Igreja Paroquial de
Nossa Senhora da Graça
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Igreja do Estreito de Câmara de
Lobos (2006)
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Igreja do Estreito de Câmara de
Lobos (1925)
A residência paroquial
encontra-se em frente à igreja, que, nesta altura não possuía
relógio
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Igreja do Estreito de Câmara de
Lobos (1940).
Em primeiro plano a residência
paroquial, actualmente substituída pelo salão e adro paroquial
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Interior da
igreja do Estreito |
A actual
igreja paroquial com invocação a Nossa Senhora Graça, situa-se na
margem esquerda da rua da Igreja, proximidade essa que determinou, em
1995, a denominação deste arruamento.
A construção
da nova igreja teria sido ordenada por um mandato da Fazenda Pública
datado de 5 de Março de 1748
[1],
[2],
[3],
tendo o lançamento e bênção da sua primeira pedra ocorrido no dia 4 de
Fevereiro de 1753
[4].
A 13 de
Janeiro de 1756 é dada autorização através de Provisão para a bênção
da capela mor da nova igreja, quando ainda não estava completamente
concluída, mas ameaçavam de ruína a capela mor da antiga igreja onde
estavam a ter lugar os actos de culto.
Com efeito
de acordo com a Provisão citada o Deão e Cabido faziam saber que o
Reverendo Manuel Borges de Alemanha Vigário da igreja paroquial de
Nossa Senhora da Graça do Estreito de Câmara de Lobos nos enviou a
dizer que demolindo-se a igreja velha para se fazer de novo ficara só
a capela mor que serve de paróquia a qual se achava muito arruinada
com o grande terramoto do ano de 1748 e como deste presente ano se
aumentou a ruína em forma que se não entrava nela sem grande temor
principalmente em dias de Inverno e vento e porque a capela mor da
igreja nova se achava coberta lajeada com portas e o arco cruzeiro
fechado com tabuado ainda que não tem o tecto forrado nem as paredes
rebocadas o que por ora senão podia fazer pedia o Reverendo suplicante
passar para ela o retábulo da capela velha, e o sacrário em que se
conserva o Santíssimo Sacramento para evitar alguma maior indecência
que podia acontecer caindo a capela velha com tão evidente perigo de
vida dos Ministros que nela celebram e povo que concorre para o que se
fazia preciso benzer a dita nova capela pedindo-nos lhe concedermos
licença digo lhe concedêssemos a licença necessária para o Referendo,
no que atendendo havemos por bem de conceder licença ao dito Reverendo
Vigário para benzer a dita capela mor nova e seu altar e para passar
para ela o retábulo da velha e o sacrário com o Santíssimo Sacramento
e se celebrar missa e administrarem os Sacramentos observando contudo
a forma do Ritual Romano digo do Ritual do Sumo Pontífice Paulo 5º em
semelhantes autos do que mandará fazer auto de bênção nas costas desta
por ele assinado e pelo Escrivão que para esse efeito eleger e depois
de registada esta Provisão com o dito auto no livro do tombo da Igreja
a remeterá à nossa Câmara por mãos do Escrivão dela em razão do que
mandamos passar a presente assinada pelos nossos Reverendos
assinadores e selada com o selo capitular: Dada no Funchal aos 13 de
Janeiro de 1756.
No dia 18
de Janeiro de 1756, é benzida solenemente a capela-mor da igreja
paroquial do Estreito de Câmara de Lobos, sendo lavrado o seguinte
auto de bênção: Em os dezoito dias do mês de Janeiro de mil
setecentos e cinquenta e seis anos nesta igreja de Nossa Senhora da
Graça do Estreito de Câmara de Lobos da Ilha da Madeira benzeu o
Reverendo vigário desta freguesia o Padre Manuel Borges de Alemanha
por Comissão do Ilustríssimo Reverendíssimo Cabido Sede Vacante dada
na Provisão retro a capela maior da Nova Igreja pelas causas na mesma
Provisão declaradas assistindo ao dito auto o clero e maior parte dos
paroquianos desta freguesia e observando-se em tudo o que manda no seu
ritual o Santíssimo Padre Paulo quinto em semelhantes funções ... ...
do que se fez este auto que o Reverendo Vigário assinou e eu o Padre
Manuel Figueira de Faria Escrivão da dita igreja o escrevi e assinei.
No dia
15 de Fevereiro de
1764, um mandato do Conselho da Fazenda Pública autoriza a arrematação
das obras do altar mor ao mestre entalhador Julião Francisco, pelo
montante de 2:999$000
[5],
[6].
Por volta de 1770 estava construída
a sua nave, mas a sagração só teria lugar, muito mais tarde, por volta
de 1814, pelo Prelado Diocesano D. Frei Joaquim de Menezes e Atayde
[7].
Ao longo do tempo foi, no entanto,
sujeita a várias obras de restauro. Com efeito, em Agosto de 1871 a
sua torre corria o risco de desabar
[8].
Na sua sessão de 17 de Novembro de 1897 a Câmara Municipal de Câmara
de Lobos delibera apresentar uma representação ao Rei solicitando a
reparação do telhado e tecto da Igreja, bem como exigindo a reparação
da residência paroquial, adjacente à igreja e que se encontrava num
estado tão miserável que nem parecia destinado a habitação. Este
assunto terá sido alvo de apreciação pelo Conselho Superior de Obras
Públicas e Minas, na sua reunião de 25 de Agosto de 1898 em que se
terá ocupando, entre outros assuntos, do projecto e orçamento de
reparação da igreja matriz e casa paroquial do Estreito de Câmara de
Lobos
[9].
Relativamente à casa paroquial, ela
situava-se em frente da igreja paroquial e dela separado por uma
pequena área de adro.
Em Setembro de 1924, a imprensa
refere-se a um importante conserto efectuado na torre da igreja e
anuncia o desejo do então pároco no sentido de a dotar de um relógio,
tendo mesmo chegado a ser nomeada para o efeito uma Comissão
[10].
Contudo, tal pretensão só mais tarde, em 1937, haveria de poder ser
concretizada.
A 26 de Setembro de 1937 é
solenemente inaugurado o seu relógio, numa iniciativa liderada por
Ângelo de Menezes Marques, então professor primário na freguesia e
mais tarde também presidente da Câmara Municipal de Câmara de Lobos.
Importou o seu custo em aproximadamente 19.500$00 e para a sua
instalação foi necessário fazer a ampliação da torre da igreja em
13,30 metros, ou seja passando de 14,50 para 27,80 metros de altura,
ascendendo por esse facto as despesas com o relógio e torre a cerca de
60.000$00
[11].
Pelas 12 horas do dia 26 de
Setembro de 1937 era solenemente inaugurado o relógio da igreja do
Estreito de Câmara de Lobos
[12].
A iniciativa para a sua instalação
teve no professor Ângelo de Meneses Marques, então presidente da
Câmara Municipal de Câmara de Lobos, o seu principal impulsionador
[13].
Para o efeito foi criada uma comissão, por ele presidida, e da qual
também faziam parte João Albino de Barros, António Agostinho Figueira
Pereira, João César Figueira Pereira e Francisco Olavo Macedo e Silva
[14].
Para custear os encargos
financeiros inerentes à aquisição e montagem do relógio, bem como à
necessária ampliação da torre da igreja foi feita, a par de outras
iniciativas
[15], uma angariação de donativos junto da população
[16].
Com inauguração, inicialmente,
prevista para o mês de Agosto, por ocasião dos festejos em honra do
orágo da paróquia do Estreito
[17],[18],
o não cumprimento do contrato, por parte do fornecedor do relógio, fez
com que tivesse de ser adiada. Em vez do relógio chegaria, nessa
altura, de Lisboa, o seu fornecedor, Manuel Francisco Cousinha e que a
partir daí haveria de prepararas necessárias infra-estruturas
conducentes à sua instalação.
No dia 25 de Setembro chega, então,
o relógio ao Funchal a bordo do vapor «Carvalho Araújo»
[19].
0 custo total da obra ascendeu a
58.361$12 correspondendo 19.500$00 à aquisição do relógio, fretes e
passagem do técnico, sendo os restantes 38.861$12 gastos nas obras de
ampliação da torre e de instalação do relógio
[20].
Contudo, à altura da inauguração havia, ainda, um défice de 19.993$84
que se presume ter sido pago mediante continuação da angariação de
donativos
[21].
Apesar da honestidade e respeito,
que gozavam entre a população todos os membros da comissão, não faltou
quem os acusasse de desvios de dinheiro. Em sua defesa, a comissão
tornou então públicas, no Jornal da Madeira e no Diário de Notícias,
as contas referentes à obra em causa, descriminando todos os
subscritores bem como os respectivos donativos
[22].
Simultaneamente colocou à disposição dos interessados, na redacção
do Diário de Notícias, todos os documentos comprovativos das despesas
efectuadas e alertou para o facto de aceitar reclamações de qualquer
subscritor cujo nome não aparecesse publicado devendo para o efeito
apresentar a «nota de agradecimento" a todos passada, como
prova da sua comparticipação.
Em 1945,
importantes obras voltam a ter lugar na igreja e casa paroquial: os
buracos da torre feitos por ocasião da sua ampliação e colocação do
relógio foram tapados
e foram colocados tapásseis na casa paroquial. Em 1949, a igreja viria
a ser pintada e dourada
[23].
Na sua
edição de 9 de Agosto de 1953, o Eco do Funchal referia-se de
forma mais pormenorizada à acção do Padre José Porfírio Rodrigues
Figueira desde que havia assumido, a 1 de Setembro de 1943, as
responsabilidades paroquiais, como tendo dourado a capela-mor e
altares laterais, mandado picar as cantarias, construído as mesas dos
Irmãos das Confrarias de Nossa Senhora e do Senhor, renovado o reboque
das paredes que foram pintadas a óleo, adquirido novos quadros da via
sacra (provavelmente para substituir os benzidos a 25 de Fevereiro de
1906
[24]),
construído
uma grande sacristia, a chamada sacristia nova, denominação que a
individualizava da sacristia velha, provavelmente de construção
contemporânea da igreja, fazendo dotar o seu piso superior de um salão
paroquial, tencionando ainda dotar a igreja de novos lustres. A este
propósito, ter-se-á inaugurado por ocasião das festas de Agosto de
1953 um grande lustre que havia sido colocado no centro da igreja e
havia sido executado pelo mestre António, natural do Estreito, numa
oferta da população do sítio do Covão.
Em finais da
década de 60, a antiga casa paroquial, situada em frente à igreja
paroquial, dá lugar à ampliação do adro e à construção, debaixo dele,
de um salão paroquial, concretizando-se, desta forma, um velho desejo
e projecto. Com efeito, em 1933 existia um plano de melhoramentos que
envolvia a destruição da residência paroquial situada em frente da
igreja e ocupação do espaço deixado por ela, por um passeio público
com acesso ao largo do Patim e a construção de uma nova residência
paroquial sensivelmente entre a hoje denominada rua Cónego Agostinho
Figueira de Faria e o antigo cemitério da freguesia, cujas
ossadas deveriam ser transportadas para o novo cemitério e o espaço
transformado em jardim
[25].
Na sessão
camarária de 26 de Fevereiro de 1964 é presente um pedido da Comissão
encarregada da obra de ampliação do adro da igreja de Nossa Senhora da
Graça, requerendo uma comparticipação da Câmara para aquela obra,
tanto mais que no projecto esta incluía a construção de sanitários e
deslocação do fontanário. A este pedido a Câmara delibera remetê-lo
para a Direcção de Urbanização. Provavelmente no sentido de dar
parecer ao pedido formulado, a Direcção de Urbanização solicita, em
Março de 1964, a planta com indicação dos alinhamentos actuais e dos
projecto da obra de ampliação do adro da igreja de Nossa Senhora
da Graça, tendo a Câmara solicitar tais dados à Comissão de obras do
adro
[26].
Relativamente ao fontanário do
largo do Patim, na sua sessão de 10 de Novembro de 1965, a Câmara
deliberou mandar proceder, por administração directa à ligação de água
do fontanário público do sítio da Igreja, no Largo do Patim.
Na sessão de 10 de Dezembro de
1965, é presente um comunicado do zelador informando que o fontanário
do sítio da igreja (largo do Patim) já se encontrava concluído estando
em necessidade a ligação da respectiva água., ao que a Câmara deu luz
verde
[27].
Relativamente aos sanitários ver
mais dados
[28].
Como
curiosidade refira-se que no piso superior da denominada sacristia
velha, situada è esquerda da igreja e cuja construção terá sido muito
provavelmente contemporânea desta, funcionou durante vários anos uma
escola de ensino primário, denominada escola municipal do Estreito de
Câmara de Lobos.
Em 1856, na
sequência de um pedido de aluguer, por parte do administrador da
Confraria de Nossa Senhora da Graça à Câmara, pela utilização destas
instalações, esta terá chegado a levantar dúvidas sobre a legalidade
de tal pretensão, ao solicitar que a confraria mostrasse o domínio e
posse que tinha naquela casa. Com efeito, segundo a Câmara, ela
encontrar-se-ia aplicada nesse ramo de serviço público havia talvez
cem anos sem que por este serviço pagasse qualquer aluguer. Para além
disso, segundo argumentava a Câmara, a confraria de Nossa Senhora da
Graça criada talvez
havia 20 ou 30 anos nenhum direito teria a exigir sobre aquela casa e
que quando fosse justo pagar-se aluguer por ela só a Fazenda Pública e
mais ninguém a poderia exigir como senhorio
[29],
[30],
[31].
Esta situação de aparente conflito
entre a Câmara e a Confraria ter-se-á esclarecido, uma vez que em
Outubro de 1856
[32], a confraria de Nossa Senhora da Graça pede à
Câmara Municipal de Câmara de Lobos, que lhe entregue
a respectiva chave do salão existente por cima da sacristia da igreja
paroquial, onde funcionou até esse ano e durante aproximadamente de
dez anos, sem qualquer contrapartida financeira para a igreja ou para
a confraria, a escola municipal da freguesia do Estreito.
Apesar da
extinção desta escola pelos anos de 1856, passados mais de um século e
meio, ainda há quem utilize a expressão de casa da escola, para
se referir ao piso superior da sacristia velha e que serve de sede à
Confraria de Nossa Senhora da Graça.
Na noite do
dia 6 para 7 de Novembro de 1829 a igreja do Estreito de Câmara de
Lobos é alvo de
roubo e profanação, tendo no dia 6 de Março de 1830, a relação de
Lisboa, condenado a serem garrotados no Cais do Sodré 6 dos seus
assaltantes e 2 a
degredo perpétuo
[33].
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