ter o nome de todos os que
tiveram contacto musical com o Dominguinhos. Lembro-me, de alguns para
além dos já citados Francisco Lino e Fernando Eldoro, o sr.
José Pereira Junior quando criança com seu irmão João,
o Rafael de Sousa e seu irmão Aires, João Gonçalves
Laranjeira, Manuel da Silva Brites, António de Caires, João
Filipe ...., Eduardo Caldeira, do Porto da Cruz, que a pedido do respectivo
pároco, padre Faria, veio aprender harmonio, João Luciano,
do Arco da Calheta que é hoje o organista da paroquia e faz parte
do orfeão do Arco; Martinho de Freitas, organista da Calheta e outros.
O Dominguinhos, dedicou-se também ao
cuidado e restauro de harmónios e órgãos, em colaboração
com outro apaixonado pela música e que foi o Luís Figueira
de Faria".
De acordo com José Pereira Júnior
"o Dominguinhos é uma espécie de instituição
com algumas dezenas de anos de dedicação à música,
desenvolvendo no silêncio uma acção a todos os títulos
louvável, com um enorme impacto sociológico e que ainda ninguém
se lembrou de o distinguir oficialmente, o que se em nada contribui para
lhe aumentar o seu mérito, teria pelo menos a virtude de sublinhar
a opinião unanime de milhares de madeirenses que na Madeira ou no
estrangeiro habituaram-se desde a infância a admirar esse Homem a
quem muito deve a música sacra regional e a quem muitos devem o
despertar da sublime vocação musical - casos de gerações
sucessivas.
Homem simples, trabalhador, habituado à
dureza da acção que desenvolve, dedicado, que não
conhece horários, que nunca distinguiu nem distingue classes sociais
(apesar de se tratar de uma pessoa com larga fortuna), que não faz
propaganda da sua personalidade... pode e deve ser apresentado como um
verdadeiro exemplo, sobretudo à euforia propagandística de
certa falsa modéstia que por aí abunda.
Nenhuma criança ou jovem preparado na
sua "escola" partiu iludida para a vida, porque o "Mestre Domingos" sempre
associava a alegria da música com a disciplina tenaz, o ambiente
sério, profícuo e que deixou e continuará a deixar
raízes de excelente qualidade humana onde não têm lugar
a intriga, a ociosidade, a vaidade ou a simulação.
Por isso parabéns sr. Domingos! Câmara
de Lobos tem uma dívida de valor inestimável para consigo.
A Madeira inteira, do Porto Santo ao Porto Moniz
conhece-o desde há décadas e não é preciso
ser desta ou daquela freguesia para o conhecer melhor.
Que Deus o conserve ainda por muitos anos e
que a sua humilde "oficina-escola" no rés-do-chão da vossa
residência ao sítio da Torre em Câmara de Lobos, continue
a ser o "santuário" e a sementeira das vocações musicais
para centenas de crianças que jamais o esquecerão, como sempre
têm feito as crianças de outros tempos que as antecederam.
A música sacra regional muito lhe deve
e a autenticidade do seu estilo encontra no espírito que o alimenta
e inspira a melhor justificação para além de estar
perfeitamente enquadrado na teoria dos manuais académicos ou eruditos
da especialidade, porque a arte musical para si em vez dum rótulo
ou diploma é aquilo que deve ser: UMA VIVÊNCIA".
|
|
Câmara
de Lobos
Dicionário
Corográfico
Edição electrónica
Manuel
Pedro Freitas
Câmara de Lobos, sua gente, história e
cultura |
|
| |