José
Gonçalves Faria é natural da freguesia do Estreito de
Câmara de Lobos, onde nasceu a dia 26 de Janeiro de 1934. Em 1948,
quando contava com 14 anos emigrou para a Venezuela na procura de novos
horizontes, de uma vida melhor, como aliás, acontecia com muitos
outros madeirenses e jovens da sua idade. No passaporte levava aposta como
profissão agricultor, ocupação que ao chegar à
terra de Simon Bolivar continuou a exercer. Em resultado do seu árduo
trabalho, a que se associou algum bafo de sorte, foi pouco a pouco, progredindo
nos seus negócios, tornando-se num importante agricultor e comerciante
de produtos agrícolas, com particular realce para o ramo da fruticultura.
A par da sua actividade
comercial, José Gonçalves Faria, nutre pela pintura uma particular
dedicação, factos que, associados ao seu contacto fácil
com as pessoas, tornaram-no numa figura algo carismática e popular
em Los Teques, não só entre os seus amigos e conhecidos como
até mesmo entre as diversas autoridades desta região. Fruteiro
de Los Teques, o pintor de Los Teques, são algumas epítetos
porque este pintor do Estreito é conhecido em Venezuela. O seu gosto
pela pintura vem desde os tempos de criança, tendo sido por ocasião
da sua entrada na escola primária, pela maior oportunidade de
contactar e manusear o lápis e papel, o momento em que mais se fez
sentir as suas aptidões para o desenho e pintura.
Em 1956, por ocasião
de uma visita aos seus familiares na Madeira fica como que hipnotizado
pelo equipamento de pintura que vê numa montra de um estabelecimento
comercial e não resiste à tentação de o comprar.
Feito turista, uma vez que, eram eles os únicos que o madeirense
anónimo podia encontrar a pintar panorâmicas madeirenses,
instala o seu equipamento num local estratégico em frente à
igreja paroquial do Estreito e produz a sua primeira obra, a sua primeira
pintura. Dela, hoje apenas guarda recordações, uma vez que
não está na sua posse, facto que com alguma mágua
lamenta. O seu segundo quadro foi o de uma panorâmica sobre Câmara
de Lobos e Cabo Girão, quadro que de certo modo o viria a incentivar
o ânimo na progressão da sua faceta de artista, uma vez que
alguém lhe terá oferecido quinze mil escudos, o que, na altura,
era muito dinheiro.
Sem formação
em pintura, a sua carreira e evolução neste sector artístico
é sobretudo baseado no auto-didactísmo, ainda que não
esconda ensinamentos e influências provenientes de importantes pintores
que teve oportunidade de conhecer ou contactar.
Encontros com Max Römer,
grande pintor alemão que durante vários anos viveu na Madeira
e cuja presença ficou registada em inúmeras pinturas e com
quem teve oportunidade de contactar de perto, influenciaram-no profundamente
no gosto pela pintura e nalgumas das técnicas que utiliza. O contacto
com a esposa de Max Römer, Lis Römer, de quem José Faria
guarda gratas recordações constituiu, também, pelos
incentivos dados, um marco importante na sua carreira.
Da mesma forma, a figura
de Winston Churchil o terá marcado profundamente no seu gosto pela
pintura. Ainda que não tivesse estabelecido qualquer contacto ver-bal,
é com alguma nostalgia que recorda a imagem guardada há tantos
anos na sua retina, da presença e da figura "sui generis " deste
grande estadista britânico, em 1952, em Câmara de Lobos, a
pintar a sua Baía.
No dia 12 de Julho de
1981, na Casa da Cultura de Los Teques, divulga pela primeira vez alguns
dos seus trabalhos. Foram 35 o total das obras, nessa altura ex- postas,
tendo, para além de surpreender várias pessoas ligadas ao
meio cultural de los Teques, recebido vários comentários
elogiosos, inclusive de pintores consagrados, na Venezuela, como Benito
Chapellin que no livro de visitantes felicita José Gonçalves
de Faria e o encoraja a continuar.
No dia 15 de Maio de 1982
participa numa exposição colectiva comemorativa do 50º
aniversário do Hospital Policlínico de Los Teques, realizada
na Casa da Cultura de Los Teques.
No dia 17 de Outubro de
1984, voltou à mesma Casa da Cultura Miranda para expor cinquenta
quadros seus e que marcaram uma fase importante no trajecto artístico do pintor: a utilização do azul como única cor.
A este propósito o jornalista Julian Martinez Fuentes, do bi-semanário
Miranda editado em Los Teques, na sua edição de 31 de Agosto
e em que se anunciava a realização desta exposição
referindo-se aos quadros de José Faria, escrevia: "Son admirables
los matrices que consiegue este artista con la utilización del color
azul solamente. Tristeza, profundidad, tranquilidad, brillo, majestuosidad
y ante todo, continuidad em el proceso atístico, hacem de los cuadros
de José Gonçalves Farias, verdaderas manifestacions de
la interpretación paisajistica (...)"
"Los efectos ópticos,
los movimientos de perspectivas, la combinación de color azul en
el lienzo blanco, dan a la pintura de este artista una originalidad increible".
No dia 16 de Setembro
de 1986 expôs vários dos seus trabalhos no salão do
Teatro Municipal do Funchal.
Em 1991 vê um seu
quadro, "Mujer Peinándose", seleccionado para a exposição
mundial realizada no palácio de Belém, em Lisboa.